domingo, dezembro 27, 2009

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...é na nudez inocente do meu canto e mal coberta a duas mãos de voz, que me sento, escutando o tempo...umas vezes, gato à espreita dele como se de rato se tratasse, para o apanhar em minhas garras esfomeadas, outras tantas, rato tímido, espreitando na esperança de a ele -agora gato- escapar...de o fintar. Seremos afinal todos assim? serão afinal todas as vidas pautadas por este paradoxo?
Tantas vezes vivemos no compasso errado de tempo, sabendo contudo, que a ele nunca escapamos e que por isso, mais tarde ou mais cedo, teremos [para nossa glória e miséria] de acertar o passo...


Balanços e contas feitas ao tempo, resta-nos vivê-lo, no tempo e em nós.
Na luz e na penumbra da nossa pele, que esse tempo do devir seja o melhor para todos.
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Feliz Ano Novo.

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domingo, dezembro 20, 2009

São vários os que me povoam e a cada um, com o tempo, fui dando um certo papel, não mais que o especificamente desejado. A velha e o gato. A margarida que não naufragou em terra e que teima no não. A mulher sem idade que veste o avental de pano cru. A menina. A menina é fundamental, digam o que disserem. É ela que ajuda a velha a subir para o animal mitológico que a pode derrubar. É ela que se ri dos fantasmas da velha, provocando na outra, a ironia. É ela que muitas vezes afaga o gato, ainda que o gato só tenha olhos para a velha. É ela, ainda, a menina, que desafia a velha a abrir a janela, a calçar as botas, a apanhar a chuva nos ossos. É ela que se senta de pernas cruzadas no chão da cozinha, vendo a mulher cozinhar e nos dias de correria culinária, de quando em quando, lhe tira os cabelos dos olhos e a incita a mais uma fornada.



Não tendo nunca reconhecido conhecer a face negra de mundo, deus, homem ou mulher, sempre lhe coube a ela, menina, o papel de guardiã dos enfeites de natal.







É ela, por isso e por fim, que na sua irreverência ingénua de papel distribuído não mais que o especificamente desejado, vem desejar a todos, ateus, agnósticos, religiosos submissos ou protestantes insubmissos, espirituais ou espirituosos, um natal de amor e paz, na harmonia possível do quotidiano feito data.







Não desiste ela, do Amor.



E ainda bem.







sábado, dezembro 12, 2009


O peixinho dourado adormecido...











Quando desenho, existem sempre três imagens: a que imagino, a que o traço escreve, a que, através de um conjunto de luz e cor dado por uma qualquer técnica, arte ou feliz acaso, aproxima as duas anteriores, retirando margem às diferenças abismais que no início, claramente as demarcavam.

Contudo, neste mundo abstracto e tão vago do imaginário, difícil é afirmar, qual o peixinho dourado, que realmente dorme no fundo do lago, esperando a primavera...

sexta-feira, dezembro 04, 2009


Indiferente às luzes natalicias, ele desce a cidade, sobre a cidade.
Olhar desfocado, braços abertos, tentáculos sedentos.
Leva para a sua gruta, terminada a rusga, todos quantos, a ele sucumbiram.
Impiedoso, não poupa os corpos caídos nas ruas, semi adormecidos semi em coma de vida.
Ri-se dos povos a ele sujeitos, dos mais fracos, dos que o olham desamparados, sem escudos protectores.
Pé ante pé, o inverno chega.
Em todas as sociedades desenvolvidas do século xxi em letra pequena, quantas pessoas dormem ao frio?

terça-feira, dezembro 01, 2009

Este post não pretende ser mais que o encontro entre três energias, que por coincidência se cruzaram durante a última semana.

A de Julieta Cervantes, fotógrafa, que descobri por puro acaso, quando tropecei num pequeno livro, onde uma fotografia da sua autoria vinha publicada e de quem publico duas outras, encontradas na net, completamente encantada com o trabalho desta mulher.

a da Amnistia Internacional, que luta por uma sociedade global mais justa.

a de Meredith Monk, cujo trabalho me foi apresentado pela Zuli, a amiga dos desenhos no blog "nas asas de um lápis".

Talvez seja apenas uma visão minha, confesso que nesta tarde de chuva, fotografias, educação de Direitos Humanos e músicas, todas se interligam de forma perfeita.






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domingo, novembro 22, 2009

Bem me parecia que me estava a esquecer de algo. Olhava à volta e não conseguia perceber o quê. Que coisa teria eu posto numa lista de espera apenas existente na memória que continuava a piscar por ainda não ter sido realizada? Verifiquei duas vezes a máquina de lavar roupa, olhei de soslaio para a de louça. Tudo pacifico. Espreitei a dispensa e corri as varandas. Nada. Remexi na mochila em busca de um papel que me servisse de auxilio. Não existia papel. Casa aspirada, tudo no sitio e penso: vou visitar os amigos do costume, desejar uma boa semana, ler tudo quanto escreveram nos últimos dias. E é quando esta pequena dose de tempo meu e vosso -nosso- abre, que por fim o alarme dispara descontrolado em luzinhas intermitentes: a pequena dose insegura nascida de uma qualquer travessa da espera e de uma chávena de café, fez ontem um ano!

