domingo, março 08, 2009

Um dia acordam com o toque ininterrupto de uma campainha estranha. Não sabem definir se lhes nasce do interior e se expande nos horizontes que as cercam, se é o oposto. O que sentem é a vibração do alarme. Há muito que conseguiram ultrapassar todos os limites de cansaço dos primeiros anos de luta, corpo a corpo com a vida. Criaram os filhos. Para o melhor e para o pior. Ensinaram-lhes o que era o cansaço das olheiras. Ensinaram-lhes o afago de colo. Ensinaram-lhes a letra, o céu e o fogo. O riso, a contemplação, a partilha. E os números. Iluminaram casas, desfizeram camas, rogaram pragas e de joelhos, rezaram, num abandono de alma. Criaram circuitos internos de auto defesa. Amaram como só se ama uma vez. Duas vezes. Três vezes. Aprenderam sucalcos. Devoraram livros. Plantaram ideias. Implantaram normas que nem sempre seguem. Construiram pedra a pedra o único porto seguro que conhecem: o delas próprias. O único que com legitimidade defendem. Não sabiam de arquitectura mas fizeram pontes dos braços. Não sabiam de alquimia, mas ousaram fundir-se em todas as mulheres que nelas viveram.Nada percebiam de metafisica, mas puseram em causa todas as causas e todas as formas e todas as existências e todas as origens.

A campainha toca e num instante de intuição abrem a porta. Um dia sairam de casa para a rua e hoje regressam a casa. Olham as paredes. Sentem o inicio da construção. Quando os alicerces ainda se estendiam à chuva, permeáveis às intempéries que as deitavam ao chão. Sorriem, porque na longa caminhada da vida construida, aprenderam a tomar conta de si mesmas. Já não se constipam tanto. Ganharam anti corpos. Para essas a campainha é um golpe de sorte.

A gaiola dourada ali está. Amarguradas, não percebem bem o que fazer com a quantidade infinita de horas que o dia parece ter .Sentem-se perdidas no tempo. Perdidas no espaço. Que afinal foi feito à sua imagem. Vazio. Com quem cuscar agora? sobre qem bisbilhotar agora? de que falar agora? quem criticar? quem imitarem? quem desfazer? quem culpar pela amargura, quem culpar pelo infortúnio?Para essas foi um golpe de azar.

Mais tarde ou mais cedo, por uma ou outra estrada, todas se hão-de encontrar.

Umas rirão, com este novo tempo de relização.

Umas dividirão o tempo entre projectos de familia e afazeres proprios. Outras se dividirão entre trabalhos de voluntariado e de entre ajuda aos mais carenciados. Outras estudarão. Tantas que vêm naquele golpe de sorte a sorte de por fim realizarem o que trinta anos antes deixaram a meio.De conhecerem o que nunca tiveram tempo de conhecer. De ler todos os livros. Conhecer toda as vertentes e movimentos culturais, quantos os que os seus olhos cansados, ainda permitem. Afoitas, experimentam yoga, novas técnicas de relaxamento, reiki e pintura. A vida ganha novos horários, a energia rebenta de novo como se a primavera as revisitasse, sem data marcada. Sábias, já cairam todas as vezes que era suposto caírem, mas ainda assim se elevam. Há muito que deixaram de ter medo de olhar, olhos nos olhos, para as feridas e conversar com elas. Há muito que sabem dos efeitos nocivos da amargura. Há muito que preenchem o seu dia, a sua fome de alimento, a su sede de ir mais longe, dentro de si mesmas. Há muito que aprenderam a gerir o seu dinheiro. Há muito que sabem que o maior poder do mundo é a ausência de ambição de poder. Vivem todos os minutos como se fossem os últimos: sem pressa e com muita intensidade. Querem ser. E de todas as coisas passíveis de se quererem ter, apenas querem -muito- uma: tempo.

Ainda continuam a passar o baton anti cieiro na pressa da saída.

Ainda continuam a fingir que não percebem imensas coisas.

Escolhem o que querem perceber. E o que fazer.

O resto elas aprenderão. Conforme trinta e tal anos anos antes, aprenderam, muitas vezes a elevado preço, a arte de viver e amar. Muito.

Aos amigos que as encontram, dirão: nem sei como antigamente, tinha tempo para trabalhar!

Que mais dizer delas? Não serão as verdadeiras Fadas de qualquer lar? :)

E mais não digo.

Digam vocês, que também eu, vos gosto de ler. :)

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Onde andam as fadas do lar? Olhando à volta, vejo mulheres com as crianças no banco de trás do carro, olhando para o relógio, equacionando quanto tempo demorarão a chegar ao emprego, pensando já nos processos que ficaram adormecidos na secretária, um beijo aos filhos e correm de novo para a fila de trânsito, porra que já estou atrasada, o cigarro aceso, agora que os putos saíram do carro de novo em andameto, visualizam já o ar do chefe a notar o atraso, travam o fumo ao lembrarem a azeda da colega do lado, aquela sempre com bocas, se não fossem os outros, ainda dava em maluca. Arrumam o carro, batendo ao de leve no de trás e ainda mais ao de leve no da frente, sacodem das calças os pelos do gato, sacodem o cabelo como se quisessem libertar a tensão da viagem, desde o suburbio até à cidade, levam ainda na mão o porta chaves que tilinta, aproveitam o espelho do elevador para passar o baton anti cieiro nos lábios, esticam os ombros, prontas a enfrentar o dia.

