quarta-feira, dezembro 22, 2010

FELIZ NATAL

quarta-feira, dezembro 01, 2010

segunda-feira, novembro 08, 2010

terça-feira, setembro 21, 2010







...que ainda não sei bem o que estou aqui a fazer...além de deixar um pato...



sábado, abril 17, 2010

menina

(anseios de liberdade e espaço.
erros humanos ou de sistemas






correcção





percepção da realidade: visão.






Ou apenas.








Talvez as revoluções tenham morrido à nascença.






ventos e silêncio.







incógnita .





nem quer








observando o que o mesmo lhe traz.

sujeito.








pequenas doses
decide viver





terra de ninguém..


.




A bailarina de fumo.
[não sei o que os vossos olhos vêem.
eu vejo uma bailarina que não existe.
de fumo]





sábado, março 20, 2010


Livros, sorrisos, abraços calorosos, surpresas boas,

três dedos de conversa ou mesmo uma mão cheia...

encontros e reencontros...







quarta-feira, março 10, 2010


Dia 20 de Março, sábado, pelas 17h00, na livraria do Cinema King,

será lançado o romance NAVIA, de Teresa Durães.



Navia, nasce no ano 410 D.C, época em que a Lusitânia encontra-se instável devido às invasões dos Suevos, Alanos e Vândalos. O Cristianismo começa a espalhar-se mas tanto a nova religião como a antiga ainda vivem lado a lado. Ela vive num Castro na montanha.

Ana, nascida nesse século, não consegue adaptar-se ao estilo de vida que a sociedade impõe.

terça-feira, março 02, 2010

Gostei da quietude deste lugar esquecido,
onde os silêncios ecoavam berberes pela pele,
e os ventos viviam sem norte.
Estrangeira de mim, nómada serena.




De tantas lãs vestidas, já não sinto o vento.

sábado, fevereiro 20, 2010

Ilusão ou chocolate? é a pergunta que me assalta à noite, quando os adormecidos sonhos de uma diferente realidade sucumbem à certeza do corpo finito e do gesto limitado. Revestem-se de ilusão - na expectativa do tempo - até os corpos de candidatos a uma qualquer presidência. Não ficamos indiferentes, projectamos neles as nossas esperanças. Reveste-se de ilusão - utópica do sentir- a música que nos espanta, acabada de descobrir. Revestem-se de ilusão os rostos que se cruzam connosco, personagens quixotescas, nas redes sociais. Ilusão, digo bem. Parece existir uma maior empatia antes do conhecer. Depois, rápidamente, se evaporam no nevoeiro. Era ilusão o que os movia?Ficam os que, sábios -desiludidos?- não a buscam nem a procuram e nos vão encantando nas empatias reais do ser humano em descoberta.
Vivemos de pequenas a grandes ilusões.
A ilusão de um número. A ilusão de uma imagem. A ilusão de um status. A ilusão de uma viagem. A ilusão de uma cor. A ilusão. Conseguiremos viver sem ilusões? Conseguiremos sustentar a amargura de um esqueleto sem um doce, um chocolate?

Debato-me nesta questão sempre que no supermercado, com um gesto rápido e apararentemente supérfulo, ponho no carrinho das compras meia dúzia deles.

De quantas ilusões precisamos para não sucumbir ao forte peso do mundo e em situações extremas, ao tédio que a nós próprios inspiramos?



Qual o número mensal de ilusões que sustenta o nosso corpo?





Fotografia de Fernando Lemos (salvo erro, Alexandre O'Neill o retratado)

