já por aqui andam há uns meses (as músicas de intervenção). Vão e voltam.
Mas este post tem um cunho muito pessoal: reflexão sobre a minha trajéctória, abril após abril, até hoje. Do ano das pequenas galerias de arte -roubado tempo às aulas de matemática- até ao presente, roubado tempo ao sono.
E deixo-te o poema,
Dão-nos um lírio e um canivete E uma alma para ir à escola E um letreiro que promete Raízes, hastes e corola.
Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma duma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade.
Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos o prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência.
Dão-nos um barco e um chapéu Para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu Levado à cena num teatro.
Penteiam-nos os crânios ermos Com as cabeleiras dos avós Para jamais nos parecermos Connosco quando estamos sós.
Dão-nos um bolo que é a história Da nossa história sem enredo E não nos soa na memória Outra palavra para o medo.
Temos fantasmas tão educados Que adormecemos no seu ombro Sonos vazios, despovoados De personagens do assombro.
Dão-nos a capa do evangelho E um pacote de tabaco. Dão-nos um pente e um espelho Para pentearmos um macaco.
Dão-nos um cravo preso à cabeça E uma cabeça presa à cintura Para que o corpo não pareça A forma da alma que o procura.
Dão-nos um esquife feito de ferro Com embutidos de diamante Para organizar já o enterro Do nosso corpo mais adiante.
Dão-nos um nome e um jornal, Um avião e um violino. Mas não nos dão o animal Que espeta os cornos no destino.
Dão-nos marujos de papelão Com carimbo no passaporte. Por isso a nossa dimensão Não é a vida. Nem é a morte.
quando se apanham trejeitos, é díficil perdê-los. Os musculos habituam-se e tomam-lhes, por defesa,a forma. Assim me explicou um especialista. O pescoço é paradigmático.
Quanto a censuras e/ou pressões, olha, conheci-as, mais cá que lá fora, de várias espécies e de várias cores. Nesse campo não tenho ilusões.
E, cada um tem as suas datas, os seus pontos de referência, as suas grelhas de partida. Ou de chegada.
eu comecei a dedilhar os acordes de «os olhos da marianita» :-) Cheguei a Lisboa em tempo de fascismo e assisti, lá, à chamada revolução. A manifestação do 1º de maio de 1974 marcou-me profunda e positivamente. Hoje, viveria tudo da mesma maneira; com a mesma esperança utópica (a utopia é possível). Entreguei-me à esquerda e à revolução com o mesmo espírito altruista com que, em pequena, me entregara ao cristianismo. Eu sei que «já estragaram a nossa festa, pá», mas não nos tiram as vivências. E alguma coisa se ganhou. Muita coisa se ganhou (ou não estaria aqui a escrever. A nossa memória selectiva apagou as perseguições, o medo, a miséria envergonhada... Quando, hoje, oiço dizer «no tempo do Salazar é que era bom», já nem sei se me assuste, se me alegre. Eu sei PARA QUEM era bom ( e ainda é...).Fico feliz por os jovens de hoje já não saberem o que foi viver em ditadura. Fico assustada porque a democracia tem de ser alimentada dia a dia, hora a hora e, se as pessoas se esquecerem de como foi, facilmente se deixam encurralar (já começaram) nas novas formas de limites das liberdades individuais, facilmente se deixam cegar pela demagogia, facilmente se deixam espezinhar...
Pegando na deixa da prof, eu não vivi directamente a ditadura. Mas já estou farto de comemorações da implantação de republica mais da restauração, mais disto mais daquilo, de militares a exibirem os passos de dança que sabem e a relembrar que são a nossa consciência com armas ao dispor e regalias em atraso. Realisticamente não há a possibilidade do natal ser todos os dias, não há dinheiro para tantas prendas e as rabanadas dão muito trabalho a fazer. Mas acho bem que se comemore o natal mais o carnaval e a páscoa, ou acontecimentos a que se associam práticas de natureza excepcional.
É para lembrar às novas gerações como antes era (muito pior)? Não vale a pena, nesse dia é feriado e já está bom tempo, Foram para o guincho, para a Caparica e para o Algarve. Talvez fosse melhor ideia dizer-lhes na Escola. É para lembrar os nossos heróis como se já não tivessem gozado os seus privilégios em forma de pensões, amnistias e promoções de carreira política e (ou) militar? ( e será que foram mesmo esses os heróis ou terão sido antes outros, anónimos passados rapidamente para o terceiro plano, assim que a probabilidade adquiriu vestes de certezas?)
