sábado, fevereiro 20, 2010

Ilusão ou chocolate? é a pergunta que me assalta à noite, quando os adormecidos sonhos de uma diferente realidade sucumbem à certeza do corpo finito e do gesto limitado. Revestem-se de ilusão - na expectativa do tempo - até os corpos de candidatos a uma qualquer presidência. Não ficamos indiferentes, projectamos neles as nossas esperanças. Reveste-se de ilusão - utópica do sentir- a música que nos espanta, acabada de descobrir. Revestem-se de ilusão os rostos que se cruzam connosco, personagens quixotescas, nas redes sociais. Ilusão, digo bem. Parece existir uma maior empatia antes do conhecer. Depois, rápidamente, se evaporam no nevoeiro. Era ilusão o que os movia?Ficam os que, sábios -desiludidos?- não a buscam nem a procuram e nos vão encantando nas empatias reais do ser humano em descoberta.
Vivemos de pequenas a grandes ilusões.
A ilusão de um número. A ilusão de uma imagem. A ilusão de um status. A ilusão de uma viagem. A ilusão de uma cor. A ilusão. Conseguiremos viver sem ilusões? Conseguiremos sustentar a amargura de um esqueleto sem um doce, um chocolate?

Debato-me nesta questão sempre que no supermercado, com um gesto rápido e apararentemente supérfulo, ponho no carrinho das compras meia dúzia deles.

De quantas ilusões precisamos para não sucumbir ao forte peso do mundo e em situações extremas, ao tédio que a nós próprios inspiramos?



Qual o número mensal de ilusões que sustenta o nosso corpo?





Fotografia de Fernando Lemos (salvo erro, Alexandre O'Neill o retratado)

36 comentários:

Sandra disse...

Estarei a ser optimista se disser 50% Ilusões, 50% Chocolate?

;)

Vivian disse...

...a única ilusão que o
chocolate nos proporciona,
é de que ele não nos engorda...rsrs

beijinho, linda!

Justine disse...

Perguntas difíceis...mas de sonhos e ilusões lúcidas vivemos e morremos todos os dias, para recomeçarmos no dia seguinte,sempre.
E é melhor não acompanhar isso com chocolates, senão...:))

Maria disse...

O chocolate tem dias. O sonho é de todos os dias - ou noites, como queiras...
Quero eu dizer que posso viver sem chocolate, não ma faz falta, mas seria incapaz de viver sem o sonho: é ele que me alimenta.

Beijo.

bettips disse...

Obrigado pelos "sonhos" d'outro sábado!
Continuo a sonhar por dentro da nuvem mas...
quanto a ilusões, estão fora do stock por uns tempos.
Bjs

Mar Arável disse...

Na verdade relativa de as coisa

a realidade só é suportãvel

se sonhada e recriada

Quanto a ilusões

prefiro o chocolate

Bjs

Lizzie disse...

Parece que os chocolates são um medicamento para a queda de ilusão no sangue.
Vêm os valores por aí abaixo e adoçam-se os dias. Talvez seja tudo uma sofreguidão por alguma coisa que se espera e não chega ou uma que chegou mas não sacia. Ou não corresponde à ideia pré concebida de pleno alimento.

Tanto a ilusão como o chocolate, em excesso são excessivos, são doença. Fica-se em coma de acção, de lucidez, enquanto a realidade se ri.

Seria doce, o Dom Sebastião?

(perdoe-se-me a antropofagia.:))

besos

Licínia Quitério disse...

Ao ler a Lizzie, e para desconversar, lembrei-me que D. Sebastião era filho do Príncipe D. João Manuel que morreu de diabetes. Quem sabe o filho...

E quanto a ilusões e chocolates, EM PEQUENAS DOSES, fazem parte do cenário em que nos movemos, um pé no real outro no virtual, sempre em acrobacias desafiadoras da gravidade.

Beijinhos.

AnaMar (pseudónimo) disse...

Ilusão ou chocolate, numa de "Café ou laranjada"? É que eu respondo : chá. :-)

A sério, agora, sempre a sério, mesmo que a sorrir, não partilho dessa visão sobre as ilusões. Nem tão pouco sobre o chocolate, já que sou mais de salgados ;-)

Mas por vezes, tenho uma enorme vontade de chocolate, assim, como por vezes devo ter enormes ilusões, que devem ser tão boas, tão disfarçáveis, tão ILUSÓRIAS, que nem me dou conta que são ilusões.

Há quem diga, que as pessoas não nos desiludem, nós é que nos iludimos com elas. Eu acho que a maioria das vezes as pessoas nos desiludem, quando nos levam a pensar premeditadamente que são algo que nunca foram...mas que aparentam , por objectivos sempre obscuros. Essas sim, enganam, iludem quando se revelam, na realidade.

Depois h´a imagem que nós próprios criamos de alguém, na nossa cabecinha...aí, azarinho, pois ninguém nos enganou, nós iludimo-nos.

Quanto ao chocolate, é um vício. E como qualquer vício, cria dependência. Mas em certas doses faz bem.
Tudo nos faz bem em doses q.b. Com excepção de ilusões, mentiras, enganos...Estas, mesmo em doses mínimas, são mortais.