Escrevi mais do que alguma vez, pensei escrever.
Fui mais lida do que alguma vez, imaginei ser.
Fiz mais amigos do que alguma vez, esperei fazer.

Se voltei hoje é porque vos gosto de ler, de ter, de saber, de pertencer.

Que se lixe a boa escrita, que se lixe hoje a escrita poética.


Brindemos à amizade, aos bons momentos (e aos maus, que com vocês ao meu lado pareceram menos difíceis) brindemos às empatias, às solidariedades, brindemos aos caminhos que fizemos de alguma forma juntos, porque se vos leio e se me lêem e se eu comento e se me comentam, de alguma forma em algum momento, estivemos juntos, lado a lado ou olhos nos olhos.

Brindo a vocês!

E que a pequena dose me perdoe, mas hoje não há café.


Obrigada por este ano. Um abraço, com tudo o que sou, com tudo o que me ajudaram a ter.






sábado, novembro 14, 2009

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"...não é bem um silêncio...
é uma ausência de voz..."




terça-feira, novembro 10, 2009

... Debato-me há anos numa questão "somos nós que escrevemos a nossa história ou será a [eventual] história escrita por outros que nos descreve? "

Enquanto não obtenho resposta nem a conclusão final chego, vou-me deliciando pela mão experimentada de Mario Vargas Llosa, "O Paraíso na Outra Esquina", que através das vidas de Gauguin e da sua avó Flora Tristán, nos faz pensar onde se encontra o paraíso: na construção de uma sociedade igualitária ou no retorno ao mundo primitivo?








quinta-feira, novembro 05, 2009

Chamo jardim a uma massa indistinta de cores,

onde, por vezes,

se [pres]sente

o vôo das aves, das pétalas e dos espiritos bons...





quinta-feira, outubro 29, 2009

Ousadias


Quarta-feira, 18 h, numa rua da cidade sob um céu sem estrelas,a aula de Yoga é dada numa sala do sotão de um edificio antigo, com traço de Arte Nova.
Tem muitas janelas a sala quase despida, mas com a mudança da hora, pela primeira vez, precisamos de luz de outra origem. Como móveis, apenas duas pequenas mesas. Na parede ao fundo, de frente para o nosso olhar, uma tela laranja com caracteres orientais a negro. Dois candeeiros de pé, de luz velada em tom amarelado, iluminam-nos.
Quando a Alexandra chega, acende sempre um pau de incenso, que suavemente perfuma a sala, agora já povoada pelos colchões vermelhos, onde os nossos corpos repousam, na cadência da respiração profunda.
Sabemos que é nela, respiração, que nos devemos concentrar.
É através dessa concentração que nos vamos libertando dos focos de stress que nos possuíram ao longo do dia. É através dela, que os movimentos se desenvolvem, é através dela que tomamos contacto com o nosso corpo e o sentimos.
Às vezes a Alexandra faz pequenas incursões verbais àparte da explicação das posições que vamos exercitando lentamente. Estava eu a sentir que o almoço tardio me incomodava, que os tendões e músculos das virilhas e pernas já não correspondiam ao que eu me lembrava de mim, que o meu novo volume corporal ainda que insignificante para os outros, me atrapalhava os movimentos, quando ela começou a falar do "abraçar o sofrimento". Dizia ela que quando nos sentimos infelizes e em sofrimento, temos tendência a telefonar a um amigo, ir às compras, sair, distrairmos-nos, enfim, do que nos causa infortúnio. Dizia ela, que tinha lido que isso era errado, que nós devíamos "abraçar o sofrimento", pensar nele, conversar com ele, questioná-lo, analisá-lo exaustivamente. Eu acredito que a Alexandra gosta de dizer coisas profundas com ar de quem diz coisas banais. Já há três anos atrás o fazia e eu lhe achava graça, como quem nos conta que a água deve estar a ferver, quando se lhe deita o arroz...enquanto me ia apercebendo de todas as novas dificuldades fisicas que agora também faziam parte dos meus novos desafios, não pude deixar de achar interessante a mudança no meu estágio pessoal de vida. Há três anos, a flexibilidade fisíca era muita e era no "abraçar o sofrimento" que sentia resistência, doía muito, era dificil...

Tudo muda, nada é imutável.

