segunda-feira, fevereiro 16, 2009

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Anoitecer nas ruas desertas das Termas, poderá ser o encontro com os nossos mais antigos e estimados fantasmas e medos ou, pelo contrário, a comunhão entre todas as partes de que somos feitos.
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A paisagem devolve ao nosso olhar o que sentimos, a paisagem é o que somos.
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Ao contrário de Pessoa que no Livro do Desassossego escreve "não acredito na paisagem" e que "o que existe é sempre em outra região, além de montes" eu acredito na vida submersa das pedras do rio e na vida secreta da terra fecunda, no momento exacto em que sentimos o pulsar de todas as matérias e vidas em nós.
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E se o levei (Fernando Pessoa) como companheiro de viagem, a viagem me devolveu -ainda que, através dos rios subterraneos do meu ser, irónicamente, a contradição das suas palavras:
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"Cessei, como o sol na minha paisagem. Não fica, do que foi dito ou visto, senão uma noite já fechada, cheia de brilho morto de lagos, numa planicie sem patos bravos, morta, fluída, húmida e sinistra."
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Música:The Dark Night of Soul, Loreena McKennitt

26 comentários:

ze disse...

"a comunhão entre todas as partes de que somos feitos"

Há cada privilegiado(a)!

Beijos, sem o pecado da inveja.

Lizzie disse...

Primeiro roubo um pato para o juntar aos outros que já tenho na minha paisagem.

Depois, depois é bom sentirmo-nos bem e com justo lugar na relatividade das coisas: humanos fazendo parte de um todo, de tudo quanto cumpre ciclos, nasce e morre, sem a prepotência arrogante da racionalidade.

As noites não são mortas. Não têm sintomas de morte e, se calhar são indiferentes à classificação tenebrosa, mesmo quando metafórica,que os humanos lhes dão.

À sua maneira, os patos ou as pedras, também escrevem textos nos rios. Que correm numa qualquer paisagem.

Besos

Teresa Durães disse...

por isso é o livro do desassossego

O Árabe disse...

Encontro com os nossos medos... eis algo de que não podemos fugir. Boa semana, amiga!

coxa e marreca disse...

Para mim a paisagem é de grande importância. Ajuda-me a encontrar-me e a sentir-me bem. Ou não.

Licínia Quitério disse...

Guardo os ecos desse lago-rio respirando fumarolas e o chape-chape dos patos e os reflexos no espelho do profundo. Eu na varanda das noites sobranceiras às águas.
Saudades muitas, Amiga.

jorge esteves disse...

Nem o coaxar das rãs quebrou a quietude que, parece, prenhe do desassossego que a noite escondeu dos patos...


abraços!

Alien8 disse...

Arabica,

As contradições são, muitas vezes, mesmo muitas, o que nos move. Ou comove. Boa observação, a da Teresa... e a Lizie não podia deixar de levar o seu pato :)

Eu gosto da noite.
Talvez por ser uma e outra das coisas que dizes.

Um beijo.

Duarte disse...

Quase sublime... a noite. Fez-se o silencio, só se ouvem os quase imperceptíveis movimentos dos patos e o respirar dos peixes... é o silencio da noite!

"... piel de melocotón"

Um abraço, meu

Anónimo disse...

a menina acha bem dar cabo do que resta do meu coração com uma música destas? :) tão linda! e as fotos? são tuas? são o máximo! e eu também acredito no que tu acreditas. o pessoa estava muito ocupado com ele e todos os eles dele para poder apreciar a bela paisagem da vida. em pequenas doses :) beijinhos.

Val Du disse...

Tudo vai muito além do que vemos.
Sentir é existir.

Um beijo.

Arábica disse...

Zé,

há dias assim, em que acordamos inteiros, sem nuvens que nos dividam, sem dores que nos distraiam, sem angústias que nos peneirem o sol ou ansiedades que nos façam tropeçar...

Estar onde estamos porque queremos estar, pelo tempo que nos apetecer, sem ponteiros de relógios...

Abandonarmos-nos ao momento, aos sentidos e deixarmos-nos ir ou estar...

Para a "stressada" que já fui é quase como conhecer a vida numa outra dimensão.

Ter atravessado uma qualquer barreira ou muro e ver tudo com novos ohos...


Beijo, obrigada pela tua companhia :) fizeste-me rir, numa sala impessoal e fria de hotel, quando li o teu comentário, sobre o que a tua mãe dizia :) a ideia dos bombeiros foi aterraora, orque realmente m tinha esquecido que o esquentador já não era "inteligente" e que o deixara ligado...felizmente só voces me visitaram :) e a casa não ficou chamuscada :)

Arábica disse...

Lizzie,

Os patos pertencem ao entardecer celestial e estão mesmo à mão de semear (ou de qualquer roubo fotográfico)...é pena escurecer tão rápido naquele local do rio, longe de candeeiros (será por isso que eles o escolhem?)...

