Vivera sentada naquela travessa o tempo suficiente para conhecer os passantes.
Uns hesitavam perante o seu semblante, não sabendo se esperaria esmola,
outros, mais afoitos, flauteavam convites,
desconhecendo o tempo dimensional que os separava,
logo nesse breve encontro de olhos:
chegavam na pressa de partir,
enquanto na espera, ela descobrira o prazer do vagar.
Outros havia, que se iam demorando nas palavras.
Falavam-lhe de tempos de porcelana, que ela apenas poderia imaginar e que no tempo de espera, desenhava numa parede abandonada, com pó de estuque, que dos afectos, sobrara.
Clandestinamente, nas sombras ocultas pela longa cortina da rua, ia construindo um mundo anónimo, dentro da sua pequena travessa.
...E quando a noite caía, improvisava esferas e traços, saltando dos peitos das casas desabitadas, na negação constante da solidão que a detinha...
Foto: a propósito da exposição de porcelanas kraak, Dinastia Ming, ali ao virar da esquina...
30 comentários:
Arábica,
Belo começo! Ali ao virar da esquina :)
Boa semana!
Um beijo.
Tão novo e tão delicioso o blog.
Irá, certamente, aqui nascer um local bem interessante da blogosfera.
http://desabafos-solitarios.blogspot.com/
Ficas linda aqui sabias? Nas cores onde nos sentimos bem. A travessa antiga breve pertence a qualquer outro mundo, tu cuida-te, porcelana rara para que nada te quebre erguida e altiva.
beijo
Venho deixar um abraço.
Querida Arabica
Todos nós sabemos o que fazemos e, mesmo assim... :)
Gosto do cheiro a café.
Um beijo
Daniel
Estes telhados de Lisboa com o Tejo ao fundo anunciam um blogue especial.
Tenho por hábito visitar imediatamente quem me visita...
Questão de cortesia...e gostei.
Esta Travessa da Espera também é uma travessia de solidão.
Normalmente esperamos sozinhos, mas isto sou eu a pensar alto!
Também adoro café e o seu cheiro forte...além das porcelanas.
Muito sucesso para o teu "Em pequenas doses".
Abraço
nasceu uma nova casa - habitar nela será sempre um prazer!!
Eduardo
um beijão terno e fraterno!
:-)
nos mundos anónimos temos a liberdade de movimentarmo-nos em todas as direcções
:))))))))))))))
V?
.
_________________________.
imf.
beijo.
.
reconhecível.
... "saber esperar é uma virtude" repetia para consigo mesmo Deonísio vezes sem conta na esperança que Deodato chegasse finalmente ao encontro que tinham aprazado para as quinze horas, quando naquele preciso momento o relógio da Ourivesaria Rubi marcava dezasseis e um minuto. Ainda foram precisos mais dez minutos para que o amigo aparecesse. "Então pá?! isto é que são horas? Já estou aqui há mais de uma hora à tua espera!!" atirou-lhe logo Deonísio. "Horas?? e o tempo e as voltas que me fizeste dar para chegar até aqui? Se não fosse eu saber como és despassarado... É que nós combinámos encontrar-nos na Rua da Esperança e isto aqui é o post da Travessa da Espera... "
beijos e sorrisos.
Muito bem escrito.
Bjs
Adorei a escrita e as imagens. Te linkarei.
obrigada pela visita e espero que volte mais e mais........
beijos
E eu que tirei precisamente uma foto a essa placa de rua! No tal dia desencontrado. E se temos amigos comuns, algo devemos ter de idêntico pensar. Que pena que nem sei quem és...
Bjinho
Venha conhecer os meus tios.
Muito obrigada pela atenção.
PS. As malaguetas estão lindas
É tudo uma questão de traduções:
Não há muito tempo, andei a vaguear por essas ruas traduzindo-lhes os nomes para uma americana fascinada. Ela ia traduzindo em linhas rápidas num caderninho olhares antigos que chegavam das janelas e das soleiras das portas. Uns desconfiados, outros habituados a linguajares longínquos e invasores.
Tu traduziste tão bem em palavras este fragmento de uma cidade que parece condenada a arrastar-se eternamente em sonhos para ocupar o tempo de espera. Como se a mulher se chamasse Lisboa. E a noite fosse um porto vagabundo.
Beijinhos
Muito obrigado por me teres motivado a vir ler-te.
Tão fluente... essa espera de quem não desespera.
Porque tu... alcançarás.
Beijo.
PS: Sem te pedir licença, és já um dos meus "blogues adourados".
Palavras de porcelana. Foi o que me ocorreu.
Gosto de beber Arabica, confortavelmente sentada no seu aroma. Por isso aqui venho.
Beijinho.
... na Travessa da Espera, espero por mais... retratos de pessoas na toponímia da cidade.
beijos e sorrisos.
A tabuleta no mesmo sítio.. Solicita-se à Câmara Municipal que proceda à alteração do nome da rua..
Beijo :)
Eu, com certeza, desesperaria nessa travessa... *
Realmente, são muitos os afetos que nada nos deixam na alma, senão um monte de pó. Belo blog, boa semana!
Eis-nos na travessa da solidão, diria eu, não fossem as palavras pequenos nadas (ainda assim tão poderosas) na arte de bem escrever em todo o blog. E não só.
Um blog que linko sem a permissão ainda.
Um beijo
Sorvendo em pequenos goles...
É difícil comentar-te, já o tentei várias vezes! Pelo outro V. que espreitava - os tais comuns interesses - era mais fácil, vá-se lá saber porquê.
Fiquemos então, na "espera" de cruzamento ou travessa que nos leve à rua principal.
Bjinho
Arabica,
Yo! :)))
Esperando o novo post, desejo um bom fim de semana.
... este blog faz jus (em parte) ao nome: "Em Pequenas Doses". Só não se entende se é bi-mensal ou anual...
Será que descobriste uma rua lisboeta de nome "São Nunca à Tarde"?
beijinhos e sorrisos.
Oooops, Vanda,
Só agora vi a tua pergunta no Experimental, bem como a letra do "Eu vim de longe" (Obrigado).
Já respondi, e enviei convites às pessoas que têm permissão para ir ao blog para que se tornem co-autoras, pelos motivos explicados no último post.
Bom domingo!
Eu acho,quase uma certeza, que já um dia atravessei essa travessa...
Abraço junto ao mar.
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