Tendo tido a ousadia de abraçar o meu sofrimento passado, que me permitiu evolução, equilibrio, crescimento interior, eis que novos desafios me esperam: desta vez o "sofrimento" será fisico e nada que uma boa dose de magnésio não possa ajudar a superar. Espero eu, com optimismo e treino lento...muito lento.

Quarta-feira, 20.55 h, num outro centro cultural da cidade.
Chego de táxi, do qual, logo que saio, acendo um cigarro para o fumar a "correr", estou quase atrasada!
A aula de yoga durou quase até às 20 h, só tendo dado tempo de ir a casa mudar de roupa.
Contínuo a sentir a digestão retardada daquele almoço fora de horas, pelo que não precisei jantar. Ao menos isso, não queria ir cheia de fome assistir ao ensaio geral do "às vezes as luzes apagam-se", um "concerto perfomativo" levado a palco por 10 adolescentes, entre os 14 e os 17 anos e entre eles, "o puto que cresceu", o sobrinho emprestado, o filho da amiga mais antiga, de sempre (já as nossas mães eram amigas quando andavam na primária).
Não vejo nenhum dos amigos que sei estarem presentes (fomos descuidados, não comprámos bilhetes atempadamente e quando a semana passada os quisemos, já estavam esgotados). Por milagre ou pura sorte há lugares vagos na 2ª fila, onde me sento.
Fazer da vida real dos adolescentes, os papéis principais das estrelas principais deste projecto, foi ousado. A ousadia faz talvez parte das vidas da Claudia Varejão e do Pedro Gil e ainda bem.
Saber, ouvir, sentir como estes 10 adolescentes vivem, em que pensam, como veem a familia, a escola, os professores, os amigos, o passado e o futuro, leva-nos a encontrar em nós os adolescentes que já fomos. De forma desenvolta, intimista, apaixonada, divertida, profunda, pueril ou infantil, ali estão eles, sem máscaras, a ousarem o que tantos de nós, adultos, tememos: darmos-nos a conhecer, darmos a conhecer as nossas dores, as nossas fragilidades, as nossas inseguranças, os nossos sonhos, os nossos medos, os nossos objectivos.
Todos eles diferentes entre si, cada um com o seu espaço próprio, acabam de mãos dadas, metafóricamente nús, perante nós, que do lado de cá da vida, com os anos, fomos vestindo casaco sobre casaco.

Quando as luzes se apagaram, os meus olhos correspondiam (ao contrário dos músculos e dos tendões) à minha alma. Liquidamente emocionados.

Quando cheguei a casa, comi um queijo fresco com fatias finas de pão saloio, enquanto conversava com a mãe do "puto" ao telefone, elogiando o trabalho feito por todos eles, com o cuidado de não repetir uma única palavra das frases ouvidas.
Deixo-lhe a surpresa do encantamento para amanhã.

Adormeci tarde.

Às vezes ousa-se sonhar, acordada.
Seremos afinal sem qualquer prazo de validade, sempre adolescentes?
Conseguiremos ousar?
Conseguirei ultrapassar as cãimbras?

Conseguirei, mais uma vez, ousar não querer ficar prisioneira do que me traz sofrimento?







segunda-feira, outubro 26, 2009



Semana ingrata, esta última.


Não fossem as breves {mas cheias de calor humano} interrupções e diria:


"passei os dias a observar -em mim- a pasmaceira dos velhos e cansados cães, sem fome".

domingo, outubro 18, 2009




Beber quente, em caso de outono inesperado.



Por dentro do dentro.




terça-feira, outubro 13, 2009



Olhos: espelho da alma...




Gatos. Só gatos. E gatas. E miaus. Morganas e Artures.

E do Fiel, do Bobby, do Joly, do Piruças ninguém fala ? :)

terça-feira, outubro 06, 2009

terça-feira, setembro 29, 2009

Prémio vale a pena ficar de olho nesse blog



Da Solinho, Dona e Senhora do Blog Branco no Branco recebi este prémio com um sorriso carinhoso :)

Quase a ir de férias, adiei a passagem do "olhar", a que hoje me dedico.

Como já devem calcular, não consigo escolher apenas 10 blogs, uma vez que estou de olho, mais ou menos atento e sempre conforme a disponibilidade, em todos os blogs da minha lista de links.

Assim, desde o ...E, já agora... à Árvore das Palavras, sintam-se e considerem-se todos, sob o meu olhar (que por acaso não é azul ), e ofertados com mais este selo que aqui deixo, pronto a ser levado e usado, segundo a criatividade de cada um.

Obrigada Solinho, obrigada Bloggers que me são olhos e olhares.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Ela queria conhecer os quatro cantos do mundo.
Mas talvez dois lhe chegassem...


quarta-feira, setembro 23, 2009

Cheguei....!
Tantos abraços para retribuir! :)
Até já...!




Traz-se pela mão, a mala de viagem.