Almoçam uma sandes e uma salada de frutas com yogurte, enquanto falam de ninharias com os colegas, o que eu queria era ir de férias, prolooooongadas, percebes? Finjem que não ouvem a última bisbilhotice , fingem que não sabem o veneno que certas pessoas destilam em sorrisos, fingem que não estão nem aí, nas costas de uns vimos as nossas, -estou, Pedro? então o teu dia? o quê? a tua mãe está doente? não pode ir buscar os putos à escola e levá-los à natação? Tens que ir tu, Pedro, já cheguei atrasada, não dá para sair mais cedo, sim, tens que ser tu! Adivinham o ar de frustração dos maridos, como se elas não conseguissem dar conta do recado, como se elas não conseguissem organizar a vida, como...se elas alguma vez tivessem prometido ser super-mulheres. Não prometeram,não assinaram, não, não, obrigada, nao quero café, dê-me antes um descafeínado, há 15 dias que não ponho os pés no ginásio, e continuam pelo dia fora, trabalham a pensar na vida, os putos na piscina, a sogra doente, o jantar por fazer, pedras para o gato, uma resma de papel para a impressora, um kg de acuçar e arroz basmati, umas almondegas, fazem-se num instante, organizar a roupa para mandar passar a ferro, já parti uma unha, porra, -Mãe? amanhã podes ir tu buscar os meninos à escola? sim, adoeceu, qualquer coisa que comeu, coitada, se não tiveres nada combinado, agradeço, jantarmos aí? sim mãezinha, obrigada, pode ser, assim sendo aproveito e vou ao ginásio, está bem, beijos e até amanhã, por fim uma luz ao fundo do túnel, meia hora de passadeira, 15 minutos de banho turco e quem sabe relaxe? Sim,sim, Sr. Matos, esteja descansado, até ao fim do dia o processo fica concluido. Já noite regressam a casa, umas a pé, outras de transporte, a nossa heroína de carro, nunca mais é sábado..

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Pondo em causa conceitos,

Mr.Sandman, nem sei que lhe peça, é que sonhos não me faltam!
Olhe...traga-me a lista...sei lá...umas ameijoas e um vinho verde gelado....talvez...?
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E se alguém tiver dificuldade em escutar a música, aqui fica a sua letra:
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Mr. Sandman, bring me a dream (bung, bung, bung, bung)
Make him the cutest that I've ever seen (bung, bung, bung, bung)
Give him two lips like roses and clover
(bung, bung, bung, bung)
Then tell him that his lonesome nights are over.
Sandman, I'm so alone
Don't have nobody to call my own
Please turn on your magic beam
Mr. Sandman, bring me a dream.
(scat “bung, bung, bung, bung.….)
Mr. Sandman, bring me a dream
Make him the cutest that I've ever seen
Give him the word that I'm not a rover
Then tell him that his lone some nights are over.
Sandman, I'm so alone
Don't have nobody to call my own
Please turn on your magic beam
Mr. Sandman, bring me a dream.
(scat “bung, bung, bung, bung)
Mr. Sandman (male voice: “Yesss?)
bring us a dream
Give him a pair of eyes with a “come-hither” gleam
Give him a lonely heart like Pagliacci
And lots of wavy hair like Liberace
Mr Sandman, someone to hold (someone to hold)
Would be so peachy before we're too old
So please turn on your magic beam
Mr Sandman, bring us, please, please, please
Mr Sandman, bring us a dream.
(scat “bung, bung, bung, bung….)
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Música: Mr. Sandman, Andrew Sisters
Música: Um tempo que passou, Sérgio Godinho.

72 comentários:

Arábica disse...

Um feliz dia para todas e para os todos também :)

Hoje, deu-me para a ironia :)


Abraços e beijos.

OUTONO disse...

Bung...Bung...Bung....Bung

...um dia inspirado....

Beijo.

Arábica disse...

Outono,


o Bung Bung não é para ser levado à letra ;)

Fiquemos-nos pela "Geração Fadas do Lar", quem sabe, mãe e avó, desta outra a que já pertencemos :)

Beijos

Justine disse...

Um dia de reflexão, não é? Ou deveria ser - afinal, a luta que aquelas costureiras nova-yorquinas começaram há um século e meio continua a ser necessária actualmente.Luta de homens e mulheres, de mãos dadas e a olhar na mesma direcção.
E bung bung para o Sr. Sandman, os sonhos fazemo-los nós!

Arábica disse...

Justine,

totalmente de acordo! Um dia de reflexão, ainda que a marcha da História contenha as suas complexas ironias :)


Queremos-los ao nosso lado na construção do sonho comum!

Não é assim que faz sentido?

Um beijo e uma rosa.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Que bem que me soube !
Grato, estou pois!
Abraço amigo

____________ JRMARTo

mdsol disse...

Pois Arábica, tens razão. Os ventos da História obrigam a novos modos de dar seguimento ao essencial!
A tua ironia está muito bem!

:))

Duarte disse...

A isto é ao que se chama plasmar uma realidade candente.
Ainda está muito por fazer, mas realizar-se-á.

A importância da mulher nas nossas vidas é de um elevado enlevo, por isso opto para que todos os dias sejam dia da mulher, pois a sua capacidade de entrega e sacrifício, sem apelativos, são argumentos suficientes para isso, já que tal atitude é diária.
Delas recebemos tudo, a vida, o consolo, o amor, os filhos... sim, a vida...!

Recebe todo o meu afecto num forte abraço

coxa e marreca disse...

Não tive qualquer dificuldade em ouvir a música das manas, da qual gosto e conheço há muitos, muitos anos. Mas do que eu gostei e muito foi da escrita. No dia da mulher não podia ser melhor.
Mas até fomos nós que acabámos com as fadas do lar...Quisemos, e com todo o direiro, ser independentes. Conseguimos? Nem por isso, acho eu. Mudámos a forma da escravidão e nem sei se para melhor. Pelo menos, para os filhos, carinhos, acompanhamento e educação não me parece, mas enfim...
Não critico, que também tenho culpas no cartório.

Boa semana. Voltarei.

Arábica disse...

vaandando, pois ainda bem que também gostas de ameijoas.

:))

Um beijinho

Arábica disse...

mdsol,


depois da tua visita, deu-se a metamorfose da ironia em prosa.

Complicada a vida das fadas.


Continuemos, sem ironia :)


Beijos

Arábica disse...

Duarte,


todos os dias são das mulheres.
Todos os dias elas se multiplicam em tarefas, dividem-se em obrigações e compromissos, subtraem-se de si mesmas no gesto de doacção, somam-se em cansaços e penas e sonhos e desejos.

E ainda, muitas outras se silenciam.

No medo da noite.


Retribuido fica o abraço.

Arábica disse...