Em 2009, estar de sorriso nos lábios satisfeito com a democracia(?) e a liberdade(?) de expressão que temos é de um miserabilismo angustiante, um forte sinal da nossa falta de cultura de exigência, De sociedade refastelada à sombra da bananeira da memória das conquistas da juventude.
A música de intervenção tem estado aqui sempre presente, bem o sei. Antes de mais nada, é música.
Desta também gosto muito - e o poema é excelente.
Também gostei imenso da foto!!!
Sabemos que quem celebra o fim do fascismo também não está satisfeito com a situação que se vive hoje - o que parece escapar a muito boa gente, que confunde a comemoração de uma libertação com a nostalgia e a auto-satisfação.
Sabemos, sobretudo, que há coisas que têm que ser lembradas, porque não podem ser esquecidas. E que a luta não pode parar... e prefiro ficar por aqui.
é dificl lutar contra o conformismo, contra a desistência humana, em sede propria ou alheia. É dificil e morosa a metamorfose. E por vezes quando o espirito se liberta, fraqueja o corpo, cansado d outras guerras.
Aproveitando o comentário para o a propósito, mesmo que estivesse de chuva, nenhum jovem se deteria a ver, Zé. Quem acredita que este país, é filho de uma revolução de abril? Quem acredita perante a realidade actual, que exisiram mesmo cravos embainhados nas G3s e que um povo preso durante 48 anos, saiu à rua?
Por outro lado, em todo o mundo, Che Guevara é lembrado e acarinhado por milhares de jovens.
Por isso, acredito que não são os ideais da Revolução que estão em quebra, mas sim este país, que está em quebra, pouco inspirado e pouco inspirador de ideologias altruistas.
As conquistas aconteceram quando eramos jovens, tens razão.
Mas agora qu estamos "velhos", julgas-nos satisfeitos?
Por ventura o nosso cepticismo actual se confunde com o conformismo? Julgo que não, Zé.
E a geração a seguir à nossa, o que faz? Também estão adormecidos? Conformados? Teriam ganho amor aos supérfulos? Estarão eles de acordo?
Quando e por quem foram substítuídos os homens heróis de Abril?
também fiz parte dessa grandiosa e primeira manifestação do 1ºMaio. Uma emoção transbordante no peito, a imagem do meu pai, falecido um mês antes na memoria, como se através da força do gesto impressa no braço, ele pudesse sentir através de mim, aquele momento. Nunca mais seríamos os mesmos. Nunca mais seriam precisas as casas de banho do liceu para distribuir a informação clandestina a exultar à esperança, à solidariedade e ao silêncio. Nunca mais as casas dos nossos amigos, vizinhos, seriam estropiadas de noite. Nunca mais os homens morreriam em calabouços de tortura, em busca da verdade e da justiça. Nunca mais!
O que nenhum de nós (sonhadores e idealistas) sabia é que o mundo em constane mudança, traria outros perigos mais brandos. Que depois de obtida a verdade e a justiça, outros homens viriam e quereriam outras verdades e outras jusiças. Que a euforia perpétua daria lugar a esta convulsão global e mundial. Tal como a Prof., nunca deixarei de ser de esquerda, de querer a justiça social, o equiibrio, a dignificação humana.
E de sentir que ainda muito temos de lutar por essa democracia que sonhámos há 35 anos.
Cá estamos :).
Mais velhos, mais sábios, mais maduros, mais ponderados.
era uma menina, tinha 14 anos. E tal como o nosso país mudou, assim mudou o meu rosto.
Para mim comparar os tempos foi sempre dificil, por razões meramente pessoais. Antes do 25 de Abril, tinha o meu pai. Depois do 25 de Abril, tive que fazer, muitas vezes, de homem da casa.
Assim se aprende, desde nova, a ser forte e livre.
E ainda assim, as vezes, tão frágil.
Tenho saudades desse outro tempo, apenas pelo meu pai.
De resto, brindei o 25 de Abril com toda a minha alegria.
não fora Abril e teríamos todos morrido de morte lenta e claustrofóbica. Ou emigrado aos milhares. Dado o salto.
Mas é evidente, que se há quem afirme que o Holocausto nunca aoonteceu, também haverá quem ao fim d 35 anos, ainda possa vir a dizer, a pensar, a acreditar que não valeu a pena.
Mas nós sabemos que sim.
