sexta-feira, março 06, 2009

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Sai apressada de casa, despindo lentamente dos olhos,

as paredes e telhados da cidade.


Sem relógio, sabe pela cor do rio, o tempo que já não tem.


Veste-se de gaivota e em contemplação dorme,

de sentidos despertos.



Vigilante, talvez espere do vento,


o sonho das asas


na tela incompleta.



Ausente, do mundo dos outros,


tanto quanto lhe é possível,


em engenho e clarividência,



como se o rio já não existisse


e a outra margem


apenas fosse a névoa dos seus olhos...

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E quando a noite cai, veste de novo em abrigo, as paredes e os telhados da cidade.

Sabe há muito que todas as permutas têm prazo de validade.

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Música: Romantic Sea of Tranquility, Celtic Relaxing.

25 comentários:

Maria disse...

Será essa sabedoria que a mantém viva, atenta e vigilante...

Beijo

rosa disse...

gostei de te ler.

:)

Anónimo disse...

"sem relógio, sabe pelo rio o tempo que já não tem" é um grande verso, que me transporta para muitas ideias similares que já tive e que, no entanto, não consegui exprimir assim... um grande beijinho, querida amiga. bom fim de semana!

Lizzie disse...

Vadiagem com apetite de ausência?
Fugir do dia em direcção à noite onde o tempo está mais protegido para soprar memórias?Onde a validade ora se torna crua ora se veste de ilusão?

Com que sonhará a liberdade das gaivotas?

Bom fim de semana!

Besos!

Rosa dos Ventos disse...

Um autêntico fado...
Lindo!

Abraço

mdsol disse...

Já te disse que gosto das tuas palavras?
E do modo como as completas com imagens?
:))))

mariab disse...

sabedoria adquirida. e tão bem dita...
beijos

Duarte disse...

Estas palavras tuas tem o ritmo, e a música a melancolia, do fado. Gostei muito pela cadencia que imprimes à palavra e como a cobres dum luto translúcido. Bom domínio do léxico, que me cativou.

Reconhecido, beijo-te com amizade

Heduardo Kiesse disse...

que a nossa amizade não tenha nuca prazo de validade!
tua palavra é doçura!!
beijinhos em ti

ze disse...

Dentro do leque de transportes quotidianamente percorridos
Nas transições dia/noite; indivíduo/sociedade;...
O barco é o mais capaz de nos preparar,
Com tempo e distancia em movimento,
Física e psicologicamente,
Para as travessias, transições
Do dia a dia.

No outro extremo está o metro

E claro que gostei da fotografia,
De um olhar potente de percorrer o horizonte,
esperando apenas pela chegada do seu instinto predador
para o realizar.

Teresa Durães disse...

infelizmente esse prazo de validade não vem indicado.

Alberto Oliveira disse...

quem me dera ser gaivota*
e ter prazo de validade
andava de porta em porta
vestindo de branco a cidade.**

* No masculino.
**Que já foi a cidade dessa cor. Agora é mais para o pálido...

Beijinhos e sorrisos.

mfc disse...

É sempre aliciante ler-se uma escrita que, sem ser directa, nos leva a sentir todas as emoções que imprimiste às tuas palavras.

José Manuel Dias disse...

A palavra escrita expressando sentires...

Manuel Veiga disse...

escreves e descreves muito bem sentimentos e atmosferas...

gostei muito deste texto poético.

beijos

Duarte disse...

Voltei, mais relaxado, depois dum café e duma manzanilla, para recrear-me no como te expressas.

Palavras que deixas cair com a força existente em cada acepção, daquilo que transmitem, como o sentir da ave.

Gosto das gaivotas, mas no seu habitat, não das cidadãs, que acabam por sujar telhados e beirais.

"Sem relógio, sabe pela cor do rio, o tempo que já não tem"
Quando cheguei a México DF, o primeiro que me disse o meu amigo Filipe foi que não levasse nenhum complemento que visualmente pudesse ser atractivo para os que me vissem. No dia seguinte fez-me guardar o relógio montblanc que levava e deu-me um "celular", é o nome que lhe dão ao "telemóvel", e se me fosse roubado que me daria outro.

Beijinhos e um sorriso de satisfação

Arábica disse...

Duarte,

fui ao teu blog mas não me foi possivel deixar comentário, dava erro! :(

Quanto ao relógio, deixei de usar os meus quando me reformei. Às vezes, tenho saudades e uso, mas, mais, porque gosto de relógios, do que por necessidade.

Na realidade, sei ver através das mãos (cada mão na horiontal, representa uma hora na distância existente entre o sol e a linha do horizonte) quanto tempo falta para a noite chegar.
Ademais, a cor do próprio rio indica-nos com relativa transparencia se a tarde ainda dura ou ameaça desaparecer rápido...já são muitas tardes sem relógio :)

Só quando tenho compromissos me auxilio do relógio do telemóvel.

O que se passa no México, passa-se mais ou menos, segundo me dizem, em toda a América Latina. Relatos de roubos não faltam, infelizmente.

Eu gosto de gaivotas em qualquer lugar. Conheço uma que vive há anos, num edificio do Bairro Azul, em Lisboa. Já a fotografei. Está bem alimentada :) é bonita e de vez em quando, ainda se faz ouvir.

Julgo-a perdida das outras, que em devido tempo seguiram viagem. Ou mais curiosa que elas, aventurou-se numa cidade sem mapa ou Gps que lhe valha. Ou talvez seja o Jonathan Livingston Seagull, reencarnado e liberto das páginas do livro de Richard Bach.

Vê-la, faz-me sempre sorrir.

Votos de um grande domingo para ti e para a tua Hanna, com muito sol e perfume de azahar :)

Obrigada pela tua visita, veremos se na minha proxima visita o comentário não dá erro.

Beijinhos

Anónimo disse...

Palavras que entram na alma de quem as sente.

Blog a visitar assiduamente.

Bom Domingo.

Bj

Anónimo disse...

Palavras que entram na alma de quem as sente.

Blog a visitar assiduamente.

Bom Domingo.

Bj

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Licínia Quitério disse...

Bom dia, Seagul! Sem relógios, claro. Cúmplice do grande rio, compondo e recompondo a sua própria imagem de sedução e ausência, ora disponível para a foto, ora exilada por vontade numa gruta onde mora um piano por tocar.

Um beijo de Domingo.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

sim acho que tens razão...

tudo tem prazo de validade...

tens aqui um belo texto.

beij

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

a cidade que tem o rio que lhe mede o tempo !
A cidade De Lisboa !
abraço
_____________ JRMARTo

Duarte disse...

Uma vez mais me senti abraçado com os teus relatos. Talvez por andar numa certa sintonia...

Beijinhos

Alien8 disse...

E, "se uma gaivota viesse...":)

Sem relógio, claro!

Um beijo.