segunda-feira, fevereiro 23, 2009

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Como escrever o dia
em que as casas
cresceram
para dentro do ventre da terra
e os homens declinaram
e os miúdos riram
e as mulheres se agarraram
aos pilares voláteis das chaminés
como quem procura
o chão?

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Como descrever o movimento
contínuo
das árvores a vogarem
a terra com os braços em remo?

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Como descrever o negativo interno
das ruas
o sustentável desequilibrio
das coisas e dos seres
de pernas para o ar
caídas de espanto
na vala paradoxal do tempo?

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Como descrever
a noite que golpeou
o estado do dia
a dor
que perfurou
o corpo
o corpo que mergulhou na terra?

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Como descrever o riso das crianças no uivo dos lobos?



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Música: Thaba Bosigo, Dollar Brand.

35 comentários:

Anónimo disse...

o título deste blog serve de resposta a cada uma destas perguntas :) mas eu acrescento: com ternura, com amizade, com respeito, com amor, com alegria!

um grande beijinho, arabica.

Justine disse...

Descrevê-lo melhor do que tu é dificil!
Excelente.
(Contudo, às vezes o sol brilha...)

Alien8 disse...

Arabica,

Para o meu "Que", o teu "Como"... :)

Excelente, de facto!

Um abraço.

mfc disse...

Os paradoxos observam-se e tu fizeste deles uma descrição bem linda com essa tuas lúcidas interrogações!

Maria disse...

Como (d)escrever o que sinto em comentário?
Como descrever o riso das crianças?
Belo! Muito.

Um beijo

pb disse...

Não há descrição, apenas é a vida que alguns, a maioria, tem...

Vidas cinzentas, desalinhadas, sem cor. Um beijo

PreDatado disse...

Como escrever ou descrever requer muito talento. Talento que se encontra nas palavras que escreves.

Licínia Quitério disse...

Não sei, Amiga, não sei. Talvez dizendo das gotas de sangue sobre a neve. Talvez esta música cortando o fio do silêncio. Talvez o riso dos amigos contra o frio.

Um beijo de sol contra a sombra. Em ti.

jorge esteves disse...

Talvez seja o Primeiro dia em que não haverá dia; só haverá o que houver para haver...

abraços!

Mare Liberum disse...

Vim agradecer a visita e gostei da leitura. O poder encantatório da poesia fascina-me.

Bem-hajas!

José Carlos Brandão disse...

Há muitas crianças felizes no mundo. Como acabar com essa peste?
Oras, nós amamos essa peste. Dói por que são o nosso oposto.

Abraços.

vieira calado disse...

Trata-se dum poema muito interessante.
Gostei sem reservas.


Desejo-lhe um bom Carnaval.

Duarte disse...

A vida está cheia de cicatrizes que nuns se fazem mais notórias, desgarram os sentimentos. Mas que não acabe com a esperança de um dia radiante de sol para todos.

Abraço-te com ternura

Heduardo Kiesse disse...

um documento poético sem dúvida muito bonito e inspirador!
abraços

Heduardo Kiesse disse...

"Como descrever o negativo interno
das ruas
o sustentável desequilibrio
das coisas e dos seres
de pernas para o ar
caídas de espanto
na vala paradoxal do tempo?"

opa não é sublime?

- sim!!

Maite disse...

Cara Arábica

Muito inspirador este seu poema e cheio de um talento invulgar.

Um bom dia para si

P.S. voltarei com certeza

uf! disse...

Caramba!

observatory disse...

http://fiolimpo.blogspot.com/search?updated-max=2009-01-08T21%3A00%3A00-08%3A00&max-results=1



o h e a l -

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

sem dúvida um belo poema!

fiquei a pensar...

Beij

dona tela disse...

Alguma vez eu era capaz de escrever assim? Que bonito, Dona Arábica.

mdsol disse...

Assim, como tu descreves!
(qualquer dia passo a deixar só :)))... É que estou sempre a repetir o comentário... gosto de ler! O resto é para sentir, e nem sempre se encontram as boas palavras para o dizer)

:)))

ze disse...

Resposta:
Já descreves-te,
progressivamente ao adicionar de cada pergunta.

A definição do negativo é provável e paradoxalmente a mais clara.

Parabéns

Ƭ. disse...

não se preocupe em descrever, ou descrever-se...

permita-se a sentir!
isto, pelo jeito, já o faz mto bem!

um espaço cheio de ternura e carisma, parabéns!
:)

Anónimo disse...

por vezes, parte das respostas também estão nas interrogações que formulamos.
mas eu acredito que a real dimensão da dor, do amor, do ódio ou da alegria nunca poderá caber na pequenez das palavras.

** a humana envia um abraço.

marradinhas amistosas
idun-a-felina@sapo.pt

~pi disse...

bela música, dollar brand,

( tudo é uno e tudo está em tudo,



beijo



~

Manuel Veiga disse...

perturbante cascata de imagens poéticas.

... e no entanto belas.

beijo

Pedro Branco disse...

Nada sei de respostas... Deixo-me embalar e enrolar pelas perguntas.

Obrigado pela visita.

Paulo disse...

Belíssimo poema. Vou voltar

Val Du disse...

Reflexivo e muito bonito esse poema.

Foto linda!

Beijos.

isabel mendes ferreira disse...

não se descreve!!!!!


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beijo.


(grata pela constância....lá)

Lizzie disse...

Parece que botaste as palavras e o mundo ao espelho:temos mais o reverso das coisas que o hábito fácil delas.
Uma afirmação confortável, quando vista ao espelho, inverte-se pergunta.

E o mundo não gosta de perguntas: prefere as respostas dadas em andamento e sem olhar para trás. Quem pergunta, normalmente pára e utiliza muitas palavras. Quem responde pode correr na síntese de um Sim ou Não. Com ou sem consequências.

Quem pergunta já pensou para perguntar.Todas as perguntas são filhas do pensamento. As respostas são tantas vezes enteadas...

Besos, que o relógio continua a roubar as horas:))

Rosa dos Ventos disse...

Como tu dizes tão bem!

Abraço

maré disse...

é impossível
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escrever

o mosto

a vírgula

do sentir.
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belo poema Arábica

_____-

um beijo
e
obrigado

mariab disse...

com a beleza das palavras... como tu fazes. que as sombras se inundem de luz. e o riso das crianças seja só isso mesmo.
beijos

Arábica disse...

Obrigada.


Há perguntas que nos queimam, que nos possuem, que nos incendeiam os olhos, a boca, as mãos, o porvir.

Há palavras que não chegam, nunca.

E assim se desmaterializaram, no silêncio fecundo do curso d'água que passou...


Beijo-vos.