Coxita,


pois então já somos duas em relação às manas. Tenho delas um cdzito que se diz cansado :)
A envolvente daquela época está bem patente nas músicas, que confesso, embora embora anteriores ao meu nascimento (sou de 60), gosto imenso de ouvir.

Como tu sabes, a luta pela igualdade no mundo laboral ainda não terminou. Ainda ganhamos menos e "subimos" em termos de carreira, de forma mais lenta. Há sempre excepções e as que conheço, reflectem, nos últimos anos, (focando-nos na faixa ectária dos 30 anos), mulheres muito ambiciosas que, ou põem a familia em segundo plano ou não têm grandes obrigações familiares. A mulher comum, a que vai ao super, pega na esfregona, ensina à noite o b-a-ba aos filhos, entre tarefas e cansaços, ainda tem algumas dificuldades em progredir na carreira. Depois dos 40, aparecem outros casos, outras histórias, de persistência. Mas até aos 4O, as fadas do lar actuais, têm uma vida dificil.

A escravidão actual, de homens e mulheres, é um outro fenómeno.

É a escravidão do "ter".

É a escravidão da imagem.

É a escravidão do poder e da ambição do poder.

Logo à noite, se as mãos se soltarem, falo da segunda fase de vida das fadas do lar.

Quando, por golpe de sorte ou de azar, voltam à sua gaiola dourada.

Um beijo e cá te espero.

Teresa Durães disse...

fada do lar não faz parte do meu feitio e dia da mulher são todos os dias

dona tela disse...

Ora aí está uma senhora que sabe explicar o que é ser Mulher AQUI E AGORA.
Estou a falar bem, não estou?

Sandman não é um vinho do Porto?

Então, tchim-tchim à nossa saúde, Dona Arábica. E muito agradecida por tudo.

Anónimo disse...

amiga arábica, li o teu texto e li, também, os comentários. tanta coisa haveria a dizer, disto em que a vida se tornou - não só para as mulheres. afinal, somos todos culpados e vítimas desta engrenagem que nos tritura.

um abraço, demorado e convicto.
voltarei para a 2ª parte - o teu ritmo de postagem é que é muito superior à minha disponibilidade para visitar os blogs que acompanho- mesmo sendo poucos... :(

ze disse...

Será que sessenta anos depois as mulheres ainda jogam passivamente impotentes o seu destino à sorte ou ao azar?
Ou ainda faria (mais) sentido escrever uma letra destas sobre o (sonho) feminino?

Obrigado pela música,
Mesmo sem letra é por si um jovial “bom dia!”.

jorge esteves disse...

Mas a verdade é que isto, ou lá o que lhe queiramos chamar, foi laboriosamente, carinhosa e devotamente, fervorosamente, ao longo do tempo, tecido, bordado e criado por quem, por quem?...


abraços!

jorge vicente disse...

andrew sisters? não serão as chordettes?

http://www.youtube.com/watch?v=odcJ-vS22rI

as verdadeiras "fadas do lar" são aquelas que se amam por dentro e não se preocupam com ninharias, estando com os pés assentes na terra.

um grande abraço
jorge

adouro-te disse...

Por onde escrevo e por onde leio estamos todos de acordo: o melhor Dia da Mulher será amanhã.
Bjs.

mariab disse...

podes crer... o teu post é o retrato mais que verídico da mulher de hoje. tempo para sonhar? pois, pois... :))
beijos

Arábica disse...

Pois, Teresa, pondo em causa conceitos, eu diria que também tu és uma "fada do lar".

Mais do que nunca as mulheres são FADAS! Pois não é verdade que só com muita magia e uma varinha mágica conseguem...vejamos:

1-Ter uma carreira/profissão/emprego/trabalho

2-Ter filhos/filhas e estar presente de forma atenta
no seu dia-a-dia

3-Uma rede de amigos, constante e mais ou menos presente -seja de que forma for- na sua vida, no seu dia a dia

4-Cuidar da familia q.b. (pais, avós, tios e ainda outros que muitas vezes vêm por acréscimo em casos de familias biparentais)

5-Sem abdicar de uma actividade que lhes traz gratificação e bem estar (fisico/psicológico)

6-Sem abdicar de ler e ouvir música

7-Sem deixar de cuidar da casa, nem que seja qb, aquela faxina semanal, o aspirador, o pano cor de laranja que já foi das nossas avós, o anti gordura na chapa do fogão, o detergente com perfume a laranja no chão da cozinha, a lexivia na casa de banho.

9-Um dia acordar e trocar de edredons, mudar os tapetes, trazer novas cores para a cozinha. Cozinhar. Não é preciso ser boa, nem relevante ser má: cozinha. Mata a fome, alimenta. Basta-se.

8-e ainda, sempre: Amar. Ter uma relação sólida, investir tempo e mimo numa outra pessoa, o partilhar, o querer bem, o interessar-se, o zelar...

pois não é tarefa (e árdua) de fada? :)


Pondo em causa o velho conceito de fada do lar, para mim, as mulheres acima citadas (com todas aquelas actividades) é que são as verdadeiras Fadas do Lar!!


E agora, que dizes tu? :)

Arábica disse...

E já volto que tb eu hoje tou armada em "fada do lar" à espera da minha familia para jantar :))


Beijos

Arábica disse...

Telinha, Telinha :)


Pois não sei que me agradeces tu.

A música? O Sandman liquido? :)

Olha, seja o que for. À nossa :))


com um beijo.

Arábica disse...

Idun,

lamento que não tenhas tu, aqui deixado escrito, tudo quanto te ocorre, tudo quanto te sacode.

Porque há tanto sempre por dizer!

A tantas vozes.

Lamento que não tenhas mais tempo, não só para ler, como para escrever, deixar pegadas e palavras.

E juro que me deixo já e agora aqui de lamentos :) para não dizeremm que as mulheres passam a vida a lamentarem-se :))

A engrenagem é o outro lado.
O lado das ferrugens corroídas.
O lado de lá do teatro de fantoches. A mão invisivel que anima a bandeira da grelha de partida. Como se a vida fosse uma grande corrida e só quem tivesse direito a taça, fosse gente.

