terça-feira, novembro 10, 2009

... Debato-me há anos numa questão "somos nós que escrevemos a nossa história ou será a [eventual] história escrita por outros que nos descreve? "

Enquanto não obtenho resposta nem a conclusão final chego, vou-me deliciando pela mão experimentada de Mario Vargas Llosa, "O Paraíso na Outra Esquina", que através das vidas de Gauguin e da sua avó Flora Tristán, nos faz pensar onde se encontra o paraíso: na construção de uma sociedade igualitária ou no retorno ao mundo primitivo?








46 comentários:

Fernando Esteves disse...

Será que,
"Todos nós lutamos para nos desenvencilharmos das vidas rotineiras e deploráveis e nos empenhamos para alcançar, em vida, algo parecido com o paraíso?
(Como os personagens do livro...)
Mas as realidades são, muitas vezes, "lixadas"...

"A utopia, apesar da beleza que descortina, é incapaz de excluir a dor".

“Que seria, pois, de nós, sem a ajuda do que não existe?”

[Resenha... de resenha de José Castello]

...E porque filosofar é estar a caminho:
- nós escrevemos a história que nos descreve como sendo a história escrita por outros... e vice-versa!...

?:o

MagyMay disse...

Arabica,
Digo-te que, estou convictamente numa de, "só sei que nada sei" de "procuro e não te/me encontro" ... e, não só mas também numa de "descoberta do caminho marítimo para a India".
Por isso, escreva-se a nossa história!
Seja por nós, seja através da escrita de outros, sejam ambas....

Come castanhas, hoje é Dia de S.Martinho. E está o céu azul, um Solzinho a espreitar e a temperatura amena (e eu até pareço a menina do boletim meteorológico...rs)

Rosa dos Ventos disse...

Também sofro das mesmas angústias!

Abraço

Lizzie disse...

Várias versões são sempre bem vindas.

Perigosos são os livros, ou histórias, escritas ao espelho. O espelho pode ser político, filosófico,manipulador, o que se queira.

A história do Gauguin e a forma com é tratada é exemplo disso.
Cada um vê o que quer ver.

Li a correspondência dele. Só conseguir ver uma personalidade rodeada e devorada pelos seus próprios espelhos.

Grande em talento. Mas destestaria tê-lo conhecido.

Quanto ao resto, não me pronuncio.:))nem sequer acredito no "mito do bom selvagem". Até acho que morreu no séc. XVIII.:))


PS- até o marketing pode ter efeitos perversos: entre ontem e hoje recebi 12 mails espanhóis, a publicitar o "Caim" do Saramago. Todos debruados com frases polémicas do livro ou das entrevistas.
A publicidade ao Vargas LLosa já nem leio, com não leio os folhetos às promoções do Lidl na caixa do correio.

Justine disse...

Tanto que eu gostei das "Conversas de catedral"...
Quanto às tuas questões filosóficas, amiga, bem que ficávamos aqui a discuti-las até amanhã - e tenho a certeza que não encontrávamos resposta!
Que continuem as descobertas:))

Mar Arável disse...

Tantas história por contar

e outras tantas mal contadas

Anónimo disse...

A ideia do homem e as suas contigências é um bom auxiliar para que cada um de nós, não resignando a um certo determinismo histórico, aceitemos, sem lutar, fazer da nossa vida algo que idealizámos e não deixar que ela se nos imponha, sobretudo através do nosso enfraquecimento.

A vida, será sempre, luta, contraditório, jogo, amizade, fraternidade, solidariedade, dor, prazer, entrega... o que se desejar e estiver ao nosso alcance.

É essa a nossa obrigação a partir do instante que temos consciência de nós mesmos.

pin gente disse...

encaixamo-nos em tantos recantos de tantas histórias ou serão elas que se contorcem para se abraçar a nós?
importa?!

o Reverso disse...

aqui nos deixaste uma equação a duas incógnitas. mas só com duas incógnitas parece-me que não irás encontrar a solução... :)


talvez neste precioso banjo e demais sons que, não sei porquê, quase me transportaram a babel. não entrei. fiquei só às portas da cidade escutando.

eu pecador me confesso: gostei. muito.

margarida já muito desfolhada disse...

´Há tanto tempo que aqui não vinha e logo se me depara que estás com problemas. Existenciais ? Filosóficos? A vida é curta e não dá para grandes chatices nem para pensamentos muito profundos. Descoontrai e reza que rezar ajuda minto.

margarida já muito desfolhada disse...

Claro que queria dizer "ajuda muito".

