quinta-feira, abril 30, 2009

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Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu
a ti o deves
lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso,
a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa.
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
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José Afonso






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Música: Utopia, Zeca Afonso.
Um dejá vue.

terça-feira, abril 28, 2009

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hoje, voltava aqui
e voltava a subir a mesma escada
com a mesma ânsia de a descer.
hoje, voltava aqui
voltava a ler o mesmo jornal
a ler as mesmas notícias
e voltava a olhar o mar
como se nada houvera lido.
voltava como se nunca tivesse saído
e saía como se nunca houvesse entrado.

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o mar chama-me.
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Música: there is a light that never goes out, Morrissey
in this world, Moby
(estes 30 segundos racionados de musica desesperam-me!)

domingo, abril 26, 2009

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E por falar em cegonhas...

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"A nossa utopia fez-nos sonhar com um mundo novo, mais justo,
mas esse mundo novo, é este, transformado."
Luís Valente Rosa, o homem novo.
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Musica: Há-de Haver, Cais da Saudade.
Vou sair para comprar cigarros, Jp Simões.
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sexta-feira, abril 24, 2009

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. A rapariga deitada na marquesa, o médico com as suas mãos suaves e mornas
calcando o estômago -quem é aquele? a rapariga estranha a pergunta, é Che Guevara,
não acredita que o seu médico não saiba a quem pertence o rosto que traz pendurado
no casaco de malha larga, pousado sobre a cadeira.
Agora as mãos pousam sobre o fígado, ela sabe de cor a sensação do fígado comprimido
sob os dedos experientes. Retém a respiração.
Então e a ovulação o que é?
Percebe a provocação.
Sente-se enrubescer.
Olha-o nos olhos e diz, eu sei o que é.
Espero bem que saibas.
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associa hoje a revolução a um óvulo que tarda em amadurecer.

em ser liberto.

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...não assistimos a uma revolução,
fazemos parte dela.
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Musica: Hasta Siempre, Carlos Puebla.

quinta-feira, abril 23, 2009

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Paolo Giordano nasceu em Turim em 1982, licenciou-se em Fisíca e escreve coisas assim:





"Os números primos apenas são divisiveis por um e pelo próprio número.


Estão no lugar que lhes é próprio na infinita série dos números naturais, esmagados como todos entre dois, mas um passo mais mais além, relativamente aos outros.


São números desconfiados e solitários e, por isso, Mattia achava-os maravilhosos.


Por vezes achava que tinham ido parar por engano àquela sequencia, que tinham ficado lá aprisionados como pequeninas pérolas num colar.


Outras vezes, ao invés, desconfiava que tambem eles gostassem de ser como os demais, apenas uns números quaisquer, mas que por algum motivo não haviam sido capazes..


O segundo pensamento surgia-lhe sobretudo à noite, no emaranhado caótico de imagens que antecede o sono, quando a mente está demasiado débil para mentir a si mesma.


Numa cadeira do primeiro ano, Mattia estudara que entre os números primos há alguns que ainda são mais especiais.
Os matemáticos chamam-lhes primos gémeos: são pares de números primos que estão proximos um do outro, aliás, quase próximos, pois entre eles existe sempre um número par que os impede de se tocarem realmente."





"A solidão dos números primos", uma leitura de inquietação dolorida.
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Música: Love, Rosey / Koop Remix

domingo, abril 19, 2009

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(Para as verem penduradinhas e verdes, cliquem nesta foto)
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....o mistério de um bule sob uma alfarrobeira,
no páteo da Pousada de S.Brás de Alportel...
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Foto: Alfarrobas, Observatório do Algarve






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Música: Swan Lake, Tchaikovsky

Hakuna Matata, The Lion King

Naquela linda manhã, Pan

For a moment, The Litle Mermaid.

sexta-feira, abril 17, 2009


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ABRIL

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Música: Queixa das Almas Jovens Censuradas, José Mário Branco
(poema de Natália Correia)

quarta-feira, abril 15, 2009

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Às vezes, à quarta.
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Do outro lado do oceano...

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...até ao fim da rota...
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Agradeço à Val com toda a minha ternura porque acredito em fios invisíveis que,
se iluminando,
nos dão a conhecer um mundo mais humano.
Mais solidário.
Mais próximo.
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E como neste frenesim de mundo, em convulsão social,
um Selo
é uma pegada,
um rasto,
um sinal,
aqui ficam
os trilhos,
por onde, a partir de agora, seguirá.
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por carta registada :)
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Música: Começar de novo, Simone e Ivan Lins.

segunda-feira, abril 13, 2009


Pastelaria


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Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
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Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
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Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
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Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
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Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
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Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
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Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
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Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
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No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra


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Mário Cesariny
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Declamação: Pastelaria, de Mário Cesariny, Os Poetas.

quinta-feira, abril 09, 2009

Daqui: cantar Adriano, homenagear Adriano

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E aqui vos deixo o Pedro e o Manel T.,
corações militantes do projecto cais da saudade,
conforme prometido em edição de Março

(o prometido é devido).