Abraço gata miuda. :)

Arábica disse...

Zé,

Sabes o funcionamento de uma multinacional? Sabes o funcionamento de (por exemplo) uma grande instituição financeira que adquire outras duas? O que será sorte ao fim de 30 anos de trabalho para uns e o que será azar para outros? Poderá o mesmo acto ser sorte para uns e azar para outros? Poderá entusiasmar uns e atemorizar outros? Poderá para uns ser o inicio de uma nova vida e para outros, a ser principio, só poder ser o principio do fim?

Estou a referir-me à pré-reforma.

Ou à reforma.

Quando limpamos as gavetas.
Quando apagamos os milhentos mails que cuidadosamente fomos arquivando em pastas com nomes de pessoas, de temas, de anos.
Quanto o amanhã já não se inicia pontualmente através de um relógio de ponto, ficando antes entregue à nossa mais forte inspiração...

Daí que tivesse empregue a expressão golpe de sorte ou azar.

Quanto ao sonho.

Deixa que te explique porque é que esta canção, centrada no "sonho feminino de encontrar o homem dos seus sonhos", me incita a ser irónica...

Não é verdade que o homem dos "nossos" sonhos é tantas vezes o que nos fere, nos magoa, nos maltrata, nos humilha, nos abusa, nos manipula?

Assim sendo, as mulheres já não projectam, (nem podem, sob o risco de continuarem a se manipuladas)neste milénio os seus sonhos no "homem" que lhes preencherá a casa e o coração.

A vida é pesada, estão sobrecarregadas, nem sempre conseguem chegar a tempo e nem todos os dias lhes é possível dar o seu melhor aos outros, é um facto.

Mas sabes o que eu acho mais importante? Sabem que com elas próprias podem contar. Quase como cozinhar: se não houver quem cozinhe, estão prontas para se bastar a si mesmas.

Sem ficarem penduradas.
Dependentes.
Domesticadas.

E ainda assim...


Todas as canções que façam sentido, Zé.

Todas.


Beijo

mdsol disse...

E deu-te muito bem!
bjs
:))

Arábica disse...

Tinta Permanente,


por nós e pelas razões já subentendidas no comentário anterior: já chega de nos deixarem "penduradas" a meio da vida, como uma camisola num varal.

Comigo conto. Com os outros, contarei ou não :)

E aí foram elas para a rua.

Se pensaste que isto era um queixume, enganas-te.É um elogio.

E muito pouco romantico.
Todos os esforços estão cá, todas as dificuldades constam.

Beijinhos

Arábica disse...

Jorge,

eu tive o cuidado de escolher esta canção pela voz das Andrew Sisters.

O Widget confirma, de resto.


Concordo plenamente contigo no que toca a "Fadas do Lar" :)

Beijos

Arábica disse...

Mateo,

E todos os dias são nossos e vossos. Não pode haver dias de rosas, como quem procura redimir-se :)

O melhor dia pode ser hoje ou amanhã. Depende de nós (todos) fazê-lo.


Abraço

Duarte disse...

É no que se deve manter a alerta, já está bem de intolerância. A luta é viva, e aqui candente. Estão-se a pôr as medidas adequadas mas os insensatos e fracassados perduram. Tenho a esperança e o pressentimento de que a igualdade está aí, já bate à porta.

Beijinhos

Arábica disse...

mariab...sonhar!

Quando já muito tarde e muito cansadas vão para a cama?

Quando ao domingo acordam e está sol?

Quando conseguem pegar no livro (que compraram há um mês e ali está na mesa de cabeceira) sem que lhe consigam ler mais que duas paginas?


Sonhar que um dia realizarão os seus sonhos :)

Para já contentam-se em realizar todos os sonhos já sonhados :))

beijinhos

Arábica disse...

MdSol :)))


às vezes dá-me forte :))

Arábica disse...

Duarte,


efectivamente, algo começa a acontecer:

acordam-se consciências, iluminam-se espiritos, espalham-se soluções, abrem-se janelas.


Beijinhoos

alecerosana disse...

Há Fadas do lar, sim, se elas não existissem, como poderia esta sociedade sobreviver?

Abraço apertado,



P.S.Vamos ver o sol?

Arábica disse...

Alece,

não sobreviveria, suponho.


Buga, lá!!! :)

-Quando?

Beijinhos

O Árabe disse...

Fadas do lar sempre serão... porque há coisas que estão na própria essência. :) Boa semana!

Arábica disse...

Árabe :)


obrigada e para ti também!

Teresa Durães disse...

Credo! Fiquei deprimida com a tua descrição! É claro que faço isso tudo e ainda cuido do cão lol

E por vezes Arabicas, Aliens e outros mais.

Venha lá uma guiness que está na hora da descontração!!

uf! disse...

não li no dia 8. estava muito cansada da viagem e muito descansada da prenda que me ofereci. Não era, para mim, o momento.
Hoje foi. Amanheci no seu texto e gostei da vertigem.

Arábica disse...

Teresa,

:-D só mesmo uma fada arranja
ainda tempo para uma guiness!!


Nada como pôr conceitos em causa :)

Arábica disse...

Prof.,

uma viagem a Zen? :)

Pois fez muito bem.

Beijos

ze disse...

O perigo de querer fazer mais do que se pode.
Dos tamanhos dos olhos e da barriga, do tempo do dia.
Assim, tentando não perder essa consciência, faço, ou tento fazer.
Também nos comentários aos teus posts, ou aos teus comentários.
Comento partes. Umas vezes a fotografia ou exclusivamente a música como foi o (ultimo) caso.
Anos 40, cidade grande na costa leste dos EUA.
Universo feminino no contexto muito especial da Grande Guerra.