Terás mais para roubar :)) são uma delicia a que não me furtei de fotografar...sabendo de antemão a quem ia surpeender :))


Besos para ti também

Arábica disse...

Teresa,


e que desassossego!

Sabes que é um livro que sempre mexeu comigo? Alma esponja ou lá que raio tenho :))

Arábica disse...

Árabe,

se fugirmos deles não mais os poderemos desconstruir...


Sabe bem a desconstrução de um medo.

Tão bem como a construção de um sonho.


Talvez o medo impeça a construção do sonho, o arquitectar sólido dos alicerces...


Abraço de aquém e além mar.

Arábica disse...

Coxa

partilho desse teu pensamento e nem sempre tenho fome das mesmas paisagens.

ze disse...

O cinzento é composto de branco e preto, cores limite que aparecem pouco na vida a não ser misturadas.

A minha mãe, com a sua personalidade fora de vulgar, ajudou-me a perceber que há sempre uma pior hipótese, por pouco provável que seja. E que é nela que nos devemos concentrar a cada momento.
Criou-me por oposição (nisso e noutras coisas) um optimista, mas um daqueles cinzentos (preto +branco) que deixam sempre um pé de apoio atrás, consciente da pior hipótese e treinado no cálculo da sua probabilidade.

Arábica disse...

Licinia,


é um rio de caudal abastado das saudades que vai deixando pelas margens...

como troncos que se curvam -RESISTENTES - à passagem do tempo...


Abraço-te, Amiga.

Arábica disse...

Tinta,


é uma verdade, nem o coaxar das rãs inquietou o momento...

beijo.

Arábica disse...

Alien


gosto das contradições que o tempo nos traz, porque de alguma forma, representarão talvez evolução...saída do estático, libertação...


E gosto das noites, sempre gostei, as minhas olheiras crónicas o confirmarão :)

(só não tenho grande estima pelos nós que por vezes me apareciam a desassossegar as noites rsss)


Beijos

Arábica disse...

Duarte,


com "piel de melocotón" caminhou a minha alma de forma sublime naquelas duas noites silenciosas de caminhos de rio, e, porque não confessar? O corpo também, de repente lembrado da urgência de hidratante :))


Espero que gostes das janelas portuguesas do próximo post :))

Abraço

Arábica disse...

Li,

a "menina" também gosta muito desta música (aliás a menina gosta muito do trabalho da Loreena McKennitt) :)

Sim, Li, as fotos são todas minhas com excepção do post de 27 de Janeiro e da foto do perfil :)
Sempre tive paixão por fotografia e a era do digital em muito veio ajudar :)

Tens razão e não é só Pessoa, andmos todos demasiado cheios de noticias, acontecimentos, arrelias, desgostos e contra-gostos, para por vezes, podermos tirar partido do que a naturea ou a mão humana em gesto benevolente, nos têem a oferecer...

Não só são ncessários estes balões de oxigénio, como antes, o esvaziamento de tudo quanto nos sufoca e oprime...

Respirar fundo e....


beijos para ti, menina :)

Arábica disse...

Li e também a foto da Omer não é minha.

Mas lamento...

Arábica disse...

Val


"invejo", quem como tu, diz tanto em tão poucas palavras :)


Sábia.

Toma lá um beijo meu :)

Arábica disse...

Zé,


começo a sentir-me identificada com as ideias da tua mãe, embora reconheça, porque já experimentei, não ser nada fácil viver o branco, esperando o preto...Não será de 50/50 a probabilidade do preto e do branco? E enquanto assim vivemos, com um pé no branco e outro no preto não viverá o nosso coração em todos os matizes de cinzento?

Cansa, sabes?

Chega um dia e queremos a paleta recheada de todas as cores a que temos direito.

É nessa altura, creio, que a lei matematica das probabilidades se torna mais complexa :)


O meu signo chinês é o Rato. Pergunatarás a que vem isto a propósito :) mas segundo a "sabedoria chinesa" os ratos gostam imenso de se divertir e comer bons queijos, desde que sintam as suas costas bem protegidas. Julgo que é o equivalente a ter sempre um pé atrás.


Não vá um gato, tecê-las ;)

ze disse...

como o rato a comer o queijo,
É isso mesmo que eu queria dizer.

O uso da palavra "cinzento" é uma pequena provocação à habitual associação (quiçá injusta) a esta bonita côr.
Eu sou um defensor dos injustiçados, como a chuva e o cinzento.

Os riscos são para ser corridos e petiscados, mas eu pese as desvantagens, prefiro ainda assim saber que são riscos.
Apenas tendo por fim limar as partes do risco sem contrapartidas do meu gosto.
Pessoalmente, o queijo nem me sabe pior assim.