Beijo de mim

Anónimo disse...

para mim, querida amiga, as ilusões são tão importantes como as refeições :) no mínimo, três por dia. um grande beijinho*

MagyMay disse...

Muito questionas tu, Cafezinha!!!!

Só sei que...
... de chocolate, chocolate mesmo, não tenho falta nenhuma.
... das ilusões, dos meus sonhos, como de pãozinho para a boca.

Beijos

A.S. disse...

Muito reflexivo este teu belissimo texto, que nos interpela de forma incontornável.
Na verdade, caminhamos perigosamente sobre um caminho ilusório, sabendo que o caminho real está tão ao nosso alcance! Basta ser sensato. Apenas!


Abraço
AL

maré disse...

acho que temos um mecanismo

de "fugas" que doseia a coisa.

só assim se entende como

vamos ustentando a lucidez que

sobrevive aos dias

_____ beijos

Lizzie disse...

Oh Arábica, desculpa lá mas

Licínia Quitério, desconversemos pois:))

É por isso que eu imagino o D. Sebastião sentado na praia a comer desalmadamente Kinder Surpresa mais Farinha Predilecta, quando não Amparo, e sem engordar, porque já é um esqueleto, coitado, mas a imaginar-se cheio de heróica carnadura.
E também imagino os portugueses, ai, ai que sou estrangeira, todos à beira mar à espera que as ondas tragam encomendas de glória, que chovam pérolas, que se construam pela arquitectura dos peixes, os maiores centros comerciais da Europa, os maiores estádios de futebol do Mundo, os maiores sonhos do Universo. Cada grão de areia é um diamante, cada concha partida um poema rasgado de Saudade. A praia é um gigantesco coro de lamentos que D. Sebastião já não ouve por ter os ouvidos gastos. Também já não chora porque gastou as lágimas a salgar o mar.

Descupe-me mas não gosto de ilusões.E, por acaso, raramente como chocolate.
Gosto mais de ILUSÍON: mistura de sonho, entusiasmo, vontade, acção.

Mas enfim, o D. Quixote também não regulava bem da cabeça. Esse era mais por alucinação hepática. Aquilo, andava por ali cirrose...por mais que o Sancho lhe dissesse se cavalgar não beba:)

mixtu disse...

eu se me desse ao trabalho de medir as minhas ilusões.. tinha que ser com um contador diario :)

ou então tomar a medicação.. mas faz_me mal ao estômago...´
´
abrazo serrano

Rosa dos Ventos disse...

Poderíamos viver sem ilusões e sem chocolate...mas não era a mesma coisa! :-))

Abraço

pb disse...

Iludidos andamos todos, nesta sobrevivência diária em que se tornou a vida...

Um Beijo

Anónimo disse...

A ilusão não é mensuravel.

O chocolate é tão deliciosamente tangível e irresistível que só nos merece... -- Espera aí um pouco, sff, que vou ali tratar de mais uns quadradinhos de Regina! Hum! Voltei -- Íamos aonde? Ah, sim! ... Que nos merece elogios.

Saudações

Duarte disse...

... diria que infinito!

Chocolate!... Falemos de chocolate, o resto palavra vã.
Sim, pois pesam as desilusões. Razões?! Claro que podem existir, serão do conhecimento geral?! Ou dos silêncios... terríveis silêncios... nesse momento de esticar o braço até à tentação...

Beijo-te agradecido por proporcionar-me tão bela reflexão... é que gostei muito!

Val Du disse...

Arábica,

Balança equilibrada, sempre.:)


Beijos.

Rui Fernandes disse...

Quando Deus andou cá pelo mundo - o pobre Velho tinha sobressaltos de culpa, mas tudo muito asseado, muito judeu, e vinha cá consertar muitos dos disparates que fizera - passou pelos confins da terra, junto ao grande Mar Atlântico, e achou as gentes muito tristes.

Os pobres descendiam de Luso, um descendente de Noé, e portanto estavam também manchados pelo pecado original pelo lado do ADN mitocondrial. Mas verificou nos seus registos que nunca tinha sido cometido um pecado tão grave que merecesse o castigo de tanta tristeza. Era tanta que ele próprio se sentiu contagiado e chorou. E pensou para consigo: "este povo sem uma ajuda não há-de ir longe". Não estava, claro, a pensar na Europa: ainda haveria de aparecer o Império Romano, pedra sobre a qual Ele iria construir a sua Igreja.

Pensou, pensou - Ele tinha tempo para pensar e a experiência advertia-O contra as decisões precipitadas e impensadas - e concluiu que tinha que prolongar a criação por mais dois dias. Haveria de recuperar com dois dias de descanso.

No 1º dia (que era o 8º) elevou nos confins do mar um novo continente e encheu-o de águias para que os futuros habitantes apanhassem as penas para pôr na cabeça. E vendo que o continente era bom chamou-lhe o Novo Mundo.