Na década de 95 a 2005, houve uma vaga (moda) de fusões e take overs com especial destaque no segmento financeiro.
Com passos maiores que as pernas; mudanças supostamente ditadas por uma racionalização de meios; potencial de eficácia de sinergias.
Na verdade ditadas por questões estritamente financeiras, vertente economia cada vez mais abstracta e política (empresarial).
E ceguinha, que é o pior.
Sem respeitar o tempo natural de consolidação da mudança das estruturas reais, que obviamente é um tempo muito diferente do do mercado, do negócio on line.
Do ponto de vista do cliente, que é o meu, não se vislumbraram vantagens, apenas instabilidade, insegurança nos olhos e nas palavras dos nossos interlocutores representantes directos das ditas instituições.
O que não é nada bom, nem para o negócio.

A minha experiência directa nessa década foi com um desses grupos financeiros, por sinal aquele que sendo dos mais recentes historicamente, tendo a oportunidade de se definir a partir do zero (sem as dificuldades de mudar o que já existe), estabelecer padrões inovadores, como o bizarro afastamento das mulheres do contacto com o público, baseado numa suposta maior confiança que o género masculino gera no relacionamento negocial.

Durante esses dez anos, tive direito a um estatuto de cliente que me permitia um serviço mais personalizado através de um “gestor de conta”.
Esse intermediário foi primeiro um homem, depois um homem e depois e por ultimo, uma mulher.
Pese os exageros e o recurso a estereótipos,
O primeiro tinha a energia e empenho necessários a aventurar-se a “gerir” uma a duas centenas de contas.
Gel no cabelo e ambição desmesurada e ilimitada.
Muitos filmes de Wall-street naquela cabeça.

O segundo, era o gajo mais burro com quem eu tive que lidar.
Sobrinho, ao que parece, de um outro qualquer que teria acções suficientes do grupo detentor do banco, para interessar naquelas contas de votos com que as administrações têm que se haver.
Eu, perante a calma e confiança da sua ignorância, andava num stress permanente, umas vezes tentava (sem grande sucesso) explicar-lhe o que queria que ele fizesse e principalmente o que não queria, outras limitava-me impotente a rezar para que não fizesse exactamente o contrário do que pacientemente lhe tinha dito, o que aconteceu mais que uma vez.

A mulher, impecável, um descanso para mim.
Inteligente, organizada, atenta e simpática.
Um excelente trabalho principalmente tendo em conta a sobrecarga de tarefas e de responsabilidades que tinha.
Para atingir os objectivos pretendidos pelos accionistas (dividendos), nada mais fácil que pôr um funcionário a fazer o trabalho de dois.
E garanto-te que se alguns não se importam de fazê-lo (e de errar mais do que é admissível) a troco de uns prémiositos, os clientes não ganham nada com isso e por vezes até perdem bastante, e é daquele dinheiro para o lixo, nem é do preço do serviço que acaba em dividendos do banco.
Mas o horrível da história, foi os comentários que me começaram a chegar de que a rapariga tinha ido para a cama com um cliente; outras vezes (mais directo) em tom de brincadeira, que ela já tinha dito que gostava muito de mim, que queria era “comer-me”.
O que incomoda dentro de uma empresa fazer bem o seu trabalho.
E a forma como aqueles que não o fazem (técnica ou eticamente) os combatem.

Só mais uma coisa,
O mundo do trabalho que conheces é provavelmente dos piores, sendo mulher. Os outros não serão tanto.
beijos

uf! disse...

O comboio deixou-me/apanhou-me no Porto - Campanhã, mas não me fiquei por aí
:-)
Ainda a propósito da fada do lar - às vezes tenho apetites de fada do lar. Atenção, porque a verdadeira fada do lar não tem patrão! Não tem horários a cumprir, que não sejam os do ciclo família/amigos.
A mim, o que incomoda é:
1. que o trabalho de fada do lar não seja devidamente valorizado e deixe as ditas fadas economicamente dependentes de terceiros - e que terceiros, às vezes.
2. Que não possa ser uma opção tomada pontualmente e intercalada com a de «chefe de família» ;-)
3. Que seja uma oferta sexista - hoje, por exemplo, apetecia-me ter um fado do lar
;-)

rosa disse...

ai..tanta coisa que gostaria ou quereria dizer, mas não sei bem como.

nao sao os 15 min de ginasio ou de telenovela que me preocupam, sao os mais de 2000 anos de subserviencia em que vivemos.

culpados? o imperador constantino. a nossa falta do força fisica. o proprio sexo.

uma sociedade gerida ou em paralelo ou mesmo só por nós, seria um mundo surreal.

nao imagino presidentes a serem mortos à catanada. predios com infantários a serem bombardeados, fornos a todo o vapor para reduzirem o nº de prisioneiros...

em alguns paises, de africa, por exemplo, as organizaçoes humanitarias entregam os sacos de arroz às mulheres. confiam plenamente que elas saberao dar conta do recado, alimentar a familia.

as nossas principais caracteristicas são a inteligencia e sensibilidade, aliadas à sensatez e subtileza.

etc...

Lizzie disse...

Tenho sorte. Do outro lado do meu mundo não se sente o peso do género, nem do sexo anatómico (às vezes diferente do mental),nem a história impôe comportamentos de demónio ou fada.

Naquele mundo a história já deu passos de gigante. Já há mulheres que vivem envoltas em músicas, em livros, em movimentos, em estudos acompanhadas por homens de avental.
Os homens aprenderam que as mulheres não têm tempo para viver tradições e não os desprezam por isso. Ali as mulheres já aprenderam a gostar do lado frágil dos homens e eles sentem-se, por isso, mais livres da imagem socialmente imposta.

No mundo fora desse, o que vejo tantas vezes,são mulheres libertas por fora mas presas por dentro. Guardiãs da ordem das coisas e, às vezes, filhas eternas do "decide tu".

Espremendo-lhes o sumo das conversas, aparece a admiração pelo homem macho e bruto, dominador da tribo.Se assim não for, sabe-se-lá se não será maricas, como aquele que eu conheço, tão calado, que leva os filhos à escola. Um "panhonha" a quem a mulher, "com tanta reunião, deve pôr os cornos". São as guardiâs da moral na gestão da vida alheia.
E nas conversas de pausa, todos os dias, vêm as intermináveis descrições sobre os filhos e os maridos.O Manel gosta dos bifes bem passados, o João gosta quase cru, senão refilam ou vão fazer queixas à mãe.
Acabam por se abafar no seu papel.
Tornam-se, de facto, pessoas desinteressantes.
Tenho encontrado tantos homens que gostavam que as mulheres fossem suas integrais companheiras de vida...