E porque já faltam poucos dias, convido-vos ao canto,

afinando o sonho e a memória...


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Comecemos por varrer as tristezas e por último,

fazer do vento, "a força".





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Fotos: no imortal Çahroi {bar onde muitos rios confluem}

em Gouveia (Sintra) Março 2009



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Músicas: Rabo de Nube (de Silvio Rodriguez)

Há-de Haver (poema de José Saramago, música de Manuel Teixeira -o Manel T).

Saias ao Luar (letra popular, arranjo musical do cais da saudade)

Trova do Vento Que Passa (poema de Manuel Alegre, música de António Portugal)



pelo Projecto Cais da Saudade.

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segunda-feira, abril 06, 2009


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...adormeceu e sonhou com um dragão, um grande e magestoso dragão alaranjado
que se aproximava dela, como se os dragões ondulassem como serpentes
e sorrissem como pessoas, olhos vivazes postos nos dela, boca agigantada e aberta
onde alguém a incitava a depositar a sua mão,
lembra-se do espanto da mão a entrar na boca do dragão, do espanto da ausência de dentes e da ausência das labaredas de fogo que tanto temia,
espanto daquela boca húmida, quente, macia, a aprofundar a envolvência na sua mão
e o espanto a crescer tanto dentro dela, que a acordou, no espanto de ter sonhado,
ainda com as cores do dragão raiando entre o laranja e o rosa,
nas suas pupilas dilatadas, a boca do dragão desenhada no escuro da sua mente.

escreveu:

[a dor é uma boca de dragão que se aprende a enfrentar no fogo húmido do silêncio uterino]






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Imagem: O Dragão de Edo, 2007 (iniciativazen)


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Música: Ukifune, Japanese Shamisen

quinta-feira, abril 02, 2009

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Chegar a casa, soltar-se dos sacos de legumes e pão, descalçar-se, acender um cigarro,
ler os últimos comentários, passar mais uma vez os olhos pelas fotos das últimas edições,
ser feliz com pouco, em apêndice de nota bibliográfica e repentinamente, o bater de uma



velha história,
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com o pai às portas da morte e a mãe submetida à dor profunda,

a rapariga faltava às aulas de matemáica para se refugiar em galerias de arte.

Planava sobre o tempo da fuga, como quem descobre a luz depois de uma longa e transversal cegueira que a destruía dimensionalmente.

Sorrindo para as cores das telas, jurava que os vermelhos sangue lhe falavam de vida, lhe prometiam vida e que os verdes eram sucalcos de terra que nunca tragariam a mesma vida, nunca amargamente tragada, nunca visceralmente tragada, levada antes disso pelos anjos, azuis de asas entrecortadas pelo céu, delineadas pelo sonho, dos ocres em gritos mudos, que em si sentia, sem palavras ainda -no seu reduzido vocabulario verbal de dor, para os descrever como quem constroi uma composição, 50 minutos de tempo e depois a folha entregue à professora, aqui está a minha [dor]. E a professora olhando a página parca em palavras, diria mereces um 10, apenas um 10, esperava mais de ti. Ela não sabe da recusa da rapariga, na escrita do vocabulário de dor, fugindo pela cor das galerias de arte, pequenas, silenciosas, no quarteirão contínuo à folha em branco, à equação que se recusa a solucionar, da raiva dos números, tão racionalmente, simples, nús, sem crises existenciais.


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Acariciando as texturas das peças expostas, imagina acariciar a pele do pai prematuramente envelhecido de morte. Sabe que hoje ou amanhã, ele voará nas asas azuis da noite, da tela, da vida...Detém a mão, para lá do horário asséptico das visitas no hospital, para lá dos tubos, para lá dos balões de oxigénio, para lá das lágrimas que lhe saltam aos olhos, dos pretos que lhe vestem já a alma, das sombras dos anjos que se hão-de vestir de azul..



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Nunca perceberam se a rapariga era inconsciente, se apenas louca.

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Dou alvíssaras a quem conseguir ser o meu visitante nº 2901 :-D
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quarta-feira, abril 01, 2009

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Cruzeiro Seixas / Manuel Patinha
"sem título" (1961)
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Paula Rego
"Retrato de Mário Cesariny" (1968)

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Escada
Sem título (1975)
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Philip West
"Sangre y arena" (1990)
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Eurico Gonçalves
"Os pássaros" (1950)
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João Rodrigues
"Tarde outonal tratada com muito poder de observação pelo protagonista
aliás, fácil de identificar" (1958)


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João Rodrigues
"Homenagem a Barros Queirós" (sem data)


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Eugénio Granell

"sem título" ? (1978)
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Música: Paris on Ponce, Rene Marie.
Annie Mae ' s Cafe, Bobby Blue Bland (agora)