No 2º dia (que era, portanto, o 9º) criou um paraíso para encher de homens cheios de penas e no meio do paraíso pôs uma árvore chamada a árvore do chocolate e disse-lhes: não comeis deste fruto, que é o fruto da felicidade e está reservado para um povo que vive do outro lado do mar e que é muito infeliz. Mas se algum de vocês cobiçar, mesmo que só em pensamento, o fruto da árvore da felicidade, mandarei também os vizinhos desse povo que vos hão-de exterminar, e aos vossos filhos, e aos filhos dos vossos filhos até à última geração. E, dito isto, o Divino Ancião provou o fruto da árvore da felicidade e viu que era bom.

De seguida descansou. E como era homem de negócios sonhou com fábricas de chocolate no sopé das montanhas helvéticas. E acordava de duas em duas horas para tirar uma tablette debaixo da cama. E viu que tudo era muito bom e que não fazia mal ao colesterol. E aos dois dias de descanso chamou a semana inglesa.

mdsol disse...

Tão bonito o teu texto. É isso... de quanto "chocolate" precisamos para viver?
Minha linda, lado lúdico, o que sai da realidade do diaa dia, o supérfluo ... é vital para o equilíbrio.

Beijinhos muito equilibradinhos

:))))

Teresa Durães disse...

bo, eu preciso de um número elevado de ilusões, sem elas não consigo viver. Na realidade, se não tenho uma por dia, o dia corre mal!

Laura Ferreira disse...

Ilusões, sempre. Saciam a alma e alimentam a escrita. Pelo menos a mim...

casa de passe disse...

Também nos meus pesadelos há mãos que cravam as sua unhas no meu cérebro e me devolvem coisas antigas muito dolorosas.

Ernesto, o avô

Alberto Oliveira disse...

Tenho a ilusão recorrente, que, um chocolate tem tal poder ilusório, que quanto mais chocolate ingiro mais a ilusão em mim se instala.
No que às minhas letras se refere, chegam-me dois chocolates de leite com amêndoas para me convencer que sou lido por uma centena de sujeitos afegãos. Apenas um quadrado desse mesmo chocolate, é o suficiente para me criar a ilusão que tenho cinco leitores transalpinos.
Não sei se tens muitas ou poucas ilusões. Mas se tiveres mais que uma barra de chocolate, conta comigo.

Beijos do

Legível Ilusionista.

Manuel Veiga disse...

gostei muito do texto. a dois níveis:

1 - na sua concepção formal. muito bem construído. simples e belo...

2 - na ligação da "ilusão" (diria "alienação") ao consumo - de imagens, dos rostos, das redes, do carrinho de compras...

chapeau! excelente.

beijos

M. disse...

A ilusão, seja ela qual for, mudará o pensamento porque o perturba.

augusto, um entre mil disse...

Talvez sim, precisemos da precaridade das ilusões para suportar a força perene das mutantes certezas.

MagyMay disse...

"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperançar louca"
(O'Neill)

.... Abano-te!!!! Precisam-se de mais umas quantas, Cafezinha!

~pi disse...

lembre-me de rever

o filme

do chaplin

a comer

chocolate

bem, sim, um frasco cheiinho de

quadradinhos

de toblerone nas suas

diferentes variáveis ao

mais simples leite-chocolate

lindt, nestlé

e outros belgas holandeses

suiços e suecos cujo nome

me não o co r r e :)





beijo-com-bigodes-castanhos






~

Barbara disse...

Chocolates à parte, porque são bons mesmo e têm uma substância que, como a pimenta, evita a depressão.
Eu, não tenho mais ilusão alguma - sei que não vou estar contente mesmo.
Isso não é bom mas é melhor do que viver dando murro em ponta de faca.
Vou saboreando a vida de modo lento e da des ilusão, provendo minha fantasia - esta, difere da ilusão porque sou eu que crio.
Filha que embalo.

Xana disse...

Sonhos e ilusões da mente lúcida, são essenciais para acreditar no presente, caminhando para o futuro em saltos de interrogações...

Gostei de "te" conhecer aqui!
Belo o teu espaço.

Beijinhos da vanda ;)

Alien8 disse...

Queres então dizer que vais ao supermercado e pões assim meio distraída umas três ou quatro ilusões no carrinho? :)

De quantas ilusões precisamos? Certamente de algumas. Mas há ilusões e ilusões... Bom, em tempos chamei-te "a das perguntas difíceis... - porque seria? :)

(Também percebo a Lizzie. Estou a imaginar a cara de desilusão dela quando visse à frente um prato de ilusões de gambas... ouviste, Lizzie?:)

"Nada além, nada além de uma ilusão,
Chega bem, é demais para o meu coração.
Acreditando em tudo o que o amor
Mentindo sempre diz
Eu fui vivendo assim feliz na ilusão
De ser feliz..." - canta a Bethânia.

E ainda há a ilusão da ilusão... será a realidade? Desta vez a pergunta difícil é minha.

Beijos.

jorge vicente disse...

precisamos mais de sentires do que ilusões. e sentir é tão verdadeiro!...

Unknown disse...

eu preciso de algumas bem sólidas sólidas para mim que para os outros não passarão de idiotices ou alucinações de 3ª idade::))