Como mulher que adora ser mulher, acho que devem ser as próprias mulheres a ultrapassar os limites que lhes foram impostos. Uma a uma. Não acredito em revoluções que comecem de fora para dentro.

Besos

Arábica disse...

Zé,

eu tive a sorte, o privilégio de durante 25 anos, trabalhar lado a lado com homens que gostavam de ensinar, transmitir o seu know-how. Ainda vinha longe o tempo da competividade entre iguais, o tempo do gel agressivo, que fez anunciar a década que tu referes.

Os últimos cinco (para completar os 30) já neste milénio, podem bem ser definidos, pela imagem que nos deixas: onde tudo é usado para desvalorizar e corromper uma boa imagem, onde a mentira e o boato se fazem lei, onde a prepotência impera e a arrogância é aliada do "sucesso" (outro conceito que muitas vezes ponho em causa).

Mas o imponderável acontece: não há guerras de sexo neste conflito. São também mulheres, vindas de um qualquer planeta desconhecido (onde a sensibilidade, a inteligência, a integridade, a honestidade não entram em linha de conta) que exercem este poder. Arrasam até, à sua passagem, mais mulheres do que homens.

Vingam olho por olho, dente por dente -como passados alguns anos, soube e por fim percebi!!! - um qualquer passado miserável, onde houve fome, falta de meios para se ser igual, às meninas que brincavam do outro lado da rua.

Todo o know-how alheio é ameaça.

Chegou a hora delas, é o momento de ascensão ao poder, não podem perder esta batalha (que só elas travam com os seus fantasmas).

Assustam-se com quem nada teme.
Assutam-se porque não as conseguem ter na mão. Não conseguem criar cumplicidades, na ausência de erros escondidos. Não há matéria para pactos. Eu dou-te isto se tu me deres aquilo.

Há sempre quem diga não.
Há sempre quem não queira "aquilo" e isso é realmente uma ameaça. Talvez daqui a 20 anos, revejam (as que ofereceram em vão a nova versão da maçã do paraiso) o conceito liberdade. E também os que aceitaram a maçã :)

Nao foram só os clientes que ficaram a perder. A sociedade ficou a perder.
A humanidade ficou a perder.

E aqui estamos nós.


Quatro anos após, a debater conceitos e mudanças.

E ainda bem.

Beijos

Arábica disse...

Prof.,

foi depois das filhas das "pioneiras fadas do lar" verem o que tinha sucedido às suas progenitoras -na dependência de terceiros e que terceiros!!!- que decidiram sair do círculo sagrado?

Ou terá sido também a ambição pelo poder?

Ou terá sido a necessidade do ter?

A verdade é que poucas economias domésticas, sobrevivem hoje em dia, sem o apoio da mulher.

Um "fado do lar"? ;-)

Ora bolas, e há disso por cá? :-D





Beijinhos

Arábica disse...

Rosa,

por muito que o meu lado femininista queira concordar contigo no que concerne ao ser-se Mulher, como podes verificar pelo comentário que deixei para o Zé, não o posso fazer, em relação ao presente, ao agora.

Não nos iludamos.

Com a saída de casa e com a entrada para o mundo da competividade, do sucesso, nem todas as mulheres vestem os adjectivos que tu usas.

Sejamos realistas, ousemos usar os nomes.

Há verdadeiras cabras "entre nós".

No mundo laboral, nos paralelos educacionais, politicos e financeiros, em todas as esferas da sociedade e principalmente deste nosso lado ocidental.

Fechar os olhos a este "fenómeno" seria mais um erro.

Não estaríamos aptos a compreender e a não compreensão dos factos, leva-nos a ser manipulados, muitas vezes.

Temos um longo caminho pela frente.

E nem tudo são rosas, Rosa :)

Mas estamos cá e vamos denunciando, dando a conhecer e sempre que possível, compreendendo a origem e a evolução...


Beijos

Arábica disse...

Peço desculpa pela expressão "cabras" mas foi o que me espontaneamente me ocorreu. Poderia ter usado as palavras "monstras" , "demónias" , mas que se há-de fazer? já está feito.

Mais uma vez as minhas desculpas.

Arábica disse...

Lizzie, Lizzie,

já cá volto.

ze disse...

Concordo em absoluto.
É preciso bom senso. As pessoas são todas diferentes, há de tudo.
E as diferenças entre os dois grupos (h , m) não são tão grandes como aqueles que gostam de manipular opiniões e multidões, gostam de fazer crer.
Claro que há diferenças e também é preciso bom senso para saber que é essencial a uma criança ter muito tempo (e leite) da mãe nos primeiros meses de vida e que não há nenhum homem que lho possa dar.
A natureza na sua aparente simplicidade tem muito para ensinar a quem quiser ver.
As diferenças das características entre homens e mulheres apelam ao trabalho conjunto, algo em que a sociedade ainda está a dar os primeiros passos.
Até à pouco tempo havia ambientes de trabalho frequentado para homens, outros por mulheres, actividades diferentes para cada um deles, as escolas tinham salas de aula separadas, Liceus diferentes (em coimbra eram de lados opostos da cidade).
Os frutos do fim desse apartheid não se poderão ter na sofreguidão do imediato, terão que esperar pela geração seguinte(s).
As mulheres ambiciosas e implacáveis (vemos o poder político) que tu falas, regem-se de mimetismo dos padrões do poder masculino. Não acrescentaram nada de novo.

Aliás, alguém que use o facto de representar minorias (que nem é o caso) em geral pretende mais usá-las do que servi-las.
Sou absolutamente contra quotas políticas para mulheres, acho que é um perfeito presente envenenado, uma hipocrisia absoluta que subtilmente lhes atribui um handicap (vantagem atribuída em certos desportos para permitir que indivíduos com menor capacidade compitam com outros melhores).

E claro, como disseste, a competição desleal, no trabalho e não só é muito mais feroz dentro do mesmo sexo.