Faltam-nos milhas e a marcha vai lenta :)
Um beijo, querida Lola, bom sábado com morangos :)
Cheguei a Valência em março de 1968, tinha 25 anos. Perdi muitas das vivências que ficaram marcadas no tempo e que só avistei na distância, no tempo, nada era coerente. Até senti o desespero. Tudo era contado e as noticias aqui chegavam em conta gotas e deformadas. Posso afirmar que até sofri, impaciente, família e amigos que por ai deixei, eram a minha inquietude. Desconhecia o que me contas, lamento ter tocado o tema. Fico intrigado. Talvez um dia falemos de tudo isto.
não lamentes, 35 anos depois, consigo emocionar-me sem dor. Cada um de nós trilhou o caminho que lhe foi dado trilhar e que conseguiu até certo ponto, modificar à sua imagem e passagem.
Durante muitos anos lamentei as várias rupturas que naturalmente aconteceram, liceu, colegas, as tardes a acontecerem mornas entre as mãos brancas e macias da juventude.
Um dia acorda-se e decide-se: ok, não era isto que querias para ti, mas é isto que tens. Vamos lá trabalhá-lo de forma a ser gratificante, para que a vida te não seja uma peña constante.
E aí, acabamos por realizar e sentirmos-nos realizados, acabamos por definir novas rotas e conceber novos espaços.
Imagino também o que te custou a ti, emigrar, o ter que procurar noutro país a tua rota, as saudades dos entes queridos, dos amigos, dos cheiros, das vozes.
Poucos são os que nascem sem escolhas a fazer, os que de alguma forma para fazerem frente a algo, não acabam por vira~r costas a cambiantes que lhe são, na mesma medida, queridos.
E ainda assim, a nossa incrivel capacidade de fazer das nossas quimeras grandes felicidades e das pequenas lutas ganhas do dia a dia, força motriz para seguir em frente!
E é dessa capacidade de guerrilhar contra o desanimo, os desaires e o medo, que afinal, todos nós precisamos e muito.
48 comentários:
Aviso prévio: nunca consegui dedilhar mais que "alecrim alecrim aos molhos"...que esqueci com o tempo.
A foto data de 1974 e, só por isso,
aqui consta.
De um tempo que ainda canto.
Bom fim de semana para todos.
Beijos e abraços.
Ah Lizzie...é verdade...essa minha forma de inclinar a cabeça :)
...
foto de 74...
a dedilhar velhas cores?
ps: revoluçao permanente. digo NAO a tanta coisa. tanta tanta
psps: tens uma grande audiencia :)))
Observ.
a dedilhar memórias.
De mãos e de nãos.
:)
entramos em Abril... lá vêm as músicas de intervenção. Não que não goste.
Teresa,
já por aqui andam há uns meses (as músicas de intervenção). Vão e voltam.
Mas este post tem um cunho muito pessoal: reflexão sobre a minha trajéctória, abril após abril, até hoje. Do ano das pequenas galerias de arte -roubado tempo às aulas de matemática- até ao presente, roubado tempo ao sono.
E deixo-te o poema,
Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.
Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.
Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.
Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.
Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.
Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.
Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.
Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.
Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.
Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.
Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.
Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.
Talvez hoje ainda impere outro género de censura.
Uma censura liberalizada e ambiciosa.
Digo eu.
:)
Arábica:
quando se apanham trejeitos, é díficil perdê-los. Os musculos habituam-se e tomam-lhes, por defesa,a forma. Assim me explicou um especialista. O pescoço é paradigmático.
Quanto a censuras e/ou pressões, olha, conheci-as, mais cá que lá fora, de várias espécies e de várias cores. Nesse campo não tenho ilusões.
E, cada um tem as suas datas, os seus pontos de referência, as suas grelhas de partida. Ou de chegada.
Besos
O poema é lindíssimo e a interpretação do JMB cheia de força!
Que bom ter revisitado contigo estas memórias.
E que linda menina se vê no post!
Valeu!
:)))
Gostei muito deste post,
das imagens e do timbre da voz que transmite defesas à resignação e ao conformismo.
E gostava de comentar o ABRIL,
mas mais logo com mais certeza do a-propósito.
Que linda menina! Quem tem unhas...
Beijinhos.
eu comecei a dedilhar os acordes de «os olhos da marianita» :-)
Cheguei a Lisboa em tempo de fascismo e assisti, lá, à chamada revolução. A manifestação do 1º de maio de 1974 marcou-me profunda e positivamente.