sábado, fevereiro 13, 2010

Como um acto fora de peça, é o que é.
Ele estava deitado...
-ele, deitado?
Repito, ele estava deitado, numa breve pausa ao frenesim de que parecia possuído há dias.
-não escrevas.
escrevo, digo, deito fora, sei lá , respondeu ela.
Tinha os braços abertos, flectidos, e sob a cabeça cruzavam-se os dedos.
Tudo era bucólico, o azul do céu, os verdes, as pedras, o riacho...
talvez por isso, sentiu que o seu corpo, tão demasiado corpo, não cabia na paisagem.
-um corpo fora da moldura? não escrevas.
Fingiu não ouvir, não ouviu de todo; olhou para o tecto sem realmente o ver e, com voz despida de emoção, soletrou: no céu voavam pequenas e diáfanas nuvens de algodão.
(abanou as pernas como se imobilidade das mesmas a estivesse a incomodar).
O chão pintado de verde pela mão da natureza e as pedras, brancas, polidas pela neve recentemente derretida. Só o corpo dele, parecia não caber no quadro.
-chocava?
não era chocar, era como se aquele corpo de homem...
-perfeito, lembras-te?
...não fosse possível. Não fosse real nem de enquadramento possível.
Demasiado carnal, musculado, tenso, encorpado.
-e ela não dormia...
Ela raramente dormia. Não em viagem quando os olhos se recusavam a olhar para dentro na fome do cenário perfeito. Entretinha-se, quieta, com o telemóvel no silêncio, a enviar por sms o que os seus olhos traduziam no peito. Por isso viu a chegada do cavalo negro, luzidio. Tão irreal quanto o corpo do homem deitado a seu lado, adormecido.
Riu-se sózinha como se a loucura pudesse ser colectiva: coração a bater perante o corpo do cavalo preto recortado no céu azul -demasiado musculado para ser alado, como de resto, o do homem.
- não o acorda?
não, não, não, teme acordá-lo. Teme que acorde inquieto.Com passos cuidadosos procura na mochila a máquina fotográfica dele e fotografa o cavalo recortado no cimo da colina...
-os eternos álbuns de memórias.
de memórias, de paisagens, de pensamentos vagamente estranhos, descoordenados, caóticos: dois corpos fora de perspectiva.
-E o dela?
quando ela toma consciência do seu corpo e reconhece o número ímpar de corpos pensa que um cavalo branco virá. Ri-se do surrealismo dos seus próprios pensamentosi. Mas o cavalo branco é dentro dela uma certeza tão acabada que duvida de si mesma.
-porquê um cavalo branco? simbologia de algo que não quer traduzir em palavras?
o bem e o mal, a bondade e a crueldade, os antagonismos sempre presentes no ser humano, a complexidade do ser, essas tretas queres tu dizer?
-ela é que sabe.
ela não sabe. Não sabe ainda nada, naquele momento.ela apenas intui, inventa, imagina, projecta.O clic contínuo da máquina fotográfica acorda o homem.
Parece sereno, depois das horas de descanso. Beijam-se.
Ela aponta-lhe o cavalo e diz-lhe, espera por um outro que virá. Branco.
Ele ri-se. Grande imagem. Estou tão bem. Lancham com os pés dentro da água fresca do riacho, devagar como se qualquer movimento mais brusco os fizesse sair daquele enquadramento agora perfeito, de corpo e espirito. Foi quando ambos comiam pessegos de polpa madura e doce que o cavalo branco surgiu lentamente no horizonte, caminhando em direcção à colina onde o outro permanecia. Ele deixou cair no rio, o pedaço de pessego, olhando para ela atónito.
Ela amedrontou--se perante a materialização do seu próprio vaticinio.
A clarividência.
-como se fosse possível.
como se fosse possível, repete ela, como se fosse possivel o verdadeiro encontro entre ambos.
-não se encontraram?
Não. O cavalo branco nunca conseguiu transpor a pequena falésia escarpada de que era feita a colina. O cavalo negro, azul de tão negro, nunca descobriu como descê-la. Ela não esperava este fim, quando imaginou a chegada de um segundo cavalo. Ficaram olhando-se, relinchando e abanando as crinas, cada um no seu mundo, cada um no seu contexto, cada um no seu plano, sem nunca se encontrarem, tocarem, sem nunca conhecerem a perspectiva contrária, sem nunca perceberem o sentido da visão do outro. Em planos opostos. A atracção dos opostos era visível pelos sinais fisicos. Um contra luz qualquer ao entardecer (ela agora desenhava circunferências com o pé direito no ar, incomodada deveras pela imobilidade dos membros, dando pequenos estalos) fazia daquele quadro um acto fora da peça que ela imaginara. Não haveria um final feliz.
-porque é que essa imagem não te sai da cabeça?
porque é vulgar: é o retrato minimizado do mundo.

terça-feira, fevereiro 09, 2010







...tem bem-vinda um livro grande


que ainda não sabe ler....


domingo, janeiro 31, 2010

re.flec.tir













1-Transitiva, a água reproduz a imagem.




