quinta-feira, outubro 29, 2009

Ousadias


Quarta-feira, 18 h, numa rua da cidade sob um céu sem estrelas,a aula de Yoga é dada numa sala do sotão de um edificio antigo, com traço de Arte Nova.
Tem muitas janelas a sala quase despida, mas com a mudança da hora, pela primeira vez, precisamos de luz de outra origem. Como móveis, apenas duas pequenas mesas. Na parede ao fundo, de frente para o nosso olhar, uma tela laranja com caracteres orientais a negro. Dois candeeiros de pé, de luz velada em tom amarelado, iluminam-nos.
Quando a Alexandra chega, acende sempre um pau de incenso, que suavemente perfuma a sala, agora já povoada pelos colchões vermelhos, onde os nossos corpos repousam, na cadência da respiração profunda.
Sabemos que é nela, respiração, que nos devemos concentrar.
É através dessa concentração que nos vamos libertando dos focos de stress que nos possuíram ao longo do dia. É através dela, que os movimentos se desenvolvem, é através dela que tomamos contacto com o nosso corpo e o sentimos.
Às vezes a Alexandra faz pequenas incursões verbais àparte da explicação das posições que vamos exercitando lentamente. Estava eu a sentir que o almoço tardio me incomodava, que os tendões e músculos das virilhas e pernas já não correspondiam ao que eu me lembrava de mim, que o meu novo volume corporal ainda que insignificante para os outros, me atrapalhava os movimentos, quando ela começou a falar do "abraçar o sofrimento". Dizia ela que quando nos sentimos infelizes e em sofrimento, temos tendência a telefonar a um amigo, ir às compras, sair, distrairmos-nos, enfim, do que nos causa infortúnio. Dizia ela, que tinha lido que isso era errado, que nós devíamos "abraçar o sofrimento", pensar nele, conversar com ele, questioná-lo, analisá-lo exaustivamente. Eu acredito que a Alexandra gosta de dizer coisas profundas com ar de quem diz coisas banais. Já há três anos atrás o fazia e eu lhe achava graça, como quem nos conta que a água deve estar a ferver, quando se lhe deita o arroz...enquanto me ia apercebendo de todas as novas dificuldades fisicas que agora também faziam parte dos meus novos desafios, não pude deixar de achar interessante a mudança no meu estágio pessoal de vida. Há três anos, a flexibilidade fisíca era muita e era no "abraçar o sofrimento" que sentia resistência, doía muito, era dificil...

Tudo muda, nada é imutável.

Tendo tido a ousadia de abraçar o meu sofrimento passado, que me permitiu evolução, equilibrio, crescimento interior, eis que novos desafios me esperam: desta vez o "sofrimento" será fisico e nada que uma boa dose de magnésio não possa ajudar a superar. Espero eu, com optimismo e treino lento...muito lento.

Quarta-feira, 20.55 h, num outro centro cultural da cidade.
Chego de táxi, do qual, logo que saio, acendo um cigarro para o fumar a "correr", estou quase atrasada!
A aula de yoga durou quase até às 20 h, só tendo dado tempo de ir a casa mudar de roupa.
Contínuo a sentir a digestão retardada daquele almoço fora de horas, pelo que não precisei jantar. Ao menos isso, não queria ir cheia de fome assistir ao ensaio geral do "às vezes as luzes apagam-se", um "concerto perfomativo" levado a palco por 10 adolescentes, entre os 14 e os 17 anos e entre eles, "o puto que cresceu", o sobrinho emprestado, o filho da amiga mais antiga, de sempre (já as nossas mães eram amigas quando andavam na primária).
Não vejo nenhum dos amigos que sei estarem presentes (fomos descuidados, não comprámos bilhetes atempadamente e quando a semana passada os quisemos, já estavam esgotados). Por milagre ou pura sorte há lugares vagos na 2ª fila, onde me sento.
Fazer da vida real dos adolescentes, os papéis principais das estrelas principais deste projecto, foi ousado. A ousadia faz talvez parte das vidas da Claudia Varejão e do Pedro Gil e ainda bem.
Saber, ouvir, sentir como estes 10 adolescentes vivem, em que pensam, como veem a familia, a escola, os professores, os amigos, o passado e o futuro, leva-nos a encontrar em nós os adolescentes que já fomos. De forma desenvolta, intimista, apaixonada, divertida, profunda, pueril ou infantil, ali estão eles, sem máscaras, a ousarem o que tantos de nós, adultos, tememos: darmos-nos a conhecer, darmos a conhecer as nossas dores, as nossas fragilidades, as nossas inseguranças, os nossos sonhos, os nossos medos, os nossos objectivos.
Todos eles diferentes entre si, cada um com o seu espaço próprio, acabam de mãos dadas, metafóricamente nús, perante nós, que do lado de cá da vida, com os anos, fomos vestindo casaco sobre casaco.

Quando as luzes se apagaram, os meus olhos correspondiam (ao contrário dos músculos e dos tendões) à minha alma. Liquidamente emocionados.

Quando cheguei a casa, comi um queijo fresco com fatias finas de pão saloio, enquanto conversava com a mãe do "puto" ao telefone, elogiando o trabalho feito por todos eles, com o cuidado de não repetir uma única palavra das frases ouvidas.
Deixo-lhe a surpresa do encantamento para amanhã.

Adormeci tarde.

Às vezes ousa-se sonhar, acordada.
Seremos afinal sem qualquer prazo de validade, sempre adolescentes?
Conseguiremos ousar?
Conseguirei ultrapassar as cãimbras?

Conseguirei, mais uma vez, ousar não querer ficar prisioneira do que me traz sofrimento?







segunda-feira, outubro 26, 2009



Semana ingrata, esta última.


Não fossem as breves {mas cheias de calor humano} interrupções e diria:


"passei os dias a observar -em mim- a pasmaceira dos velhos e cansados cães, sem fome".

domingo, outubro 18, 2009




Beber quente, em caso de outono inesperado.



Por dentro do dentro.




terça-feira, outubro 13, 2009



Olhos: espelho da alma...




Gatos. Só gatos. E gatas. E miaus. Morganas e Artures.

E do Fiel, do Bobby, do Joly, do Piruças ninguém fala ? :)

terça-feira, outubro 06, 2009