Hoje, viveria tudo da mesma maneira; com a mesma esperança utópica (a utopia é possível). Entreguei-me à esquerda e à revolução com o mesmo espírito altruista com que, em pequena, me entregara ao cristianismo. Eu sei que «já estragaram a nossa festa, pá», mas não nos tiram as vivências. E alguma coisa se ganhou. Muita coisa se ganhou (ou não estaria aqui a escrever. A nossa memória selectiva apagou as perseguições, o medo, a miséria envergonhada... Quando, hoje, oiço dizer «no tempo do Salazar é que era bom», já nem sei se me assuste, se me alegre. Eu sei PARA QUEM era bom ( e ainda é...).Fico feliz por os jovens de hoje já não saberem o que foi viver em ditadura. Fico assustada porque a democracia tem de ser alimentada dia a dia, hora a hora e, se as pessoas se esquecerem de como foi, facilmente se deixam encurralar (já começaram) nas novas formas de limites das liberdades individuais, facilmente se deixam cegar pela demagogia, facilmente se deixam espezinhar...
Como uma vénia num sorriso amplo, num corpo belo de mulher e a delicadeza com a viola.
Boa interpretação que não conhecia, mas gostei.
Estamos a esquadrinhar no tempo, o que significa que os velhos tempos sim foram melhores.
Beijo-te com a delicadeza que me inspira esta foto tua
Abril de todas as nossas canções, de todos os nossos voos...
(o sorriso é o mesmo:)) )
a canção sempre com cortes no som, sempre a parar. mas conheço.
é como abril que volta e meia pára (também porque tentam fazê-lo parar), mas, continua...
Escolha perfeita com simbolismo especial.
Pegando na deixa da prof,
eu não vivi directamente a ditadura.
Mas já estou farto de comemorações da implantação de republica mais da restauração, mais disto mais daquilo, de militares a exibirem os passos de dança que sabem e a relembrar que são a nossa consciência com armas ao dispor e regalias em atraso.
Realisticamente não há a possibilidade do natal ser todos os dias, não há dinheiro para tantas prendas e as rabanadas dão muito trabalho a fazer.
Mas acho bem que se comemore o natal mais o carnaval e a páscoa, ou acontecimentos a que se associam práticas de natureza excepcional.
É para lembrar às novas gerações como antes era (muito pior)?
Não vale a pena, nesse dia é feriado e já está bom tempo,
Foram para o guincho, para a Caparica e para o Algarve.
Talvez fosse melhor ideia dizer-lhes na Escola.
É para lembrar os nossos heróis como se já não tivessem gozado os seus privilégios em forma de pensões, amnistias e promoções de carreira política e (ou) militar?
( e será que foram mesmo esses os heróis ou terão sido antes outros, anónimos passados rapidamente para o terceiro plano, assim que a probabilidade adquiriu vestes de certezas?)
Em 2009, estar de sorriso nos lábios satisfeito com a democracia(?) e a liberdade(?) de expressão que temos é de um miserabilismo angustiante, um forte sinal da nossa falta de cultura de exigência,
De sociedade refastelada à sombra da bananeira da memória das conquistas da juventude.
Eu não ligo a televisão nesse dia!
Querida Arabica
Bons tempos... em que se aprendeu muito.
Um beijo
Daniel
Arabica,
A música de intervenção tem estado aqui sempre presente, bem o sei. Antes de mais nada, é música.
Desta também gosto muito - e o poema é excelente.
Também gostei imenso da foto!!!
Sabemos que quem celebra o fim do fascismo também não está satisfeito com a situação que se vive hoje - o que parece escapar a muito boa gente, que confunde a comemoração de uma libertação com a nostalgia e a auto-satisfação.
Sabemos, sobretudo, que há coisas que têm que ser lembradas, porque não podem ser esquecidas. E que a luta não pode parar... e prefiro ficar por aqui.
Um beijo.
Permites-me sugerir que cantes sempre? Bem que o mundo disto necessita! :) Bom fim de semana.
Arábica
Tantas emoções que voltam com esta voz...
Bom fim de semana.
Lizzie,
como sabes pouco sei de lá de fora e o que sei é sentido em segunda mão, à mercê de documentários, livros e filmes (as viagens de férias são curtas).
Mas a minha opinião cá de dentro, é que sim. Se mantém. Mudou de forma, mas continua, mórbida sobre hábitos e costumes (brandos?).
Beijo, Lizzie Zizzie.
Solinho
também gosto muito deste poema na voz de JMB. :)
Retrata tão bem a ineficácia humana perante determinados destinos.
