terça-feira, setembro 29, 2009

Prémio vale a pena ficar de olho nesse blog



Da Solinho, Dona e Senhora do Blog Branco no Branco recebi este prémio com um sorriso carinhoso :)

Quase a ir de férias, adiei a passagem do "olhar", a que hoje me dedico.

Como já devem calcular, não consigo escolher apenas 10 blogs, uma vez que estou de olho, mais ou menos atento e sempre conforme a disponibilidade, em todos os blogs da minha lista de links.

Assim, desde o ...E, já agora... à Árvore das Palavras, sintam-se e considerem-se todos, sob o meu olhar (que por acaso não é azul ), e ofertados com mais este selo que aqui deixo, pronto a ser levado e usado, segundo a criatividade de cada um.

Obrigada Solinho, obrigada Bloggers que me são olhos e olhares.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Ela queria conhecer os quatro cantos do mundo.
Mas talvez dois lhe chegassem...


quarta-feira, setembro 23, 2009

Cheguei....!
Tantos abraços para retribuir! :)
Até já...!




Traz-se pela mão, a mala de viagem.

Sobe-se as escadas, introduz-se uma chave e entra-se.

A casa, sossegada e a meia luz, saúda-nos ou somos nós que a saudamos, porque é a nossa casa, o nosso sitio, onde guardamos os objectos que falam de nós, mais do que alguma vez, falamos deles aos outros.

Demora-se 5 minutos a organizar as roupas.

Em 2 minutos, arrumamos as havaianas e o outro par de ténis.

E de repente, vem-nos à lembrança, as dezenas de vezes que chegámos de férias e demorámos pelo menos três dias a ver tudo de novo organizado. A bagunça das míudas. Os korn no quarto delas a quebrar o jejum de três semanas. A areia a escorregar dos bolsos dos calções para o chão da cozinha. Uma que grita, mãe preciso das calças de ganga azuis clarinhas para amanhã. Ela, sózinha na cozinha, divide por cores as roupas. O cão vem por trás e rouba-lhe uma meia. No lava louça os bifes do jantar começam a descongelar.

Não há volta a dar: as miúdas cresceram e foram fazer bagunça para outra freguesia.

A ela, como a qualquer cegonha que ensinou a voar, resta-lhe agora um ninho, arrumadinho.

Mas, ainda se sente espantada, quando abre a porta e demora apenas 15 minutos, a arrumar uma semana de vida...

sexta-feira, setembro 11, 2009


Estou no ir, mais coisa menos coisa.

( entretanto espero que o animal não me derrube ;) )

Sejam felizes, mesmo que não o saibam.





quarta-feira, setembro 09, 2009


Ela tinha olhos verdes e trabalhava num edificio baixo da 24 Julho. Ele tinha olhos azuis e trabalhava num edificio alto da Praça D.Luís. Conheceram-se no liceu, ambos alunos nocturnos de um secundário que não tinham tido tempo de concluir de dia.
Ela com os cabelos pelos ombros e ele também.
Ela vinha de um longo luto pela morte do pai, responsabilizada pela vida da mãe.
Ele reclamava da atenção mimada que davam ao irmão, dez anos mais novo.
Foi rápido o convivio entre ambos, oriundos da mesma parte da cidade e com destino ao fim do dia, para o mesmo liceu. Pelo caminho, ele contava-lhe histórias das viagens dos navios que aportavam no cais. Pelo caminho, ela sonhava com esse mar imenso que um dia queria atravessar, longe dos cheques, das garantias bancárias, das letras e das cauções, com que as suas histórias diárias se fabricavam.
Ao fim de três meses deram as mãos, ainda timidos, quase temerosos, da descoberta do amor.
Ele cortou o cabelo. Ela passou a olhar para o espelho mais atenta.
Ele escrevia-lhe postais a cada dia 25 de cada mês, celebrando a noite em que durante o voando sobre um ninho de cucos, deram o primeiro beijo.
Ela escrevia poemas e fazia-lhe desenhos.
Ele passou a ir de férias com ela, dividindo e partilhando a mãe.
Ela passou a ir todos os sábados à tarde a casa dele, quando mais ninguém lá estava.
Ele era parte da familia dela. Ela achava-se parte da familia dele.
Quando se casaram, não sentiram esse dia como uma mudança radical nas suas vidas.
O namoro tinha-se tornado um contratempo, nos seus afazeres diários.
Ele fazia muitos serões, vendo os navios entrarem e saírem.
Ela cozinhava para ele e para a mãe, depois de concluído o trabalho.
Talvez por isso, quando engravidou, ao fim de poucos meses, enjoou a comida.
Dois anos seguidos, enquanto os navios chegavam e partiam, ela criava em si, as amarras
à vida.
Ele já não lhe escrevia postais. Ela deixou os poemas e escrevia em cadernos de capas alegres, diários de bordo, para as filhas, partilhando com elas, mulheres feitas no futuro, os pensamentos da menina que ainda sentia em si. Foram-se afastando sem darem conta, ela crescendo em direcção ao mar, ele crescendo em direcção a terra.
Quando se separaram, as filhas não notaram grande diferença nos hábitos diários, habituadas que estavam a não o ver. Estranharam -apenas???-os fins de semana, de quinze em quinze sem a mãe. Ele voltou-se a casar e ela também. Ele teve outro filho. Ela teve animais que as filhas curtiam. No casamento da filha mais velha, partilhando a mesa, ela apercebeu-se do pouco à vontade que ele estava, como se fossem pessoas de planetas diferentes.
No casamento da filha mais nova, ela falou-lhe do café do bairro dele, onde jogavam flippers.
Ele não sabia que café era. Ela perguntou-lhe pelos amigos que um dia, tinham sido comuns.
Ele sabia vagamente deles. Ela notava-lhe a gravata apertada, tão apertada, que pensou que ele ia sufocar à próxima pergunta. Teve vontade de pedir uma fotografia com ele. Teve vontade de pedir uma fotografia com a mulher, que mais que ele, cuidou das suas filhas durante os fins de semana de 15 em 15 dias. Não o fez. Adiou. Em contrapartida, pôs-lhes as mãos nos ombros e disse-lhe afávelmente, irreverentemente, a maior barbaridade de sempre, já podes descansar, tens as filhas casadas.
Ele encolheu os ombros, a mulher dele, sorriu, percebendo.
Tem a certeza que ele já não se lembra de ter usado o cabelo pelos ombros, de supertramp e das amêijoas, nos furos das aulas. Tem a certeza que ele já não se lembra como se ria, quando subiam no elevador da Bica, contagiado pelo riso dela, que lhe dizia, faz-me cócegas nos pés.
Ou de ter escrito postais a cada dia 25 de cada mês.

Tem a certeza, contudo, que foi com ele que descobriu a cidade e o amor.





Embora hoje, não perceba como, porquê.