Sandra disse...

Eu acredito que somos todos pequenas peças de uma enorme engrenagem. Nós contribuímos para que o caminho seja percorrido, o nosso (em primeira instância)e o dos que nos rodeiam, e ao mesmo tempo o nosso caminho é feito por nós, mas também pelos que nos rodeiam.
Penso assim que a história de cada um é escrita por várias mãos. Talvez cada um tenha além da caneta, uma borracha que dá para apagar na folha que é a nossa vida, algumas palavras e linhas. Umas vezes apagamos bem...outras nem por isso.
Mas o importante é a engrenagem não parar.
:)

Lizzie disse...

O que eu me ri, há muitos anos com Pantaleón y las visitadoras e La tía Julia e el escribidor... (não sei como se chamam em português)

ainda não havia tanto marketing, não senhora:))

Arábica disse...

Boa tarde! Ou deverei dizer boa noite? Ou bom dia, já que ainda não almocei? Vou ali ao assalto da dispensa e já volto. Abraços.

MagyMay disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MagyMay disse...

Cafezinha,

Correu bem?

Pensa só, vão-se os rolinhos brancos fininhos que entopem os poros e volta lisinha e brilhante, qual anúncio nívea, aquela pele dos tais dos quinze anos.
Convenci-te? Talvez um nim...rsrs

Beijo... Força!

Arábica disse...

Fred,

que seria de nós sem a descoberta? sem a vontade de ir mais longe, saber mais?É quase sempre nos novos elementos que vamos inserindo nas rotinas lixadas que encontramos oxigénio para as cumprir. Mesmo nas vidas que não são deploráveis há sempre uma tensão que procura mais.
Insatisfeitos, buscamos sempre novas estradas...

...afinal para cada um de nós haverá sempre a necessidade de criar um paraíso diferente.


E assim se vão escrevendo histórias, entre esquinas.

Beijinhos filotópicos :))

Arábica disse...

MagyMay

caminho maritimo para a India? isso é tanto mar! que te poderei eu dizer de faróis e bóias de sinalização? Sei que dificilmente alguém consegue atravessar sozinho o oceano. Parece-me feito com riscos calculados de naufrágio.

Da prova de ontem, sustive 2 frases: não me parece frágil.
Noto aqui uma leve, muito leve bronquite tabagica que a insere no grupo b de risco.
Primeiro a inspiração e depois a expiração, dentro do tempo de decisão. Deixar de fumar, pois...e levar a pica, pois.
O pior é que gostei do sr.doutor. :) "Tá" tudo baralhado de momento, cigarros e duvidas.

Lisinha e brilhante? :)) para isso seria preciso mais que um truque publicitário da nívea! :))
A cafézinha agradece contente a tua passagem. :))

Continuemos para as olimpiadas :)

Beijos

Arábica disse...

E já agora :)) MagyMay não valia mais a pena em troca do caminho maritimo para a india, um cruzeiro para as caraíbas? :))

Arábica disse...

E outro já agora: não comi castanhas e nem um copo de água pé bebi! Mas que S.Martinho mais vegetativo! :((

Arábica disse...

Rosa,

:)) somos almas angustiadas, pronto....

Arábica disse...

José Duarte,

que seria das histórias sem todos esses ingredientes nos rumos dos personagens e coadjuvantes?
Muito bem descrito, por ti. Obrigada.

Beijinhos

Arábica disse...

ora bolas.

desculpem mas já troquei a ordem!

Arábica disse...

Lizzie,

parece-me que não serias só tu a detestar conhece-lo.
Eu, àparte a empatia do ter nascido "com a nostalgia pelas viagens", muito pouco vejo no perfil descrito através das páginas do livro algo que me levasse a quere-lo (conhecer).
E mais, a acreditar ainda pela crónica cheia de detalhes preciosos, nem a sua avó Flora teria tido esse gosto. Afinal, reúne nele, todas as caracteristicas masculinas, todos os defeitos que Florita tanto abominava nos homens. É afinal, também, este desregatar do destino que torna a leitura ainda mais interessante.

Ai espelho meu espelho meu diz-me quem será mais importante que eu? :)

Ps- nunca recebi publicidade sobre o Vargas Llosa.

Beijos meus

Arábica disse...

Justine,

este é o post das interrogações infinitas, amiga! :)
Que não falte nos paradigmas dos temas um fiel de balança fiel! :)

Um xi coração.

Arábica disse...