Agradeço a companhia na viagem de memórias. A menina sorri :))
Beijos
Zé,
é dificl lutar contra o conformismo, contra a desistência humana, em sede propria ou alheia.
É dificil e morosa a metamorfose.
E por vezes quando o espirito se liberta, fraqueja o corpo, cansado d outras guerras.
Aproveitando o comentário para o a propósito, mesmo que estivesse de chuva, nenhum jovem se deteria a ver, Zé. Quem acredita que este país, é filho de uma revolução de abril? Quem acredita perante a realidade actual, que exisiram mesmo cravos embainhados nas G3s e que um povo preso durante 48 anos, saiu à rua?
Por outro lado, em todo o mundo, Che Guevara é lembrado e acarinhado por milhares de jovens.
Por isso, acredito que não são os ideais da Revolução que estão em quebra, mas sim este país, que está em quebra, pouco inspirado e pouco inspirador de ideologias altruistas.
As conquistas aconteceram quando eramos jovens, tens razão.
Mas agora qu estamos "velhos", julgas-nos satisfeitos?
Por ventura o nosso cepticismo actual se confunde com o conformismo? Julgo que não, Zé.
E a geração a seguir à nossa, o que faz? Também estão adormecidos?
Conformados? Teriam ganho amor aos supérfulos? Estarão eles de acordo?
Quando e por quem foram substítuídos os homens heróis de Abril?
Abraço, Zé.
Prof.
também fiz parte dessa grandiosa e primeira manifestação do 1ºMaio.
Uma emoção transbordante no peito, a imagem do meu pai, falecido um mês antes na memoria, como se através da força do gesto impressa no braço, ele pudesse sentir através de mim, aquele momento.
Nunca mais seríamos os mesmos.
Nunca mais seriam precisas as casas de banho do liceu para distribuir a informação clandestina a exultar à esperança, à solidariedade e ao silêncio.
Nunca mais as casas dos nossos amigos, vizinhos, seriam estropiadas de noite. Nunca mais os homens morreriam em calabouços de tortura, em busca da verdade e da justiça.
Nunca mais!
O que nenhum de nós (sonhadores e idealistas) sabia é que o mundo em constane mudança, traria outros perigos mais brandos.
Que depois de obtida a verdade e a justiça, outros homens viriam e quereriam outras verdades e outras jusiças.
Que a euforia perpétua daria lugar a esta convulsão global e mundial.
Tal como a Prof., nunca deixarei de ser de esquerda, de querer a justiça social, o equiibrio, a dignificação humana.
E de sentir que ainda muito temos de lutar por essa democracia que sonhámos há 35 anos.
Cá estamos :).
Mais velhos, mais sábios, mais maduros, mais ponderados.
A estrada não é curta e a marcha ainda vai lenta.
:)
Um beijo
Querida Licínia,
a menina confessa que roía as unhas. Não muito. Mas até tarde.
Um beijo.
Duarte,
era uma menina, tinha 14 anos.
E tal como o nosso país mudou, assim mudou o meu rosto.
Para mim comparar os tempos foi sempre dificil, por razões meramente pessoais. Antes do 25 de Abril, tinha o meu pai. Depois do 25 de Abril, tive que fazer, muitas vezes, de homem da casa.
Assim se aprende, desde nova, a ser forte e livre.
E ainda assim, as vezes, tão frágil.
Tenho saudades desse outro tempo, apenas pelo meu pai.
De resto, brindei o 25 de Abril com toda a minha alegria.
É verdade. Era uma menina muito politizada.
:)
Um beijo.
Justine,
o sorriso a sorrir para ti :)) olha aqui :))
As nossas músicas.
As nossas palavras.
A nossa esperança.
Beijinhos
Arábica, fiquei arrepiada com o seu comentário. E houve uma lágrima que veio espreitar, a ver o que se passava
;-)
beijo
Triliti
:)
É um mês muito exigente, o nosso abril. A impôr-nos determinação e a lembrar que dos fracos, não reza a história :)
Beijinhos
Obrigada, José Manuel.
O simbolismo de 35 anos numa vida.
:)
Um beijo
Daniel, caro Daniel,
é uma grande verdade.
A quem fará sentido tudo quanto aprendemos? A que mundo pertence esse legado?
Haverá quem inicie o processo de habilitaçao de herdeiros para tal herança ideológica, cultural e social?
Um beijo.
Caro ALien,
é música e uma poesia excelente!