Sobe-se as escadas, introduz-se uma chave e entra-se.

A casa, sossegada e a meia luz, saúda-nos ou somos nós que a saudamos, porque é a nossa casa, o nosso sitio, onde guardamos os objectos que falam de nós, mais do que alguma vez, falamos deles aos outros.

Demora-se 5 minutos a organizar as roupas.

Em 2 minutos, arrumamos as havaianas e o outro par de ténis.

E de repente, vem-nos à lembrança, as dezenas de vezes que chegámos de férias e demorámos pelo menos três dias a ver tudo de novo organizado. A bagunça das míudas. Os korn no quarto delas a quebrar o jejum de três semanas. A areia a escorregar dos bolsos dos calções para o chão da cozinha. Uma que grita, mãe preciso das calças de ganga azuis clarinhas para amanhã. Ela, sózinha na cozinha, divide por cores as roupas. O cão vem por trás e rouba-lhe uma meia. No lava louça os bifes do jantar começam a descongelar.

Não há volta a dar: as miúdas cresceram e foram fazer bagunça para outra freguesia.

A ela, como a qualquer cegonha que ensinou a voar, resta-lhe agora um ninho, arrumadinho.

Mas, ainda se sente espantada, quando abre a porta e demora apenas 15 minutos, a arrumar uma semana de vida...

sexta-feira, setembro 11, 2009


Estou no ir, mais coisa menos coisa.

( entretanto espero que o animal não me derrube ;) )

Sejam felizes, mesmo que não o saibam.





quarta-feira, setembro 09, 2009


Ela tinha olhos verdes e trabalhava num edificio baixo da 24 Julho. Ele tinha olhos azuis e trabalhava num edificio alto da Praça D.Luís. Conheceram-se no liceu, ambos alunos nocturnos de um secundário que não tinham tido tempo de concluir de dia.
Ela com os cabelos pelos ombros e ele também.
Ela vinha de um longo luto pela morte do pai, responsabilizada pela vida da mãe.
Ele reclamava da atenção mimada que davam ao irmão, dez anos mais novo.
Foi rápido o convivio entre ambos, oriundos da mesma parte da cidade e com destino ao fim do dia, para o mesmo liceu. Pelo caminho, ele contava-lhe histórias das viagens dos navios que aportavam no cais. Pelo caminho, ela sonhava com esse mar imenso que um dia queria atravessar, longe dos cheques, das garantias bancárias, das letras e das cauções, com que as suas histórias diárias se fabricavam.
Ao fim de três meses deram as mãos, ainda timidos, quase temerosos, da descoberta do amor.
Ele cortou o cabelo. Ela passou a olhar para o espelho mais atenta.
Ele escrevia-lhe postais a cada dia 25 de cada mês, celebrando a noite em que durante o voando sobre um ninho de cucos, deram o primeiro beijo.
Ela escrevia poemas e fazia-lhe desenhos.
Ele passou a ir de férias com ela, dividindo e partilhando a mãe.
Ela passou a ir todos os sábados à tarde a casa dele, quando mais ninguém lá estava.
Ele era parte da familia dela. Ela achava-se parte da familia dele.
Quando se casaram, não sentiram esse dia como uma mudança radical nas suas vidas.
O namoro tinha-se tornado um contratempo, nos seus afazeres diários.
Ele fazia muitos serões, vendo os navios entrarem e saírem.
Ela cozinhava para ele e para a mãe, depois de concluído o trabalho.
Talvez por isso, quando engravidou, ao fim de poucos meses, enjoou a comida.
Dois anos seguidos, enquanto os navios chegavam e partiam, ela criava em si, as amarras
à vida.
Ele já não lhe escrevia postais. Ela deixou os poemas e escrevia em cadernos de capas alegres, diários de bordo, para as filhas, partilhando com elas, mulheres feitas no futuro, os pensamentos da menina que ainda sentia em si. Foram-se afastando sem darem conta, ela crescendo em direcção ao mar, ele crescendo em direcção a terra.
Quando se separaram, as filhas não notaram grande diferença nos hábitos diários, habituadas que estavam a não o ver. Estranharam -apenas???-os fins de semana, de quinze em quinze sem a mãe. Ele voltou-se a casar e ela também. Ele teve outro filho. Ela teve animais que as filhas curtiam. No casamento da filha mais velha, partilhando a mesa, ela apercebeu-se do pouco à vontade que ele estava, como se fossem pessoas de planetas diferentes.
No casamento da filha mais nova, ela falou-lhe do café do bairro dele, onde jogavam flippers.
Ele não sabia que café era. Ela perguntou-lhe pelos amigos que um dia, tinham sido comuns.
Ele sabia vagamente deles. Ela notava-lhe a gravata apertada, tão apertada, que pensou que ele ia sufocar à próxima pergunta. Teve vontade de pedir uma fotografia com ele. Teve vontade de pedir uma fotografia com a mulher, que mais que ele, cuidou das suas filhas durante os fins de semana de 15 em 15 dias. Não o fez. Adiou. Em contrapartida, pôs-lhes as mãos nos ombros e disse-lhe afávelmente, irreverentemente, a maior barbaridade de sempre, já podes descansar, tens as filhas casadas.
Ele encolheu os ombros, a mulher dele, sorriu, percebendo.
Tem a certeza que ele já não se lembra de ter usado o cabelo pelos ombros, de supertramp e das amêijoas, nos furos das aulas. Tem a certeza que ele já não se lembra como se ria, quando subiam no elevador da Bica, contagiado pelo riso dela, que lhe dizia, faz-me cócegas nos pés.
Ou de ter escrito postais a cada dia 25 de cada mês.