Eufrázio,

parece-me bem que sim, que todos nós somos, além das histórias que escrevemos unos na mão, ainda uma série de histórias mal contadas e um mar de histórias por contar...

Novelo de fios e nós na espera por mão paciente...

Abraço.

Arábica disse...

Luisa,

às vezes importa.
Às vezes precisamos.
Às vezes gosto de ir "brincar" a tirar os nós do fio do novelo.

Beijinhos

Alberto Oliveira disse...

... uma falsa questão, na minha modesta opinião. Que quem escreve as minhas histórias sou eu e mais ninguém! Era o que faltava ehn!! Entregar as minhas histórias a historiadores charlatães que confundem gatos com cães, a terra-sena com o vermelho e o pescoço com o joelho. Deixar escrever as minhas histórias a historiadores curtos de vista que não distinguem um polícia dum artista, uma alcoviteira de uma velha gaiteira ou uma chávenha de uma cafeteira. Ter o meu legível nome nas ruas da amargura, eu que escrevo prosa tão fina e pura. Deixar aos que hão-de vir a falsa ideia, que o legível alberto era analfabeto...

Já bastam as histórias da História que se escreveram e se escrevem, e me impingiram como boas, ao longo da minha vida. Livra!

Beijos e sorrisos versejados.

Arábica disse...

Trili,

quantas mais incógnitas, haverão?

Não será a cidade ainda uma incógnita no vazio -por desconhecido- da torre?

E o banjo toca...

Ainda bem que gostaste, pecador confesso. :)

Arábica disse...

Lizzie

"desresgatar" e não desregatar, coño.

:)

Arábica disse...

Margarida ressuscitada,

é uma mistura insolúvel de questões existencio/filosóficas que utilizo muito nos transportes. Assim, poupo em revistinhas de sudoku, charadas ou sopas de letras. Faço assim, ponho os olhos na paisagem e deixo o pensamento seguir viagem...

A vida são dois dias.
Se eu rezar, serão três?
Às vezes rezo a correr, para depois, devagar, ter tempo para falar com o meu Deus...

Beijos

Arábica disse...

Margarida ainda,

o pde vicente que há mais de 20 anos baptizou as minhas filhas ficava sempre em apuros com todas as questões que eu lhe punha.
Dizie ele que eu vivia à beira do abismo, a um passo de ser uma infiel. Dizia isto a rir e eu gostava muito dele.
Imagina o que Deus deve passar com as minhas conversas...

Arábica disse...

Sandra


também me parece que assim seja.
O pior -para nós- é se alguém apaga uma parte que a nossos olhos é relevante. Não sentimos uma súbita vontade de a reescrever?
Ou se a deturpam. Como projectar no ecrã a história errada?
De lápis e borracha cá vamos.
Que a "engrenagem" não pare.

Um beijo,

Arábica disse...

Oh escrevinhador de histórias Alberto, quem, QUEM, se atreveria a escrever as tuas HISTÓRIAS?
Quem se atreveria às perseguições em série, às sessões contínuas de riso, quem???? :))
Venha o primeiro (não acredito).

:))

Beijos e risos.

Arábica disse...

...e contudo Lizzie, é exactamente de Gauguin o óleo sobre tela, que gostava de ter no meu quarto "vairaumati têi oa".
Mas como até estou a pensar em deixar de fumar... :))

Alien8 disse...

Arabica,

Na construção de uma sociedade igualitária, sem a mínima dúvida. O mundo primitivo, que, por acaso - ou melhor, necessidade, - era uma sociedade igualitária, já passou e não volta. Só podemos regressar ao futuro.

Do Llosa ainda não li esse, mas a "Conversa na Catedral" (que era um tasco) que referiu a Justine, o "Pantaleão e as Visitadoras" que fez rir a Lizzie e "A Cidade e os Cães", li.

Um beijo.

MagyMay disse...

Arabica,
Tenho ou chamo-lhe "caminho maritimo para a India" mas (que era a minha vida se não fossem os queridos dos mas...rs) venha um cruzeiro às Caraíbas ou até um sobe e desce no paredão da Caparica... vai-se a ver e numa pequenina coisa acontece o record olimpico.

Dia feliz
Beijos

PS- Recebi sms Gauguin. Insiste em pintar-nos. Condições: Eu descalça...tu, flor de cafezeiro na orelha esquerda... a J com a saia em tons rosa forte. Que achas?

Lizzie disse...

Arábica,

nunca recebeste publicidade ao e do Vargas Llosa porque se calhar não tens caixa do correio, em prédio ou em ecran, castelhana.

