domingo, dezembro 27, 2009

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...é na nudez inocente do meu canto e mal coberta a duas mãos de voz, que me sento, escutando o tempo...umas vezes, gato à espreita dele como se de rato se tratasse, para o apanhar em minhas garras esfomeadas, outras tantas, rato tímido, espreitando na esperança de a ele -agora gato- escapar...de o fintar. Seremos afinal todos assim? serão afinal todas as vidas pautadas por este paradoxo?
Tantas vezes vivemos no compasso errado de tempo, sabendo contudo, que a ele nunca escapamos e que por isso, mais tarde ou mais cedo, teremos [para nossa glória e miséria] de acertar o passo...


Balanços e contas feitas ao tempo, resta-nos vivê-lo, no tempo e em nós.
Na luz e na penumbra da nossa pele, que esse tempo do devir seja o melhor para todos.
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Feliz Ano Novo.

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domingo, dezembro 20, 2009

São vários os que me povoam e a cada um, com o tempo, fui dando um certo papel, não mais que o especificamente desejado. A velha e o gato. A margarida que não naufragou em terra e que teima no não. A mulher sem idade que veste o avental de pano cru. A menina. A menina é fundamental, digam o que disserem. É ela que ajuda a velha a subir para o animal mitológico que a pode derrubar. É ela que se ri dos fantasmas da velha, provocando na outra, a ironia. É ela que muitas vezes afaga o gato, ainda que o gato só tenha olhos para a velha. É ela, ainda, a menina, que desafia a velha a abrir a janela, a calçar as botas, a apanhar a chuva nos ossos. É ela que se senta de pernas cruzadas no chão da cozinha, vendo a mulher cozinhar e nos dias de correria culinária, de quando em quando, lhe tira os cabelos dos olhos e a incita a mais uma fornada.



Não tendo nunca reconhecido conhecer a face negra de mundo, deus, homem ou mulher, sempre lhe coube a ela, menina, o papel de guardiã dos enfeites de natal.







É ela, por isso e por fim, que na sua irreverência ingénua de papel distribuído não mais que o especificamente desejado, vem desejar a todos, ateus, agnósticos, religiosos submissos ou protestantes insubmissos, espirituais ou espirituosos, um natal de amor e paz, na harmonia possível do quotidiano feito data.







Não desiste ela, do Amor.



E ainda bem.







sábado, dezembro 12, 2009


O peixinho dourado adormecido...











Quando desenho, existem sempre três imagens: a que imagino, a que o traço escreve, a que, através de um conjunto de luz e cor dado por uma qualquer técnica, arte ou feliz acaso, aproxima as duas anteriores, retirando margem às diferenças abismais que no início, claramente as demarcavam.

Contudo, neste mundo abstracto e tão vago do imaginário, difícil é afirmar, qual o peixinho dourado, que realmente dorme no fundo do lago, esperando a primavera...

sexta-feira, dezembro 04, 2009


Indiferente às luzes natalicias, ele desce a cidade, sobre a cidade.
Olhar desfocado, braços abertos, tentáculos sedentos.
Leva para a sua gruta, terminada a rusga, todos quantos, a ele sucumbiram.
Impiedoso, não poupa os corpos caídos nas ruas, semi adormecidos semi em coma de vida.
Ri-se dos povos a ele sujeitos, dos mais fracos, dos que o olham desamparados, sem escudos protectores.
Pé ante pé, o inverno chega.
Em todas as sociedades desenvolvidas do século xxi em letra pequena, quantas pessoas dormem ao frio?

terça-feira, dezembro 01, 2009

Este post não pretende ser mais que o encontro entre três energias, que por coincidência se cruzaram durante a última semana.

A de Julieta Cervantes, fotógrafa, que descobri por puro acaso, quando tropecei num pequeno livro, onde uma fotografia da sua autoria vinha publicada e de quem publico duas outras, encontradas na net, completamente encantada com o trabalho desta mulher.

a da Amnistia Internacional, que luta por uma sociedade global mais justa.

a de Meredith Monk, cujo trabalho me foi apresentado pela Zuli, a amiga dos desenhos no blog "nas asas de um lápis".

Talvez seja apenas uma visão minha, confesso que nesta tarde de chuva, fotografias, educação de Direitos Humanos e músicas, todas se interligam de forma perfeita.






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