Tem a certeza, contudo, que foi com ele que descobriu a cidade e o amor.





Embora hoje, não perceba como, porquê.

segunda-feira, agosto 31, 2009



Nunca o cinzento a seduziu, embora de forma displicente reparasse nos vincos ainda quentes que dividiam a perna de tecido com perícia. Como se se tratasse apenas de uma auto estrada, no pior dos casos, de uma rua sem saída, bloqueada por um pé inerte. Mas é verdade, nunca o cinzento a seduziu, nem tão pouco a forma geométricamente perfeita da gravata. Ainda que pudesse ser de seda vermelha, macia, escorregadia. Nas suas longas horas de trabalho disciplinado, deixava muitas vezes que a imaginação fugisse e, sem que ninguém desse conta, imaginava aquele vermelho rubro como um grito que o cinzento, tédio imposto, ainda conseguia libertar.
Outras vezes, imaginava o sub-chefe mangas de alpaca, severo e controlador dos minutos na casa de banho, vestido de ceroulas.
Amareladas, daquele tecido cardado e quente, que sabia ser usado pelos homens. Assim observara em pequena, na Casa Africana, onde tantas vezes tinha ido, de mão dada com a mãe.
Dessa forma, imaginando-o de ceroulas, ao sair, era sempre com um sorriso, que lhe dizia, boa tarde, sr.neves, até amanhã se deus quiser. E ele, surpreso com o sorriso, sorria também.
Nunca o cinzento a seduziu, mas trabalhava disciplinada e criteriosamente, em paz com as suas fugas de imaginação, nunca imaginadas por ninguém, as horas passando no grande relógio de parede, anos a fio. O que a seduzia mesmo, verdade seja dita, era o vento frio da tarde, quase noite, quando saía, até amanhã sr. neves, até amanhã, que se faz tarde e eu quero é o vento forte na cara, o cabelo despenteado, o cheiro do rio a perfurar a disciplina das narinas, eu quero é ver o rio, acender um cigarro, esquecer os sérios e cumpridores e viver até amanhã, se deus quiser.

Nunca o cinzento a seduziu é bem verdade e nunca o vermelho geométricamente perfeito da gravata, ainda que de seda escorregadia, a conseguiu demover do vento na cara.


Onde teria chegado, se assim não fosse?







segunda-feira, agosto 24, 2009

"...do homem que fumava fantasmas"






...das histórias antigas, para as quais já não temos palavras.

A propósito de uma noite animada, entre vodkas laranja e cubas livres, saxofones e risos,

percebi que há histórias que com o tempo, deixam de rezar na nossa própria história.

Como se não existisse forma lógica de as explicar.

Como dizer, era um homem que fumava fantasmas?...

quinta-feira, agosto 20, 2009

Hoje, falaram-me de felicidade, conceito tão complexo de analisar, quanto de dificil assunção na plenitude dos nos nossos corpos e mentes, o que me levou a dizer, que gosto de ser feliz, desta forma serena como hoje me sinto. Gostaria de mudar o mundo e sei que nunca o mudarei. Mas vou mudando o meu mundo, na esperança que ele, pequenino, possa influenciar todos os outros, que à volta dele gravitam.


Talvez, hoje,
[sabendo o tudo que sei, tendo aprendido o tudo quanto aprendi,
sabendo o outro tudo que não sei e sabendo o enorme tudo, que ainda não aprendi],
a felicidade serena que me inunda,
caiba no poder partilhar de um chá, de um chão e de uma música...









Algures, pelo mundo, as "lavadeiras" continuam suspirando,
cantando ao vento, magestosos verdes de esperança e luz.
E homens, simples, continuam a plantar, a semear.
Hoje, de nada mais preciso.
Bebamos o chá.

quarta-feira, agosto 12, 2009



ir.
deixar-se ir.
devorando estradas
nos quadris do horizonte.
como se nada mais importasse.
ou fosse real.




sexta-feira, agosto 07, 2009




Anónimos, cruzam mares e atravessam séculos,
os suspiros das "lavadeiras"...