2-Intransitivo, o pombo, muda de direcção seguindo por caminho contrário ao primeiro.




3-Reflexo, da fome?

é por decreto proibido

dar milho aos pombos.

é por decreto proibido

dar esperança aos homens

velhos

que sobreviveram à fome

- à fome.

é proibido

-terminantemente-

proibido dar esperança

às mulheres

- velhas-

que resistiram aos homens

-aos homens.

Milho e esperança alimentam o vôo.

-querem-nos por decreto, aqui.

pequenas sombrias, pequenos na sombra.





domingo, janeiro 24, 2010

.

Crescidos, adultos, vivenciados e de corpo presente através do tempo, muitas foram decerto as casas que nos marcaram e se deixaram tatuar por nós, pilares testemunhais de um ciclo que crescendo, se encerrou.
.




Contudo, não foi alguma dessas casas (guardadas em mim), que teve reconhecimento esta semana. A noticia chegou-me através do Facebook: no Chipre, essa ilha paradisíaca parcial e ilegalmente ocupada pela Turquia desde 1974, pela primeira vez, um cipriota leva a tribunal o casal que edificou uma casa nos seus terrenos, entretanto usurpados e vendidos, também ilegalmente, por um ocupante. Parece-nos, a nós, portugueses e a viver num estado de direito, acto legitimo e até banal, decerto. Contudo, só quem lá vive ou quem passou por lá de olhos e alma abertos aos arames farpados e à mágoa dos olhos, percebe bem toda a importância de que para os cipriotas se reveste esta noticia: pela primeira vez, um homem põe em causa a legitimidade dos ocupantes e dos que, sem escrúpulos, se aproveitam desta situação. Pela primeira vez um homem ganha voz para dizer não. E ganha. Um simples homem, proprietário de uns torrões de terra leva também, ainda que indirectamente a Turquia a julgamento. E ganha.
.

Ganha o Sr.Apostolides corpo de herói, quase um helénico Che Guevara, perante o desfecho.

E contudo, ainda que sem o conhecer, adivinho-lhe a memória de dor sobre a qual construiu
a força de que faz a sua voz...










Por isso, impossível não me lembrar da casa, quando ao conhecer página a página a "Hierofania dos Dedos" de Jorge Vicente, li este 13º poema:
.


a casa é o último
vestígio do pranto:
.
as suas paredes - sentinelas
de memória - adormecem
.
num abraço o rebordo
dos olhos


.
.

terça-feira, janeiro 12, 2010

"o rapaz que lhe desenhava bonecas"



Foi aos primeiros dias do ano que ela se interrogou sobre o que levava tantas pessoas a dizerem não, a continuarem a dizerem não, à mudança que era lógica, a seus olhos, acontecer. Não percebendo esse mar de gente estranha, mudou a formulação da pergunta: porque é que para ela, mulher de quase cinquenta anos, hetero e sem qualquer registo de crise de identidade sexual, duas filhas e uma neta, crente qb, é tão sem pecado e natural a escolha pela igualdade de direitos humanos? sabendo que a resposta seria encontrada algures nos códigos emocionais armazenados na memória, dispôs-se ao mergulho introspectivo.

Há muito dizia que desde sempre tivera amigos com outras tendências sexuais e que essas escolhas em nada interferiam nas relações de amizade que guardava, é um facto. Mas o "sempre" da constatação anterior levava-a apenas ao tempo dos seus dezasseis anos, quando conheceu o Fernando, um gay assumidissimo e sem complexos, liberto de traumas -alguma vez os tivera?-, nascido e criado na Bica, com quem trabalhou meia duzia de anos e de quem guardava amistosas recordadações, com excepção dos momentos em que dava com ele a olhar para o mesmo rapaz. Pisava-o e dizia-lhe travessa, eu vi primeiro. Ao que ele sempre lhe respondia a rir, com aquele ar doce tão seu, mas só para os escolhidos: não importa quem viu primeiro, importa quem é correspondido. E ela nos seus dezasseis anos, sustinha a respiração: quem iria ser correspondido no olhar? (sorriso....)