Desculpem-me todas as minhas opiniões política e socialmente “incorrectas”, mas penso mesmo que as pessoas têm que começar é a ser tratadas e responsabilizadas como tal
Quem quiser generalizar “mulheres” acaba por defender as oportunistas e não as que precisam, porque essas devem-se defender como pessoas. Basta.
Claro que ainda há muita gente a receber menos, não pela qualidade do seu trabalho mas por ser mulher, mas o que as pode defender disso é a educação (da sociedade), a justiça, etc.
E se calhar essas é que precisam de mudar.

Sei que não é suposto comentar comentários, mas não resisto a comentar a opinião excessivamente optimista da Rosa em relação a um mundo governado por mulheres.
Os canais que conduzem ao poder não permitem em África ou noutro sítio qualquer que pessoas que por natureza, distribuem por todos em vez de guardar tudo para eles, lá cheguem (ao poder).
E no entanto há cada vez mais mulheres com poder e não distribuem.
E nas diferenças (h,m) nas formas de luta, disputa e violência, física ou psicológica, na rua ou no trabalho, na infância ou na idade adulta, não encontro nenhum sinal que fosse diferente para melhor.

uf! disse...

poix... já está feito! quando li «umas cabras» soou dentro de mim um «É lá! Alto e paira o baile!». Perdoe-me a indiscrição, Arábica, mas já conviveu de perto com uma cabrinha? Uma cabrinha que vai buscar as crianças (da quinta onde mora) à escola? Pois é... cabras há muitas e as que conheço são todas ternas, dedicadas, por mais que saltem valados. O mesmo já não posso dizer das mulheres :-)

uf! disse...

quanto à sua questão... receio que tenha sido por o homem, sozinho, ter deixado de conseguir responder a todas as solicitações da sociedade de consumo... O facto é que, mesmo levando dinheiro para casa, continuava a ser «escrava» das 4 paredes.
Enfim... hoje penso assim, amanhã assado; talvez porque nuns casos foi assado e noutros assim.
Na minha família, há as que começaram a trabalhar por necessidade económica e as que começaram a trabalhar por necessidade de realização pessoal. Estas tinham uma mentalidade mais aberta, por força da educação; as outras ganharam-na por força do convívio.
No fundo tudo isto faz parte da permanente evolução ( e involução). Também muitos dos homens de hoje são melhores companheiros que muitos dos de ontem. E melhores cidadãos.
Quanto às revoluções que se fazem de dentro para fora, na minha opinião não é assim tão fácil... por vezes, o grão de areia que faz parara a pesada máquina tem de vir de fora. E encontrar espaço dentro. Não é por acaso que certos governos continuam a apostar em canais televisivos medíocres, em investir numa «diplomatização» e não numa educação plena. Gente que pense pela sua cabeça, é gente perigosa. E é muito fácil mutilar cérebros, infelizmente....
Mas não me julguem pessimista, não. Para mim, é claro que a vida é como um automóvel: por vezes faz marcha-atrás mas é para a frente que anda melhor.

Arábica disse...

Lizzie,

de volta aqui, lendo-te mais uma vez, recordo a falta de paciência para essas conversas de ocasião de bifes mal passados, que me levava nos ultimos anos a almoçar solitáriamente. Isso e as conversas de corredor. O diz que diz. Por isso, acredito que algumas vezes, a campainha ecoa de fora para dentro. É a realidade exterior que nos leva a constatar que não partilhamos dos mesmos gostos, valores e ideais. Não nos identificamos com a "onda generalizada", que repentinamente -de um ano para o outro- nos transforma em marginais.

Cada uma de nós terá o seu tempo de despertar e de escolher o seu caminho, independentemente das razões que a levam a isso.

Beijos

Arábica disse...

Zé,

também tu pedes desculpa? :)

E sentes realmente necessidade de justificar o responder ao comentário do comentário? :)

Estás bem aqui, vai comentando, respondendo, recomentando :)

Cada vez menos, as diferenças entre as pessoas, estão relacionadas com o seu sexo.
Passa antes pela cultura de base, pela educação nos primeiros anos de vida, dos tão proclamados principios, pela herança genética e de costumes.

O "fenómeno" de poder feminino de que falei, não foi baseado, de qualquer forma, num caso único.

Nas minhas esferas de conhecimentos particulares, apareceram pelo menos 9 exemplos desses, todos eles com notória reviravolta de sucesso e exito profissional, nos últimos anos.

Se eu tenho conhecimento de nove casos -eu que até me considero uma eremita- é porque algo se passa!

Quanto ao teu ultimo parágrafo do omentário, eu acredito que algumas coisas seriam melhores.

Não exageres :)


Um beijo.

Arábica disse...

Prof.,

fiquei atónita com o seu comentário. Sim, tive uma experiência de 3 meses com cabras e cabrinhas, assisti a vários nascmentos, emocionei-me com o desvelo da mãe cabra, fiquei de respiração contida ao assistir aos primeiros minutos de vida desses seres, afaguei-as, alimentei-as e muitas alegrias me deram exactamente na altura, em que nos outros dias da semana, lidava com o tal fenómeno.

Apaixonada pelos animaizinhos que rápidamente saltavam para o meu colo e me davam marradinhas (fui voluntária no zoo) e me reconheciam, foi realmente nessa altura, que fazendo a analogia entre umas e outra, comecei a usar essa expressão.

:)

Arábica disse...

Prof.

realmente constatamos que ao mesmo tempo que no "grupo masculino" cada vez mais homens assumem o seu lado sensível e humano, no "grupo feminino", cada vez mais mulheres assumem o seu lado agressivo e déspota.

Na minha familia materna, as mulheres integraram o mundo laboral por necessidade óbvia. O século passado com suas guerras, suas fomes, obrigaram decerto à mudança de costumes. No entanto, agora, olhando para trás, verifico que ainda assim, elas mantiveram o seu papel de guardiãs do lar, o seu lado feminino salvaguardado de ambições desmedidas. Foram modestas nos seus passos e preservaram a alegria, o amor, a atenção aos filhos; embora trabalhadoras, a sua prioridade foi sempre o bem estar da família.