Imagem: Vaso em faiança, 1915, Arte Deco, Colecção Berardo, CCB

Música: "Lavava y sospirava" Uma canção sefardi anónima tocada por Hespèrion XXI e cantada por Montserrat Figueras.

segunda-feira, agosto 03, 2009




Condenado, sem cruz.







{imagem: Hajime Fujita, coreógrafo e bailarino japonês, ontem no CCB, no decorrer de uma sessão de dança improvisada, sob o tema "arquitectura urbana"}

quarta-feira, julho 29, 2009


Muitas vezes à rapariga tinha sido imposta a paragem.
Muitas vezes se tinha quedado muda em reflexões, cega às árvores que dançavam para lá dos vidros enjanelados de luz, surda às vozes que a convidavam a sair.
Muitas vezes, se tinha debatido a rapariga, no paradigma da desconstrução da poesia que a movia, como se no dia em que a obra estivesse completa, o puzzle lhe aparecesse como se de uma vida nova se tratasse.
Como se a racionalização dos gestos lhe trouxesse respostas à velha inquietação da alma, como se a inteligência despida da emoção no momento das decisões, tomadas ou preteridas, lhe descobrisse uma nova perspectiva de vida.
Propôs-se entre quatro paredes a analisar a natureza da pedra, a perceber a (in)significância da carne, a desfiar lentamente os ângulos agudos das palavras, como se da matéria do papel, fosse possível fazer nascer um novo rio. A juzante de si mesma.
Equilibrou sinónimos na imperfeição das arestas que se não tocavam.
Construiu realidades a que não soube dar nome.
Contínuamente, peça a peça, desconstruiu o grande acto de vida, contido em si.
No chão, brincou com as pequenas marionetes que desenhou para se ver reflectida em cada acto. Leal à memória, refez percursos e deu voz a personagens de pano usado.
Acordou num cubo cinzento, estrangulada de silêncio.
Entre quatro paredes, percebeu, que a poesia que a tinha movido dia após dia, não era puzzle que se desconstruísse, na realização de uma ideia, que buscava perfeição.

A vida será sempre mais, ainda que na imperfeição do todo que a há-de consumir.


E de novo se reconstruíu.





segunda-feira, julho 27, 2009




Estou farta de estar com a telha.




quarta-feira, julho 22, 2009

Como entender não o vôo das aves, mas nas árvores, o das folhas,
sem me entristecer?
Como descrever a breve interrupção entre o corpo e a raíz,
o breve intervalo, errático, da seiva?

de mim, em mim.



sábado, julho 18, 2009


Deixo-vos um abraço.

quinta-feira, julho 09, 2009



Tempo de pedra ou tempo de mar?


Cercadas e profundas são as águas do ser mergulhado em solidão.
E ainda que aparentemente as pedras sejam ponte,
não serão mais que defesas.
Não aos outros.
Mas ao mar.










[ Viver a meia idade num relacionamento com um parceiro pode implicar em desafios cognitivos e sociais que têm um efeito de proteção contra a debilidade cognitiva na velhice, Krister Hakannson ]






Grata à Gasolina http://palavrasnaarvore.blogspot.com/


e à Laura http://pi-lau.blogspot.com/






"O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento,
seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."
"Sobre o significado de LEMNISCATA: “curva geométrica com forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.”
Lemniscato: ornado de fitas; Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).
Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Texto da editora de “Pérola da cultura”.






Dedico-o a todos os presentes
nesta pequena dose
onde quer que estejam contidos.
Independentemente
de coordenadas geográficas
independentemente
de rumos ou estradas escolhidas.
Infinitamente
em nós e laços,
aqui
existem.

quinta-feira, junho 25, 2009







Sabes querida, eu acredito que as mãos trazem em si mensagens que nem sempre os olhos conseguem desvendar na leitura.
Eu intuio que é na pele, destas que se dão e em si recebem, que reside um qualquer código genético, que poderá salvar o mundo.
Ou apenas salvar-me a mim e a ti, da distância geográfica que nos separa.
E será através da pele que as nossas mãos se reconhecerão.

É por isso.

É por isso que as mãos sempre foram tão importantes para mim.

Um destes dias, quando os teus olhos procurarem no recorte das estrelas desenhadas por mim, a magia da noite, conto-te uma história de mãos, de mãos dadas, contigo.






"...era uma vez umas mãos que há tanto tempo
não mediam o seu tamanho por outras,
que já nem sabiam o tamanho,
que as mãos, poderiam ter. "


segunda-feira, junho 22, 2009

E porque me falam em ecologia
e porque gosto do silêncio dos lugares esquecidos
e porque já tenho saudades do Gerês e de outros oásis, entretanto encontrados...



















preservemos.

