Vivera sentada naquela travessa o tempo suficiente para conhecer os passantes.
Uns hesitavam perante o seu semblante, não sabendo se esperaria esmola,
outros, mais afoitos, flauteavam convites,
desconhecendo o tempo dimensional que os separava,
logo nesse breve encontro de olhos:
chegavam na pressa de partir,
enquanto na espera, ela descobrira o prazer do vagar.
Outros havia, que se iam demorando nas palavras.
Falavam-lhe de tempos de porcelana, que ela apenas poderia imaginar e que no tempo de espera, desenhava numa parede abandonada, com pó de estuque, que dos afectos, sobrara.
Clandestinamente, nas sombras ocultas pela longa cortina da rua, ia construindo um mundo anónimo, dentro da sua pequena travessa.
...E quando a noite caía, improvisava esferas e traços, saltando dos peitos das casas desabitadas, na negação constante da solidão que a detinha...
Foto: a propósito da exposição de porcelanas kraak, Dinastia Ming, ali ao virar da esquina...