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Entardece lentamente no corpo de água oferecido ao tempo.
Prende-se o olhar nos ramos despidos que caiem em suspiros sobre o tronco e acende-se o desejo urgente de um café, um cigarro fumado ao ritmo da música que se deixou para trás, ah! se fosse possível, um café e um cigarro ao som de uma qualquer música que ficasse para sempre cravada na memória, reter o momento, olhar aquele rio nocturno uma última vez, dizer-se adeus no silêncio das ruas, agradecer-se a dádiva daqueles dias de serenidade e alegrias simples...
...como deixar para trás?
...e se eu ficasse mais duas noites?
E dois passos à frente, ler-se:
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Como ainda não tinha reparado? pergunto, mesmo sabendo a resposta, o chamamento era de árvores e sussuros de rio, de cheiro a fumeiro e céu aberto ...é melhor entrar devagar, parece feito por encomenda...estarei a alucinar?
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...despem-se devagar os agasalhos, discretamente belisco-me, vais acordar antes de saboreares o café; não tarda e dás contigo ainda deitada à beira da piscina, tudo não passará de um sonho bom; como se fosse possível nas Termas, um café iluminado ao pormenor, caloroso, com uma grande varanda sobre o rio, com espaço para fumadores e na companhia de Coltrane...
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...de certeza que estou a ver bem?
...será do ar? Do vapor termal?
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...despem-se devagar os agasalhos, discretamente belisco-me, vais acordar antes de saboreares o café; não tarda e dás contigo ainda deitada à beira da piscina, tudo não passará de um sonho bom; como se fosse possível nas Termas, um café iluminado ao pormenor, caloroso, com uma grande varanda sobre o rio, com espaço para fumadores e na companhia de Coltrane...
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. ... um café e uma água, por favor.
Acende-se o cigarro e enquanto se pondera sériamente ficar ou continuar para norte, muda a música, não se quer acreditar mais uma vez, estarão os deuses à espreita?
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E fica para sempre o momento e a música, impossível o corpo não a acompanhar, é o culminar de 48 horas perfeitas, na mais perfeita companhia, na mais absoluta contemplação, na maior simplicidade de formas e gestos...
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Saciados os olhos de verdes, saciadas as mãos de texturas, saciada a pele de água, o corpo de calor...should I stay or should I go? :)
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Música: Should I stay or should I go?, Coltrane quartet.
33 comentários:
Eu ficava...
:)))
Prosa maravilhosa e na companhia de John Coltrane,o melhor é acreditar e relaxar.E aliás,toda música poraqui é boa!!!
beijos ternos
O sol acende a tímida luz do dia
E embarco na viagem que nunca faço…
Abraço manhãs no ceio da chuva fria
Desbravo os ventos em trilhos do acaso
Um resto de um bom fim-de-semana
Com muita paz, saúde e muito amor…
O eterno abraço…
-MANZAS-
Relato lúcido com matizes de fascinação... a música! a adequada.
Um grande abraço
(Saciada?)
Fumam-se pensares e a emoção amarga-se um pouco na decisão.
Fantástico registo.
(Encostaste a lingua ao céu da boca para não haver sal?...)
Um beijo.
Saciada do que aqui se faz bem.
Momentos perfeitos, sabiamente construidos. A sedução, a sedução...
Um beijo e bom café:))
Pronto, eu disse.
Invejo.te!
essa serenidade.
Depois de tudo o que descreveste... eu queria lá saber de mais alguma coisa!!
Ficava mesmo!
Descreveste tudo de uma forma extremamnete cativante.
Lindo texto.
(Sendo verdade... ainda melhor!)
Fez-me lembrar os meus tempos de termas... tenho algumas saudades, sim. Sobretudo do vinho verde tinto, tirado da pipa e servido em malgas, «mailo» presunto macio, com q.b de sal, a broa, as azeitonas galegas e o queijo fresco, que eu descobri num restaurante aprazível a poucos kms.
Depois de o ter descoberto, era lá que lanchava, todos os dias. Na esplanada. Sob uma parreira.
E o anel de prata que me esqueci de tirar antes de entrar na banheira e que ficou oxidado com o enxofre. E a funcionária que quase me partia a espinha com as mangueiradas. E o eclipse de lua a que lá assisti, num dos anos. E os incêndios que nos atormentavam as noites; e os foguetes da festas que, mesmo com o perigo dos incêndios, continuavam a acordar a noite. E os mercados de artesanato...