Aqui e além das nossas vulgares rotas.




E porque falar do Gerês é falar de Miguel Torga, viajemos também nas suas palavras,


Aparelhei o barco da ilusão
e reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho,
e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).

Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.




quarta-feira, junho 17, 2009

Algo me diz que estou a precisar de férias...



sábado, junho 13, 2009









Muitas vezes tenho reflectido sobre a sorte de não viver num condominio fechado.
E até de não conduzir. É sem dúvida também nas ruas e transportes públicos desta minha cidade, que tomo a medida real do povo que somos. Nem sempre o contacto é de esperança. Nem sempre o conhecimento do outro, nos traz alguma empatia ou conforto. Nem sempre acontece gostarmos do que vemos. Mas a realidade, transpõe coerente e racionalmente o que nos identifica nos outros. É também no choque, no assombro, que tomamos a medida do real que somos.


Individual e colectivamente vamos abordando a realidade alheia: dois passos à frente, um atrás.Encontros de segundos, outros mais alongados no tempo e no espaço, todos são plataforma de possível conhecimento e crescimentom ainda que a percepção sem concepção seja cega. Porque será que uma pessoa má, sem valores, amarga, invejosa, mentirosa, lê diárimente, a caminho do emprego, Paulo Coelho? Que procurará nele?Que lhe dará ele?

Que será que aconteceu à mulher que entra no café e abruptamente à laia de troco, sacode para o balcão um "só encontro merda no meu caminho"? Que vida terá a outra que da sua janela no Bairro Alto desabafa com a vizinha, "oh filha vou mudar a fralda ao velho, que eu tenho uma sina fodida "? Sei que são também estas, as pessoas reais da minha cidade, para lá do jazz à quinta no ccb, para lá da Catarina com o doce sabor a maçã de António Alçada Baptista e outras Severas, de quem reza a história. E assim, atenta aos sinais e aos outros que comigo se cruzam, gosto de trazer para casa um sinal que seja de mudança. Nem sempre acontece, mas aconteceu ontem.


Estavam 37º e o sol a pique. Sentada numa paragem de autocarro, vi chegar o grupo de homens,
oriundo da mesquita, onde tinham terminado os serviços religiosos. Atrás deles, caminha um homem sózinho, carregando um saco que se adivinha pesado. Agora todos nós fazemos parte do mesmo grupo (indiferente a raças, credos, culturas): estamos a um passo da Gulbenkian, numa paragem, aguardando o mesmo autocarro, sob um sol rigoroso e inclemente.


A surpresa começa a acontecer, quando o último homem, o do saco pesado, vem ao nosso encontro. Abrindo-o, apenas com um sorriso, oferece o (ainda) misterioso conteúdo. Do primeiro ao último homem percorridos, todos retiram do seu interior uma pequena garrafa de água. Incrédula, percebo que agora se dirige a mim. Também eu sou abençoada com uma garrafa de água, que agradeço retribuindo o sorriso.


São estes retalhos de vida real que me fazem acreditar na mudança.
São estes pequenos recipientes de água e de esperança, que me fazem validar o pensamento:
a mudança somos nós.


A mudança está em nós, se metafóricamente não vivermos num condomínio fechado e se, sem qualquer metáfora, conseguirmos sair à rua, crentes de que não somos donos de nenhuma verdade absoluta. É afinal tudo tão relativo, neste mundo em constante mutação...







Música: Ray Lema, e Búzios de Ana Moura.

quinta-feira, junho 11, 2009





Na aresta escondida do pronome
existe um instinto possessivo alarmantemente ganancioso
de necessidade territorial.

O pronome guarda no seu avesso,
uma âncora de ferro,
vulgar e ácidamente temporal,
à mercê das correntes subterrâneas do "eu".

Na tarde, sem espelho que me devolva sorriso, careta ou resposta,
ainda me debato na associação de ideias:
-quando será o pronome tão sómente, pronúncio de afecto?
-quando será que alguém o deve teimar, sem aceitar a censura?


[ não importa que não seja meu,

de alguma forma -ainda que estranha a convenções,
liberdades individuais, destinos, sinas, corpos ou posses, é "meu" ]