Portanto, a resposta ao porquê das suas escolhas actuais não poderia residir no Fernando, bem recebido desde logo por ela. Não fora o Fernando a fazê-la pensar, mas se não fora ele, quem teria tido então, antes dos dezasseis, tão importante papel?

A resposta surgiu-lhe alguns dias depois, a propósiito de uma outra pergunta, onde teria eu ido buscar os seios fartos, as ancas largas e as cinturas de vespa das minhas primeiras bonecas?



Ambas as respostas residiam no rapaz que lhe desenhava bonecas.



O Nini vivia no prédio em frente do seu e era o rapaz mais diferente que ela nos seus pequenos seis anos de vida conhecera. O Nini era muito alto e magro, de cabelos negros encaracolados e de sorriso pronto, falava com toda a gente. Filho de pai italiano e mãe portuguesa, era o segundo de cinco irmãos, todos diferentes. O Nini não jogava à bola na rua com os outros rapazes, mas ao contrário deles, muitas vezes parava no parapeito da janela, onde ela, gorducha, ao fim das tardes de verão gostava de estar a desenhar. Foi assim que se conheceram. Ela com seis e ele com doze. Um dia ele perguntou-lhe, gostas muito de fazer bonecas não gostas? e ela dizendo-lhe que sim, perguntou-lhe queres desenhar também? Ele pegando no lápis, desenhou-lhe a boneca mais sensual -embora nesse tempo essa palavra não existisse no seu pequeno vocabulário- que ela alguma vez tinha visto. Desenhou-a de frente e desenhou-a de lado, perante o espanto dela que nunca vira tamanha facilidade e rapidez para chegar à perfeição. Depois desses "moldes" desenhados pelo seu mais recente amigo, nunca mais as suas bonecas foram as mesmas, sofrendo a metamorfose de uma qualquer operação plástica.Todos os patinhos feios eram agora transformados em cisnes, em poucos segundos.

Durante os anos seguintes, o Nini cresceu muito. Era cada vez mais alto e mais magro, vestia calças justissimas que lhe acentuavam o corpo, camisas largas que ela só via nos filmes de domingo à tarde, quando ia ao cinema com o pai. O Nini que estudava no Charles Lepierre, falava quatro línguas estrangeiras com a mesma facilidade com que no passado lhe desenhara as primeiras bonecas perfeitas. Ao mesmo tempo, na rua, começaram a ouvir-se os primeiros rumores trocistas sobre ele. Eram os outros rapazes a dizê-los, eram as colegas da escola e por fim, quando de mão dada com a mãe ia ao mercado, ouvia-os também à socapa, da boca das vizinhas. Ela não gostava daquela troça, daquele diz que diz de quem nada sabe, não gostava que lhe chamassem nomes que ela não conhecia, que falassem dele assim meio às escondidas.

Deveria ter 10 ou 11 anos quando percebeu o que queriam dizer e percebeu que, fosse o que fosse o Nini, ela o adorava e nada poderia mudar essa adoração mútua.





De facto, percebe hoje, da vivência diária ao longo de dez anos com o seu amigo Nini e do seu papel de diferente numa sociedade cinzenta e mesquinha, ela retirou aprendizagens que a levaram às escolhas actuais, a ser o ser livre que hoje é.





_...morderam-se decerto muitas línguas, quando a meio da década de 80 o Nini, então a residir na Suiça e comissário de bordo, regressou a Portugal para umas curtas férias, casado e com um par de filhas gémeas lindissimas nos braços. Feliz e diferente, como sempre o conheceramos, andou de porta em porta a cumprimentar os vizinhos que deixara naquela rua, estreita de mais, mesmo para o seu corpo magro.







sábado, janeiro 09, 2010




Era uma vez num país chamado Itália um futebolista italiano tratado por "preto de merda", anúncios de imobiliário que estabelecem "nem animais, nem estrangeiros", imigrantes agredidos na noite de Ano Novo: os comportamentos xenófobos têm-se banalizado em Itália, e alguns evocam mesmo um "racismo institucional".
[já a Michelangelo cinco séculos antes,
fora dado a conhecer o mistério da amargura,
da perda de fé na pátria]

domingo, janeiro 03, 2010

Neste ano europeu de luta pela erradicação da pobreza e exclusão social, de muitos "licores digestivos", intuio, vamos precisar...