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Sai apressada de casa, despindo lentamente dos olhos,
as paredes e telhados da cidade.
Sem relógio, sabe pela cor do rio, o tempo que já não tem.
Veste-se de gaivota e em contemplação dorme,
de sentidos despertos.
Vigilante, talvez espere do vento,
o sonho das asas
na tela incompleta.
Ausente, do mundo dos outros,
tanto quanto lhe é possível,
em engenho e clarividência,
como se o rio já não existisse
e a outra margem
apenas fosse a névoa dos seus olhos...
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E quando a noite cai, veste de novo em abrigo, as paredes e os telhados da cidade.
Sabe há muito que todas as permutas têm prazo de validade.
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Música: Romantic Sea of Tranquility, Celtic Relaxing.
25 comentários:
Será essa sabedoria que a mantém viva, atenta e vigilante...
Beijo
gostei de te ler.
:)
"sem relógio, sabe pelo rio o tempo que já não tem" é um grande verso, que me transporta para muitas ideias similares que já tive e que, no entanto, não consegui exprimir assim... um grande beijinho, querida amiga. bom fim de semana!
Vadiagem com apetite de ausência?
Fugir do dia em direcção à noite onde o tempo está mais protegido para soprar memórias?Onde a validade ora se torna crua ora se veste de ilusão?
Com que sonhará a liberdade das gaivotas?
Bom fim de semana!
Besos!
Um autêntico fado...
Lindo!
Abraço
Já te disse que gosto das tuas palavras?
E do modo como as completas com imagens?
:))))
sabedoria adquirida. e tão bem dita...
beijos
Estas palavras tuas tem o ritmo, e a música a melancolia, do fado. Gostei muito pela cadencia que imprimes à palavra e como a cobres dum luto translúcido. Bom domínio do léxico, que me cativou.
Reconhecido, beijo-te com amizade
que a nossa amizade não tenha nuca prazo de validade!
tua palavra é doçura!!
beijinhos em ti
Dentro do leque de transportes quotidianamente percorridos
Nas transições dia/noite; indivíduo/sociedade;...
O barco é o mais capaz de nos preparar,
Com tempo e distancia em movimento,
Física e psicologicamente,
Para as travessias, transições
Do dia a dia.
No outro extremo está o metro
E claro que gostei da fotografia,
De um olhar potente de percorrer o horizonte,
esperando apenas pela chegada do seu instinto predador
para o realizar.
infelizmente esse prazo de validade não vem indicado.
quem me dera ser gaivota*
e ter prazo de validade
andava de porta em porta
vestindo de branco a cidade.**
* No masculino.
**Que já foi a cidade dessa cor. Agora é mais para o pálido...
Beijinhos e sorrisos.
É sempre aliciante ler-se uma escrita que, sem ser directa, nos leva a sentir todas as emoções que imprimiste às tuas palavras.
A palavra escrita expressando sentires...
escreves e descreves muito bem sentimentos e atmosferas...
gostei muito deste texto poético.
beijos
Voltei, mais relaxado, depois dum café e duma manzanilla, para recrear-me no como te expressas.
Palavras que deixas cair com a força existente em cada acepção, daquilo que transmitem, como o sentir da ave.
Gosto das gaivotas, mas no seu habitat, não das cidadãs, que acabam por sujar telhados e beirais.
"Sem relógio, sabe pela cor do rio, o tempo que já não tem"
Quando cheguei a México DF, o primeiro que me disse o meu amigo Filipe foi que não levasse nenhum complemento que visualmente pudesse ser atractivo para os que me vissem. No dia seguinte fez-me guardar o relógio montblanc que levava e deu-me um "celular", é o nome que lhe dão ao "telemóvel", e se me fosse roubado que me daria outro.
Beijinhos e um sorriso de satisfação
Duarte,
fui ao teu blog mas não me foi possivel deixar comentário, dava erro! :(
Quanto ao relógio, deixei de usar os meus quando me reformei. Às vezes, tenho saudades e uso, mas, mais, porque gosto de relógios, do que por necessidade.
Na realidade, sei ver através das mãos (cada mão na horiontal, representa uma hora na distância existente entre o sol e a linha do horizonte) quanto tempo falta para a noite chegar.
Ademais, a cor do próprio rio indica-nos com relativa transparencia se a tarde ainda dura ou ameaça desaparecer rápido...já são muitas tardes sem relógio :)
Só quando tenho compromissos me auxilio do relógio do telemóvel.
O que se passa no México, passa-se mais ou menos, segundo me dizem, em toda a América Latina. Relatos de roubos não faltam, infelizmente.
Eu gosto de gaivotas em qualquer lugar. Conheço uma que vive há anos, num edificio do Bairro Azul, em Lisboa. Já a fotografei. Está bem alimentada :) é bonita e de vez em quando, ainda se faz ouvir.
Julgo-a perdida das outras, que em devido tempo seguiram viagem. Ou mais curiosa que elas, aventurou-se numa cidade sem mapa ou Gps que lhe valha. Ou talvez seja o Jonathan Livingston Seagull, reencarnado e liberto das páginas do livro de Richard Bach.
Vê-la, faz-me sempre sorrir.
Votos de um grande domingo para ti e para a tua Hanna, com muito sol e perfume de azahar :)
Obrigada pela tua visita, veremos se na minha proxima visita o comentário não dá erro.
Beijinhos
Palavras que entram na alma de quem as sente.
Blog a visitar assiduamente.
Bom Domingo.
Bj
Palavras que entram na alma de quem as sente.
Blog a visitar assiduamente.
Bom Domingo.
Bj
Bom dia, Seagul! Sem relógios, claro. Cúmplice do grande rio, compondo e recompondo a sua própria imagem de sedução e ausência, ora disponível para a foto, ora exilada por vontade numa gruta onde mora um piano por tocar.
Um beijo de Domingo.
sim acho que tens razão...
tudo tem prazo de validade...
tens aqui um belo texto.
beij
a cidade que tem o rio que lhe mede o tempo !
A cidade De Lisboa !
abraço
_____________ JRMARTo
Uma vez mais me senti abraçado com os teus relatos. Talvez por andar numa certa sintonia...
Beijinhos
E, "se uma gaivota viesse...":)
Sem relógio, claro!
Um beijo.
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