Música: Princess of the sand (Strange meeting II), Nick Drake


domingo, junho 07, 2009

O puto cresceu, Dulce.
Repara na mudança: é ele que hoje nos leva para a boémia da noite.
A cerveja gelada. A caipirinha atordoante.O puto cresceu, Dulce.
Repara na precisão dos seus dedos nas cordas sensíveis.
No seu semblante sereno e atento.
No sorriso feliz, mas timido, quando os outros que o acompanham,
lhe fazem saltar o seu segundo solo.
Olho-te Dulce, tens um olhar cheio de brilho e de amor,
de quem conseguiu fintar o labirinto, descobrir a saída e, com mais ou menos sacos, fazer frente à noite.
Faço-te uma careta, o açúcar de tia emprestada,
amiga herdada às primeiras horas de nascença como um apêndice,
sobe-me à cabeça, o puto cresceu, Dulce.
Lembro-me dele com cinco dias. Tinhas um cão e eu tinha medo de cães. imagina.
O cão lambia-me as mãos e eu lavei-as para pegar no puto.
Há sete anos vi-lhe esta mesma expressão enquanto víamos o "Fabuloso destino de Amélie Poulain", sentados nas cadeiras do Fonte Nova, lembras-te? Era dia de ano novo.
Mal tinhamos dormido, estavamos bebedas de sono.
E ele atento, olhos no ecran, maravilhado com os olhos da Amélie.
Mergulhado no enredo que se estendia mágico, mas complexo, para um puto de nove anos.Também foi este ar que lhe vi quando aos 11 anos, me descreveu a Praça Jamal El Fna.
O puto cresceu.
Um destes dias vai encontrar a sua primeira Amélie, e vai-se perder numa qualquer cidade desconhecida, agora que sabe como a música se constroi, meia dose de intuição e sensibilidade, outra meia de prática, e mais uma, bem medida e inteira, de estudo e atenção.
O puto cresceu, Dulce. Olho o Eduardo, pai nas nuvens, as tias verdadeiras, as restantes emprestadas, os tios emprestados, todos nós embevecidos.
O puto cresceu, Dulce.
E nós também.









Música: Wonderwall, The Coltrane Quartet.

quinta-feira, junho 04, 2009





inverter o caldo entornado.



conseguiremos? :)






Música: Purple Rain.

domingo, maio 31, 2009

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Molecular o desassossego dos corpos no encontro com a seiva.
Molecular o pó na brisa, nas folhas, nas asas.
ah!... a inquietude das asas!
talvez no momento
talvez,
se aquiete.

E depois?


[a liberdade das libelinhas
é um micro
organismo
mutualista
-entre dias supremos
e noites infímas-
que nos desperta,
inquietando]








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sexta-feira, maio 29, 2009

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diz-me em tom baixinho
(de quem teme acordar fantasmas)
que cheiro tem o homem
que possuiu o animal.

.desenha no silêncio do papel
as teias de serpente
na trama do véu.

mas não tragas
do alçapão da memória
o penoso tear:

suavemente, traço, ponto, cruz e de novo
traço
em grão,
os rostos de sal.
Espaço.

Embala
em braços velhos de força
o amor que não nasceu
e
se ainda tiveres folego,
diz-me em tom baixinho
(de quem teme acordar fantasmas)
que cheiro tem o animal que possuiu o homem.
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quarta-feira, maio 27, 2009

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...empiricamente induzido na branca ardósia...


ainda que,


o inteiro seja mais do que a simples soma de suas partes.
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[ se hoje te encontrasse Amor,

lembrar-te-ia, Amor, das ardósias em branco

que coloriste e depois, descuidado,

deixaste ao abandono de cada ser ...]

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segunda-feira, maio 25, 2009

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(com) fusão
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Música: clicar em Jazza-me muito, nos gadgets da margem direita.
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quinta-feira, maio 21, 2009

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conheço uma divindade

com o poder do amor [ou do ódio].

conheço uma divindade

com o poder de construir [ou destruir].

conheço uma divindade

com o poder de ser diferente [ou indiferente].

conheço uma divindade

com o poder de curar [ou matar].

conheço uma divindade

com o poder de unir [ou segregar].

conheço uma divindade

com o poder da verdade [ou da mentira].

conheço uma divindade

com o poder da justiça [ou da injustiça].

conheço uma divindade

com o poder da sabedoria [ou da ignorância].

conheço uma divindade

com o poder de ser livre [ou escravo].

conheço uma divindade

que a muitos milénios e terramotos

tem sobrevivido e resistido.

conheço uma divindade

apenas uma, que não carece de "cella" de pedra.

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templo de carne, no resguardo da alma,

parte mais sagrada do seu ser.

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chama-se homem e só a ele pertence,

a escolha do poder em sua mão.



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Música: pois continuo ouvindo rádio, europalx, 90.4.

segunda-feira, maio 18, 2009

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não quero
medir
a distância
abstracta
entre
a
casa
e o velho casco,
no
tempo liquído
da
memória.
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Não posso medir
a
bissetriz
incorrecta
dos
ângulos
nos
vértices imaginados
em reflexão
do tempo.
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Não sei.
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Como se mede o caudal de um rio
à superfície
de uma tão ténue
linha de água?
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Música: 90.40 europalx ...dream a litle dream of me?
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quinta-feira, maio 14, 2009

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"céu saturado sobre terra anoitecida"
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