Sim, um dia destes hei-de voltar às termas - mas sem o rigoroso horário dos tratamentos. Faço de contas que não sofro de dores e fico de papo pró ar
melhor ficar....
beij
:)
se tudo é prisão e amarra, pelo menos que as prisões nos dêem prazer, como o cigarro dá, ao fumador :))
Beijos
Maria,
...mas mais a norte, há abraços em atraso...
Marcia,
aproveitar cada segundo, aconteça ele revestido de que cor...
Todos os segundos em proveito próprio, até me sinto egoísta :)
Beijos
Manzas,
obrigada por esse moment poético
tão por dentro dos trilhos, por aqui vividos...
Abraço
Duarte,
a música aconteceu lá, apenas passei para o papel o sucedido :)
Talvez devido a toda a envolvência do sítio, o entardecer sereno, as luzes mágicas do inicio da noite, me tenha levado ao fascinio que tu bem notaste...
Há momentos assim, em que por puro acaso -ou não?- estamos no sitio certo, à hora certa...
Um beijo cá de longe para ti :)
Gas,
saciada.
A decisão não se amarga, porque a norte nos chamam boas memórias e abraços ternos...
:)
E mais pão quente.
:)
beijos
Ainda Gas,
domado o mar, deixei o sal na porta ao lado :)
Licinia,
completamente seduzida, rendi-me ao momento :)
Há dias em que tropeçamos no que procuramos, como se peça que faltava para o puzzle se concluir, estivesse mesmo ali à nossa mão...
Amiga, é muito, muto raro.
Fica o registo e a música.
E um abraço.
Oh M., pudesse eu dar-te alguma, assim, de forma simples, enviar-te num envelope lacrado, tudo quanto por ali respirei e senti...
Serenidade não é ingrediente usual ou vulgar neste tempo, é preciso treinar muito o distanciamento, o desapego...
Uma vez li, que o Mestre só aparece quando o aluno está preparado para o perceber...talvez esta viagem, de mochila às costas, solitária, serena, feliz na sua simplicidade e ambição, não o fosse, não fosse sequer especial, para outro ser que não estivesse no mesmo ponto do caminho...
Ontem um amigo, ao ler o post, telefonou para saber onde andava eu...no fim disse, não sei como tens pachorra :))
Esta serenidade constrói-se...ainda vais a tempo, M. querida! :)
Mfc,
é tudo verdade :) e esta foi realmente a minha última noite nas Termas de S.Pedro do Sul (onde pens voltar, claro!!!)
...percebendo quase o estado de graça em que me encontrava, no dia seguinte, depois de almoço, depois de um último banho na piscina, segui viagem...
Ainda bem que gostaste :)
beijo
Prof.,
Há muito que não visitava as termas. Da última vez, as minhas filhas eram pequenas e lembro-me de ter estado na brincadeira com elas, numa praia fluvial...
Fui em formato de papo para o ar, sem tratamentos, sem horários, sem qualquer disciplina...
Fui, porque tinha rio, verdes vários, promessas de pão saboroso, de uma piscina quente para descomprimir os musculos cansados dos últimos 6 meses, fui porque de repente era urgente partir, fazer-me à estrada e sair :)
Só é pena não poder fazer destas saídas modo de vida :))
Beijos
Sol
:)) há sempre forma de regressar rápido :)
Beijos
Oh Arábica
Como tu teces bem estes momentos... tecedeira de momentos com palavras de muito boa qualidade... é o que (também) és!
Gosto de ler!
Gosto de vir aqui!
:)))
you should stay, indeed. you must stay forever! nighty night :)
fascinante...
beijo
Fica-me a dúvida: ao som de saxofone ou de piano?...
abraços!
Querida Arabica
O Carnaval surge das serpentinas ao lado das flores... :)
Deves ficar ou partir? (in English)... tudo depende, as always,... procura dentro de ti, no fundo...
Um beijo
Daniel
mdsol, obrigada :)
Tecidas palavras no fio dos momentos que nos acontecem e que se tornam especiais na longa cadência de outros tantos, cinzentos e sem qualquer particularidade :)
E já sabes que é recíproco :)
Beijo
Li :)
Para sempre é muito tempo :)
E a alma saltibanca que faria?
beijos
Heretico
foi um bom momento :)
Tinta
ao som de todos os instrumentos, ao som dos pássaros que chilreavam lá fora de regresso aos ramos, ao som o vizinho da mesa ao lado que falava de transferencias bancárias :)
Beijos
Daniel
não são serpentinas!!! São velas :)
Parti como estava programado, tão feliz como se tivesse ficado :)
beijo
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