domingo, janeiro 18, 2009

Latitude: 31º 30'N Longitude: 34º 28' E



A noite cai neste quarto minguante de lua desfeita em pó.

Doiem-me os ossos da alma. Juro-a doente. Como ter esta dor a percorrer-me as veias, sem uma qualquer doença fatal? Como voar se nos céus, o fumo das casas incendiadas me ferem as pupilas e dilatando o coração ao máximo que é permitido cardiológicamente, ainda assim, o sinto apertado, aprisionado, refém de fumos e fogos e olhos e ais?

Onde está o mel das tâmaras que me ofereceste?

Onde está o cântico dos regatos que prometias ser de paz e amor?

Onde está o meu irmão?

Tropeço.

Os arames farpados sobreviveram ao enterro do erro.

E o mundo é este erro contínuo de fumo e chacina.

Tenho a alma doente, fatalmente doente. Morro, sem alguma vez ter provado o mel das tâmaras que me ofereceste e sem algum dia, ter serenado nas tuas águas, meu corpo.






Latitude 38º 43'N Longitude 9º 08' W


O mundo é uma imensa mesa de jogo; dividimos-nos em dois grupos: mas os que jogam as seis mãos negativas são sempre em maior número dos que já passaram para a fase seguinte, das quatro rodadas positivas.


Poucos sobrevivem ao King.


Tenho frio, o mundo cansa-me, destroi-me a esperança, não gosto de processar de forma tão rápida, tanta informação, a tantas mãos, descoordenadas. Acendo um cigarro, bebo devagar, sem conseguir afastar este cálice. Amargo.


Eremito-me.

Música: Metáfora, Gilberto Gil.

.......... Rapaz a Arder, Naifa.

...........Até sempre, João, obrigada pela música e por todos os momentos em que nos levaste a cantar.



15 comentários:

bsh disse...

Brilhante, genial!!!

http://desabafos-solitarios.blogspot.com/

OUTONO disse...

Além da edição...irrepreensível, um descrever solto mágico e atento.
Gostei e muito.

Abraço forte.

Maria disse...

Agradeço a visita, que me permitiu conhecer o teu blogue.
Voltarei outra vez, com certeza.

Obrigada

Marcia Barbieri disse...

Deixei um selo pra vc. no meu blog.


beijos ternos

Filipe disse...

Então Adeus...!

pront'habitar disse...

uma escrita que pode provocar calafrios...







...



continuar

mariab disse...

Mais uma vez me encanto nas tuas palavras que, ainda que melancólicas, cantam uma melodia que me envoolve.

P.S. Desculpa não ter agradecido devidamente o prémio que atribuiste ao Espessa... Não leves a mal. sou mesmo distraída. Beijos e muitgo obrigada, amiga.

Teresa Durães disse...

São tantas as vezes que o desespero tomaconta de nós parecendo que nada do que aconteça nos aqueça.

Justine disse...

A tua litania-oração-lamento é doce, dolorosa,pungente.
Resta-nos o grito de solidariedade, neste mundo a arder de raiva.

(Noutro registo: a 2ª foto é um prato de arroz, os embrulhinhos são folhas de bananeira recheadas de legumes e arroz. Um encanto!)

E obrigada pelos parabéns, que retribuo:))

Anónimo disse...

Perfeito!
E ao som de Gil, mais fantástico.
Que a alma nos perdoe a poesia.

Beijos

adouro-te disse...

"Doem-me os ossos da alma."
Que expressão tão feliz para tão intensa dor!
Bjs

Nina Owls disse...

creio que nos ermitamos contigo. Enquanto o mundo distorcer assim, não saberemos jogar pra perder, nós humanos. Eu não sei jogar, avessa a esta competição. Se me cutucam, saio da montanha, senão, esqueço-me da humanidade...belo texto Arabica.
Boa semana

Alien8 disse...

Arabica,

Latitudes, longitudes e estados de alma. Ou a velocidade a que se processam os cálices. Uns e outros.

Que o amargo se tornará doce.

"A certos momentos de visão."

Um beijo.

PreDatado disse...

Excelente.
As coordenadas transportam-nos fisicamente.
A poesia transporta-nos a alma.
A genialidade não está ao alcance de todos.
Obrigado.


(entretanto tomei a BCG em pequena dose)

Gasolina disse...

Há dias em que simplesmente não somos. Não queremos. E até nessa ausência a dor é companheiro.


Beijo.