E deixa-me dizer ao Alien que sempre aprecio e gargalho com uma boa ironia inteligente e que gosto de muitos dos escritores latino americanos e espanhóis exactamente por isso.

E gosto do Gauguin enquanto pintor: foi buscar uma série de conceitos antigos (alguns medievais) e transformou-os numa linguagem própria.
Por sua vez, nos anos oitenta, uma série de pintores localizados no Norte dos Estados Unidos (e no Texas),Alemanha e Espanha, pegaram em alguns "conceitos" da marca Gaughin e criaram uma nova linguagem,

daqui a uns anos, alguém há-de pegar nas transformações feitas pelos "americanos" (aspas porque as origens são várias), alemães e espanhóis e criará a sua própria expressão

depois....

coño, que já estou, sem querer, a ficar filosófica.))

Besos

M. disse...

Pois, boa pergunta!...
Eu acho é que somos vistos e sentidos de modo diferente por uns e outros, para além do que vemos e sentimos de nós mesmos.

Duarte disse...

Um bom tema para debate...

O que ocorre é que a maioria das vezes vemo-nos identificados com o que escrevem os demais. Deve ser pelo facto de que essas vidas seguem linhas paralelas?

Ha muito que sigo meditando e quase sempre fico como tu, expectante devorando livros e escutando vozes que se queixam.

Não é dos autores que mais me agradam, reconhecendo a valia daquilo que escreve.

Recebe um abraço apertado

Arábica disse...

Alien,

Concordo contigo na escolha de uma sociedade igualitária. Acrescentaria apenas, que a construção de tal paraíso se revela obra tão difícil, que às vezes tenho vontade de fugir para o que já não existe. :)

Não li os livros que vocês leram.
Conheci o Llosa nos últimos 5 anos.
Li "os cadernos de dom rigoberto" e "as travessuras da menina má", o primeiro de uma fantasia invejável, o segundo entre o tragico e o cómico. Demoro sempre muito tempo a ler os seus livros, gosto de os fechar e ficar a pensar nas personagens, como se ganhassem vida própria, na incorporação dos detalhes.

E detalhes não faltam na escrita de Llosa! :)

Um abraço para ti e Lola, bom fim de semana!

Arábica disse...

MagyMay,

és muito misteriosa com o teu record olímpico. Cada vez me sinto mais a norte. :)
Um sobe e desce na caparica revela-se tb enigmatico: puseram lá carrosséis?:)Eu subo a rua dos pescadores para comer um gelado :) e depois volto a descê-la. :)
Vamos comer gelados? :)

Ainda bem que Gauguín aceitou meu pedido :). Vou ali buscar a flor e já volto. A J aceitou as condições? ;) e tu já estás descalça? ;)
Não te constipes :)

Beijos e abraços.

Arábica disse...

Lizzie,

embora desconhecendo por completo onde teria ido Gauguín beber as suas inspirações (fiquei a saber por ti, obrigada), o resultado final sempre foi muito atractivo a meus olhos. As suas telas revelam-se-me cheias de vida, movimento e cor.Daí ter querido, através do seu traço, levar a um quarto vazio de mim, um corpo que me representasse.
Ainda que o nome dela seja "vairaumatti". :)

Beijos, niña, bom fim de semana de mar e limões!

Arábica disse...

M.,

é sem dúvida essa multipla visão do "eu" e do "tu" que somos que torna este passatempo meu, sempre novo. Juntar as peças, e como se de um puzzle se tratasse, às vezes, de pernas cruzadas, pensar, porque não consigo encaixar esta em lado nenhum?! às vezes a solução encaixa-se na história do eu, outras, na visão do tu...

Um beijo, amiga.
Bom fim de semana que bem merecemos! :)

Vai uma castanha? ;))

Arábica disse...

Duarte,

na imensidão de vidas paralelas à nossa, há concerteza momentos nas vidas dos outros que nos parecem familiares pelos sentimentos traduzidos.

O que nós buscamos, já outros antes de nós o procuraram e outros virão a buscá-lo. Mudam-se as caracteristicas de cada um, mudam-se os tempos, mas as causas em que nos envolvemos nas buscas de paraíso, são imortais .

Haverá sempre quem lo busque.

Eu gosto de Llosa.

Um abraço, amigo, bom fim de semana!

Duarte disse...

Aqui, e nos países de influencia espanhola, como no Peru, os apelidos têm uma ordem inversa á nossa. Este Sr. é Vargas, o primeiro é o apelido do pai, e se o apelido é composto Vargas-Llosa.
Abraço-te