Também sinto algum optimismo e fé no futuro.
A minha própria filha abdicou de trabalhar, para poder ficar com a minha neta, nos seus primeiros anos de vida.

Se isto não inspira a acreditar no melhor lado feminino e na sua inteligência e sensibilidade, inpira a que? :)


Beijos e uma boa noite!

Arábica disse...

Prof.,

quanto à mutilação...fica a imagem.


um beijo.

Alien8 disse...

Arabica,

Um texto quase duplo, para quem tiver tempo de lhe descobrir o que se esconde por trás da ironia.

Pondo em causa conceitos é que se avança.

Venho tarde para a data, eu sei, mas sempre gostei de resumir esta questão a uma "simples" frase de Louis Aragon: "La femme est l'avenir de l'homme". Não me canso de a citar porque... está lá tudo!

Além do mais, o teu texto e as respostas a alguns comentários têm o mérito (que se vai vendo pouco..) de enquadrar a questão na sua verdadeira perspectiva histórica, fora de "sexismos" e tretas "politicamente correctas".

Aplaudo-te.

Rui disse...

Antes assim que pior? Ouvi dizer que são cada vez mais as fadas condenadas ao lar. Que essa condenação é ainda pior que os tormentos da vida de secretária. Que o stress dá cabo dos músculos, mas dilui o sangue - que fica viscoso se andarem só à volta do lar e das coisas do lar, que se acumulam coisas nos sítios errados da pele e que são mais as coisas más que as boas. Eu não estava a prestar muita atenção, mas por esta altura quis perceber melhor a conversa. Disse qualquer disparate sobre a importância de chegar à reforma activo e tal. Olharam para mim com condescendência e disseram-me que estavam a falar das mulheres que se vêem subitamente no desemprego. Chamaram-me as novas fadas do lar. À força.

Rui disse...

ali na última linha, não é "chamaram-me", é "chamaram-lhes".

Arábica disse...

Alien, obrigada, amigo.

E ainda e sempre tanto para dizer sobre mulheres! E sobre os homens que as acompanham. E sobre o ontem, o hoje e o amanhã. Com ironia, mas também sem ela. Pelo lado mais humano. Pelo lado de dentro da História e do corpo que desafia o mundo. Ainda que frágil.


Beijo.

Arábica disse...

Rui, obrigada pela tua visita activa :).

Como podes observar, nos meus textos criei um fosso: passa de uma heroína que trabalha e que sustenta o pôr em causa do conceito para as mulheres que chegam à idade da reforma e voltam ao lar.

O fosso, o salto, foi criado propositadamente.

E nele cabe tão bem o teu comentário! É verdade, cada vez com mais desemprego, muitas são as mulheres que se vêm forçadas a esse velho papel e ainda submetido aos parametros antigos,de fadas do lar.

Nem consigo imaginar a angústia de se verem dependentes dos outros, de verem a magreza do dinheiro que entra pelo lar a cada fim do mês.
De verem as carências nos rostos dos filhos e nada conseguirem fazer contra isso.
De verem os seus sonhos derrubados, elas que não conhecem outro meio de sobrevivência que o do trabalho.

Tempos duros, vidas duras, personagens reais de contos sombreados nas ruelas das cidades e aldeias.

Dizem-nos algumas sabedorias, que é dessa lacuna, desse enviar para casa de mulheres que não conseguem ser "fadas do lar" (segundo os velhos parametros) em idade activa, que há-de nascer o engenho de uma arte ou de um modo de vida diferente: muitas são aquelas que "metem mãos à farinha e fazem bolos" metafóricamente falando,ou sem metáfora e mudando de farinha, inventam uma qualquer actividade que lhes prometa de novo o sustento.

Elas estão aí, os números crescem e a verdade é que uma mulher que decidiu entrar no mundo do trabalho, não vai deixar de arregaçar as mangas, perante a situação politica e social actual.

Por uma questão de pele.

Por uma questão de fibra.

Esperemos pelos proximos 20 anos, para podermos olhar, depois, para trás...

Um beijo

Rui disse...

Quero acreditar nessa tua esperança.

:)

Arábica disse...

Viste o documentário dos EUA onde tantos perderam casas, empregos e vivem em tendas, Rui? :(

Também quero acreditar na minha fé.

E o mundo exige-nos a contradição da esperança.

Nina Owls disse...

ao tempo que já cá não vinha. Adorei este tesxto das super mulheres, as fadas do lar.
Dificil será não nos identificarmos, não nos revermos aqui e ali nesse resumo impossível de negar, do que somos. E do que deixamos de ser pra nós. O tempo foge. Pudessemos fugir com ele.
A música mr. Sandman, uma delicia ;)
Viva os banhos turcos e as passadeiras do "suanço", viva as mães que acodem e os maridos que entendem que somos mais do que as super tudo que eles precisam que sejamos.
Bom fim de semana

rosa disse...

e a santa paciencia para lidar com as falhas deles, frustrações, incapacidades. com um sorriso, deixa lá, não faz mal... tudo bem, eu exagerei. desculpa, eu é que ouvi mal...

só me apetece é comer limões azedos...

Arábica disse...

inner,

somos paus de tanta obra, que dificilmente não ns veríamos reflectidas aqui ou ali.

Também notei a tua falta.

Bom fim de semana!

Beijos

Arábica disse...

Rosa,

saindo da generalização e detendo-me na memória do particular, sim, a nossa incrivel capacidade de desculpar, procurar justificar falhas alheias, e sorrir. Mas sabes que embora o façamos, um dia o pomos em causa, não sabes?

E aí, ai!!! nem Deus lhes consegue valer :))))

Hoje o dia está mau para os comentar :)) febre, nariz tapado, dor de garganta e cabeça :)) assim tipo um limãozito :)) nem o benurom hoje a mim me vale!

rosa disse...

as melhoras e bom fds, camarada Arábica.

;)

Arábica disse...

Bem preciso.

Muitas melhoras que isto está complicado.

Bom fim de semana para ti tb Rosa!

Beijos