A partir vidros, a agitar as águas estagnadas, a clamar pela introspecção..
E por falar em água...convém realmente separá-las!
Celebramos a luta de que fizemos parte!
Não celebramos necessáriamente :) o estado...actual.
E que a luta continue, que os homens de boa vontade e indole lhe
dêem continuação!
Com sangue na guelra.
:)
Um abraço
Árabe, permito :)
mesmo que eu seja desafinada? :)
Obrgada, amigo.
És uma força.
Um beijo.
Marina,
emoção à flor da pele, comentário após comentário...
um beijo.
Prof.
por aqui também andaram algumas a bisbilhotar.
:)
É mesmo assim, são as nossas vivências.
Abraço.
beijos meus nestes dedos...
Arabica,
A memória de Abril é a memória de um tempo de entusiasmo e de alegria.
É claro que tudo mudou. E mudou para melhor.
Se está tudo bem? Não.
Estamos a milhas do sonho, mas Abril abriu as portas.
Beijos grandes
Paradoxos,
sorrio grata pelo beijo :)
Um abraço para ti.
Lola,
não fora Abril e teríamos todos morrido de morte lenta e claustrofóbica.
Ou emigrado aos milhares.
Dado o salto.
Mas é evidente, que se há quem afirme que o Holocausto nunca aoonteceu, também haverá quem ao fim d 35 anos, ainda possa vir a dizer, a pensar, a acreditar que não valeu a pena.
Mas nós sabemos que sim.
Faltam-nos milhas e a marcha vai lenta :)
Um beijo, querida Lola, bom sábado com morangos :)
A fabulosa poesia de Natália muito bem musicada e interpretada!
Abraço
Cheguei a Valência em março de 1968, tinha 25 anos. Perdi muitas das vivências que ficaram marcadas no tempo e que só avistei na distância, no tempo, nada era coerente. Até senti o desespero.
Tudo era contado e as noticias aqui chegavam em conta gotas e deformadas.
Posso afirmar que até sofri, impaciente, família e amigos que por ai deixei, eram a minha inquietude.
Desconhecia o que me contas, lamento ter tocado o tema. Fico intrigado. Talvez um dia falemos de tudo isto.
A beleza nunca se apaga e menos a do espirito.
Abraço-te emocionado
Rosa,
mais uma das de sempre.
Um abraço, bom fim de semana
Duarte,
não lamentes, 35 anos depois, consigo emocionar-me sem dor.
Cada um de nós trilhou o caminho que lhe foi dado trilhar e que conseguiu até certo ponto, modificar à sua imagem e passagem.
Durante muitos anos lamentei as várias rupturas que naturalmente aconteceram, liceu, colegas, as tardes a acontecerem mornas entre as mãos brancas e macias da juventude.
Um dia acorda-se e decide-se: ok, não era isto que querias para ti, mas é isto que tens. Vamos lá trabalhá-lo de forma a ser gratificante, para que a vida te não seja uma peña constante.
E aí, acabamos por realizar e sentirmos-nos realizados, acabamos por definir novas rotas e conceber novos espaços.
Imagino também o que te custou a ti, emigrar, o ter que procurar noutro país a tua rota, as saudades dos entes queridos, dos amigos, dos cheiros, das vozes.
Poucos são os que nascem sem escolhas a fazer, os que de alguma forma para fazerem frente a algo, não acabam por vira~r costas a cambiantes que lhe são, na mesma medida, queridos.
E ainda assim, a nossa incrivel capacidade de fazer das nossas quimeras grandes felicidades e das pequenas lutas ganhas do dia a dia, força motriz para seguir em frente!
E é dessa capacidade de guerrilhar contra o desanimo, os desaires e o medo, que afinal, todos nós precisamos e muito.
Um abraço, Duarte, com carinho.
Que grande que és!!!
Estou feliz por ter encontrado uma pessoa como tu, tão inteira. Que firmeza nas definições.
Abraço-te com afecto, querida amiga
Duarte
e de todas as vezes que quebrei, também quebrei inteiramente.
É recíproca a alegria, Duarte, bem vindo :) e és tão amável que temo nem ter palavras à altura.
Mas não sou grande, amigo.
Sou uma pessoa banalissima.
Beijinhos.
és uma menina tão bonita.
há um abril, sempre, dentro de nós. à escuta.
(tenho pena da não poder ouvir. agora.)
Rosa,
a menina de dentro sorri timida e agradece o mimo.
:)
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